A história da ópera é antiga. As primeiras foram compostas na Itália há mais de 400 anos, quando florentinos tidos como ilustres e cultos gostavam de ser entretidos com apresentações do gênero. Normalmente, textos de sagas gregas eram representados por meio de cantos acompanhados por instrumentos. Mas isso foi só o início para que muitos compositores, de todas as partes do mundo, incluindo Campinas com nosso saudoso Carlos Gomes, criassem inúmeras óperas. Muitas foram esquecidas, outras tantas continuam sendo encenadas pelos teatros. E, por mais que os tempos tenham mudado (e põe mudado nisso), as óperas encantam, conquistam e têm seu lugar garantido no universo cultural.
Entretanto, justamente por ter essa história tão antiga e complexa, entender como funcionam as óperas, desde a estrutura da composição até os argumentos e a trama, não é algo fácil. O que é uma abertura, uma ária, um dueto? O que se entende por drama lírico, libreto e fosso da orquestra? Não ter essas respostas, claro, não impede ninguém de gostar de apreciar uma apresentação. Mas tê-las pode deixar o programa ainda mais prazeroso. Afinal, quanto maior a compreensão do argumento e da música, melhor será a experiência.
O pianista e cravista austríaco Arnold Werner-Jensen sabe, porém, que conseguir a atenção do público hoje em dia, principalmente dos jovens, que desfrutam de inúmeras opções de entretenimento no mercado, é difícil, principalmente quando o assunto é ultrapassar as barreiras do palco para o conhecimento teórico. Por esse motivo, ele busca, com o livro Guia de Óperas para Jovens (Martins Fontes, 360 págs., R$ 57,50), fornecer
informações sobre tudo o que cerca a ópera, mas de forma condensada e clara. Ele debate desde os conceitos mais importantes, passando pelos quatro séculos de história, mostrando como é montada uma apresentação e como funcionam os teatros de ópera, até como trabalham as pessoas responsáveis pela concretização do espetáculo.
Mais do que isso. Ele descreve cerca de 40 óperas, entre as mais famosas apresentadas nos palcos de todo o mundo, trazendo uma visão geral sobre os personagens, seguida de uma descrição do argumento, com anotações finais sobre a música, sua criação e a importância da obra.
Como o intuito é atrair os jovens, todos os exemplos de partituras foram simplificados para serem facilmente reproduzidos, contando ainda com ilustrações explicativas do coreógrafo e figurinista Reinhard Heinrich, mostrando cenas específicas e apresentando personagens importantes em seus trajes típicos.
Tomemos como exemplo A Flauta Mágica, de Mozart (1756-1791). Além das representações dos personagens, o autor conta que Mozart, em seu último ano de vida, trabalhou nessa ópera popular em parceria com Emanuel Schikaneder, diretor de teatro da periferia de Viena. Schikaneder sabia como o público de seu teatro queria ser entretido, por isso, providenciou para que fossem usados todos os efeitos do palco. Por isso, o texto pedia passagens do dia para a noite e vice-versa, todo tipo de assombração e magia, como, por exemplo, o repentino aparecimento ou desaparecimento de pessoas, afundando no chão. Curiosidades que só fazem sentido sabendo o que estava por trás da produção da obra.
“Aqui, os dados e fatos necessários não são transmitidos de maneira sóbria e seca como de costume. As histórias parecem imaginativas e excitantes como no palco. A escolha das óperas é competente e convincente, os argumentos são narrados de forma ilustrativa e cativante, e como complemento, há exemplos de partituras simples. O livro certamente despertará nos jovens leitores – assim como nos adultos que acompanharem sua leitura, como pais, parentes e amigos – um grande interesse em conhecer a ópera”, cravou Harry Kupfer na abertura do livro, um importante diretor de ópera na cena internacional que, entre 1981 e 2002, foi diretor-chefe da conceituada Ópera Cômica de Berlim.