O pai Pedro Vito e a madrasta Camila Luiz Gomes da Silva foram capturados tentando fugir pela Rodovia Miguel Melhado de Campos (Fotos Divulgação)
Dor, comoção e indignação marcaram o velório e o enterro de Gustavo Henrique Cardoso, de 8 anos, na manhã de ontem, no cemitério municipal de Vinhedo. Gustavo foi encontrado morto com sinais de tortura em sua casa, onde vivia com o pai, a madrasta e a avó paterna, no Parque das Paineiras. O crime chocou os moradores locais e ganhou repercussão nacional, ocorrendo entre a noite de domingo e a madrugada de anteontem. Além dos sinais de tortura, a criança também apresentava desnutrição visível. Este é o segundo caso de tortura envolvendo crianças na região em pouco tempo. Em 27 de outubro, Luiz Fellipe Darulis, de 12 anos, morreu após ser agredido pelo padrasto com ripas de madeira em Monte Mor, além de ser submetido a castigos físicos por uma alegada desobediência do garoto.
Familiares de Gustavo e amigos da família acusaram o Conselho Tutelar e outros órgãos públicos de negligência, afirmando ter feito pelo menos sete denúncias anteriores sobre agressões contra o menino.
Em nota, o Conselho Tutelar declarou que recebeu denúncias anônimas sobre maus tratos e acompanhou a família com encaminhamentos apropriados, sem especificar quais. "Infelizmente fomos surpreendidos com essa fatalidade ocorrida contra Gustavo e, esclarecemos que, para que medidas como a perda da guarda fosse realizada, seria necessário que se esgotassem todas as possibilidades junto à família, sendo assim diante de tamanha negligência, daríamos continuidade comunicando o fato ao Ministério Público (MP)", frisou. "O colegiado lamenta com profundo pesar o ocorrido. Também estamos indignados, com um sentimento imensurável de profundo pesar", emendou.
A Promotoria de Justiça de Vinhedo também emitiu uma nota afirmando que não havia registros anteriores sobre o caso, mas que, diante das informações recebidas, tomou as medidas necessárias para apurar os fatos.
A Secretaria Municipal de Educação de Vinhedo informou que Gustavo não frequentava a escola havia mais de dois meses. A falta foi reportada ao Conselho Tutelar em 22 de março por e-mail. Em nota, a prefeitura disse que "até o início deste ano, professores e coordenadores da escola não observaram comportamento estranho no menino."
No entanto, a família relatou que Gustavo frequentava a escola com hematomas, marcas de corda e mordidas, mas a escola não tomou nenhuma medida a respeito.
Gustavo morava com o pai, Pedro Vitor Joseph do Prado, e a madrasta, Camila Luiz Gomes da Silva, ambos de 26 anos, o filho de Camila, de idade não informada, e a avó paterna, que tem dificuldades de locomoção, na casa que ficava à frente do terreno. Nos fundos, moravam uma tia da criança e sua filha.
As agressões que levaram à morte de Gustavo teriam ocorrido na noite de domingo, mas a criança já sofria maus-tratos e violência há muito tempo. O pai e a madrasta estavam juntos há pelo menos um ano, desde que Pedro saiu da prisão. De acordo com a família, as agressões eram motivadas pelo ciúme de Camila, que não gostava de ver o menino com o pai - ela está grávida de cinco meses - e as praticavam juntos.
Na noite do crime, a tia de Gustavo, que mora nos fundos e trabalha na área da saúde, ouviu barulhos de batidas na parede. Logo depois, o pai do menino, que também é irmão dela, pediu ajuda para ver Gustavo, que estava com lesões no rosto e dificuldades para respirar.
A mulher relatou que tentou reanimar a criança, mas não conseguiu, e o menino acabou falecendo. Ao perceber a morte do filho, o homem teria levado a mãe e a irmã para um quarto, trancando-as dentro. Na manhã seguinte, eles deixaram o local. A tia então arrombou a porta e, com a ajuda de uma irmã, foi até a delegacia em busca de ajuda. Quando a polícia chegou à residência, encontrou apenas o menino, já falecido e com lesões na pele.
O menino foi abandonado pela mãe quando ainda era um bebê e viveu com várias tias, já que o pai estava preso. Após sair da prisão, o pai obteve a guarda da criança. Segundo as tias, o menino sempre apresentava ferimentos e marcas na pele, e quando questionado, ele afirmava que não podia revelar quem o machucava.
Pedro e Camila foram presos por policiais civis em um cerco na Rodovia Miguel Melhado de Campos, em Vinhedo. De acordo com os agentes, o casal planejava fugir para o Paraná. Eles foram detidos enquanto ele pilotava uma moto e ela estava em um carro, conduzido por outra pessoa.
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