EM MENOS DE UMA HORA

RMC registra dois primeiros casos de feminicídio em 2024

Adultério, ciúme e sentimento de posse são os ingredientes de explosão de ódio contra a mulher Um pintor de 27 anos foi preso

Alenita Ramirez/ alenita.ramirez@rac.com.br
16/01/2024 às 09:13.
Atualizado em 16/01/2024 às 09:13
Pátio do posto de combustível localizado próximo ao Hospital Ouro Verde, onde a manicure de 29 anos foi assassinada pelo marido (Divulgação)

Pátio do posto de combustível localizado próximo ao Hospital Ouro Verde, onde a manicure de 29 anos foi assassinada pelo marido (Divulgação)

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) testemunhou no domingo (14) dois casos de feminicídio em menos de uma hora. Estes representam os primeiros registros de crimes de ódio contra mulheres, perpetrados pelos parceiros das vítimas nas cidades de Campinas e Holambra, no ano de 2024. Em um dos casos de violência, a motivação pareceu ser a traição da vítima, enquanto no outro, o ciúme misturado ao sentimento de posse foi apontado por familiares como fator preponderante.

Em Campinas, uma manicure de 29 anos foi brutalmente assassinada por seu esposo, um pedreiro de 36 anos, com quem compartilhou 15 anos de convivência. O crime ocorreu diante de duas amigas, sendo a vítima alvejada por pelo menos cinco tiros após uma discussão acalorada. O fatídico evento aconteceu no pátio de um posto de combustível, na Chácara Santa Letícia, no distrito do Ouro Verde, localizado a menos de 100 metros do Hospital Municipal Ouro Verde. Simultaneamente, em Holambra, uma auxiliar de produção de 31 anos foi espancada e torturada até a morte por seu parceiro, um ex-empresário do ramo de estamparia, de 59 anos. Ambos os agressores estão foragidos e são alvo de busca por parte das autoridades policiais.

O primeiro caso comunicado às autoridades foi o ocorrido contra a auxiliar de produção Vanessa Rocha Teixeira, na residência do casal no Sítio São Domingos das Palmeiras, situado no bairro Palmeiras, na divisa entre Holambra e Mogi Mirim. A vítima foi encontrada sem vida, despida e ferida em um colchão de solteiro, na sala do casal, por uma amiga do suspeito, após o ex-empresário José Roberto de Freitas Filho ligar para ela, informando que Vanessa havia sofrido uma queda no banheiro e estava inconsciente.

Segundo uma prima de Vanessa, identificada apenas como Laura, o casal compartilhava a mesma moradia há cerca de seis a sete meses, tendo se conhecido quando ela foi contratada como faxineira no apartamento dele, em Jaguariúna, quase um ano antes. Descrita como uma pessoa reservada, mas de caráter íntegro, trabalhadora e que evitava se queixar, a vítima nunca revelou o endereço nem detalhes sobre seu relacionamento com Freitas Filho para os familiares. Vale ressaltar que a moça era viúva, natural de Turmalina, em Minas Gerais, e havia se mudado para Jaguariúna há quatro anos, visando cuidar de seu ex-marido, que sofria de doença crônica.

Após o falecimento do esposo, ela residia temporariamente com a mãe em Jaguariúna, e quando a matriarca retornou à sua cidade natal, ela permaneceu na região. Foi nesse período que conheceu o ex-empresário, descrito pela amiga como alguém pacato, porém mais melancólico após a falência de sua empresa. O homem compartilhava a casa com um casal de filhos, de 13 e 12 anos, fruto de um relacionamento anterior com uma paraguaia. Além desses, havia outros filhos de dois relacionamentos anteriores ao mencionado com a paraguaia. "Ela nunca se queixou de nada, mas nos últimos meses ela começou a aparecer na empresa onde trabalhávamos de olho roxo. A gente perguntava, mas ela não falava nada", contou a prima. "Eu não conhecia o companheiro dela. Via apenas na porta da empresa, pois ele ia buscá-la sempre", acrescentou. Vanessa não era vista por primas e colegas de trabalho desde o dia 20 de dezembro, quando deixou de comparecer ao emprego. Segundo as primas, ela não compartilhava o endereço de sua residência, pois acreditavam que o parceiro não permitia. A amiga do agressor corroborou com essa versão, mencionando que ele apenas a procurava e recusava-se a divulgar o local de moradia. As primas suspeitam que, durante esse período, o exempresário manteve a auxiliar de produção em cárcere privado. Conforme a amiga do agressor e a prima da vítima, a perícia indicou perfurações nas pernas e pés da auxiliar de produção, além de ferimentos causados por faca na barriga e marcas de agressão. A perícia evidenciou que algumas dessas marcas no corpo datavam de meses. "Disseram-me que ela faleceu devido a espancamentos", revelou a prima. Foi a amiga quem solicitou assistência médica e acionou as autoridades policiais. Freitas Filho fugiu em um veículo Volkswagen Santana, e na residência do casal foram encontradas diversas armas antigas, uma vez que ele colecionava artefatos e objetos antigos adquiridos na feira hippie do Centro de Convivência em Campinas. "Estou em estado de choque. Até agora, não consigo compreender o que aconteceu. Espero por justiça", manifestou a amiga, cujo nome foi mantido em sigilo.

TRAIÇÃO No trágico episódio ocorrido em Campinas, a manicure Janaína Aparecida Meneghine Pires perdeu a vida na presença de duas amigas. Janaína e seu agressor, o pedreiro Sérgio Luiz Pires Júnior, mantinham uma união matrimonial de 15 anos e eram pais de um filho de apenas 7 anos. Segundo relatos das amigas, a manicure estava envolvida em uma relação extraconjugal, fato descoberto pelo marido, um atirador profissional (CAC). O casal residia em uma chácara no bairro São Cristóvão, na região do distrito do Ouro Verde. Minutos antes do trágico evento, uma briga entre eles resultou em agressões à manicure. Ferida, a vítima deixou a residência em seu veículo, entrando em contato com suas amigas, que a aconselharam a estacionar em um posto de combustível e aguardar por elas. Quando as amigas chegaram, o pedreiro também apareceu, indo em direção à vítima com uma arma. Mesmo com os apelos das amigas para que não atirasse e ponderasse sobre a situação, ele disparou cinco tiros de pistola, atingindo o rosto, braço direito, axila direita e duas vezes nas costas da vítima. Janaína faleceu no local, enquanto o agressor fugiu em seu veículo. O crime está sob investigação na 2ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). Até as 14h50 de domingo, os detalhes do sepultamento ainda não haviam sido finalizados. Entretanto, estava previsto que Vanessa, a vítima, seria sepultada no Cemitério de Jaguariúna.

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