No final de outubro de 2023, a Prefeitura lançou o programa "Centro Mais Seguro", que resultou na incorporação de 66 novos guardas municipais (Alessandro Torres)
O fluminense Marcos Domingos, de 57 anos, encontra-se em Campinas desfrutando de uma semana de descanso. Originário de Niterói (RJ), ele perambulava pela Rua 13 de Maio, no Centro, vestindo bermuda leve, chinelo e segurando o celular, aproveitando as comodidades típicas de um período de férias. Marcos destaca a diferença marcante em relação à sua cidade natal no estado do Rio de Janeiro, onde, segundo ele, a simples ação de caminhar pelo centro demanda extrema cautela.
"No Centro de Niterói é muito comum ver furtos, roubos, apreensões de pessoas com facas e até arma de fogo. Tem todo um cuidado que precisa ser tomado ao andar pelas ruas: evitar usar celular, caminhar por vias mais movimentadas... aqui em Campinas, acho tranquilo demais", diz Domingos.
A visão dele acerca da segurança nas ruas do Centro é partilhada por alguns campineiros que conversaram com a reportagem do Correio Popular na sexta-feira (19), mas a maioria ainda enxerga como delicada a situação da região central. Furtos e roubos dominam os medos do imaginário popular.
No final de outubro do ano passado, a Prefeitura lançou o programa "Centro Mais Seguro", uma iniciativa que resultou na incorporação de 66 novos guardas municipais, cuja atuação é estritamente focada na segurança do Centro.
Desde então, os registros da Guarda Municipal apontam que, em quase 90 dias, foram efetuadas 104 prisões em flagrante. "De 23 de outubro até o último dia 14, os guardas municipais atenderam a 3.615 ocorrências na região", revelou a corporação esta semana. No entanto, a tão desejada sensação intangível de segurança parece não alcançar clientes e comerciantes.
Um exemplo disso é o aposentado João de Oliveira, de 66 anos. "Acontecem coisas que não tem como a segurança coibir, porque o policiamento é muito pouco. Eu realmente acho que tem pouca polícia na rua. Olhe ao redor", diz apontando para a rua, "está vendo alguma polícia? Pode andar aí que não vê um".
Na tarde de sexta-feira (19), a reportagem percorreu o quadrilátero central em cerca de uma hora, abrangendo a Rua 13 de Maio e as avenidas Campos Salles, Francisco Glicério e Senador Saraiva. Durante esse período, o perímetro contava apenas com uma viatura da Guarda Municipal no calçadão e dois agentes que patrulhavam a pé, posicionados próximos à Catedral Metropolitana. A maior parte do policiamento ainda é conduzida pela Polícia Militar, que dispôs de quatro viaturas no mesmo intervalo, além de patrulhas a pé.
Na movimentada Senador Saraiva, não havia presença policial. Uma análise realizada pelo Correio Popular sobre os roubos e furtos de celulares na região central de Campinas revelou que a avenida lidera as estatísticas desses crimes de janeiro a novembro do ano passado.
Arlindo Pansani, de 79 anos, mantém uma banca no Centro há 49 anos e, atualmente, está situado no canteiro central da Senador Saraiva, devido às obras na Campos Sales. Seu estabelecimento está sem energia há quase dois anos. "Roubaram os fios, levaram tudo, absolutamente tudo. Já roubaram relógios e outros itens pequenos. Então, optei por remover os eletrônicos e trabalhar sem energia", relata o idoso.
Pansani menciona que, embora tenha passado algum tempo sem ser vítima de crimes na área, tem conhecimento de outras vítimas. Nos pontos de ônibus, não é incomum ver pessoas com celulares nas mãos. Uma mulher, flagrada pela reportagem, contava dinheiro.
A percepção de segurança no Centro, oposta à visão do fluminense Domingos, também existe e reflete a realidade para quem reside na cidade. "Estou aqui há dois anos, e não venho muito para o Centro porque tenho medo mesmo. Acho muito perigoso, muita gente passando perto, pouco policiamento, enfim, uma combinação de fatores. Evito; só venho aqui em caso de urgência", diz a jovem Debora Tamires, de 20 anos, que reside na cidade há dois anos. "Eu morava em uma cidade no interior de Minas Gerais, longe da capital, então, em termos de segurança na área central, não há como comparar. Aqui é muito perigoso", complementa.
OUTROS DADOS
Conforme o balanço divulgado pela Guarda Municipal, desde o início do programa "Centro Mais Seguro", as ações da corporação resultaram na apreensão de 3,3 kg de entorpecentes e R$ 4,4 mil em dinheiro. Além disso, foram confiscados 383 kg de fiação, recuperados 13 veículos furtados e retiradas de circulação duas armas de fogo.
A pedido, a Secretaria de Segurança Pública forneceu novos dados na sexta-feira. Segundo a pasta, uma prisão foi efetuada a cada 19 horas, e em média, foram atendidas 43 ocorrências por dia.
Entretanto, comerciantes consultados pela reportagem, que optaram por não conceder entrevista, apresentam uma perspectiva diferente. Segundo eles, após o término das festas e, consequentemente, a diminuição do movimento, a presença policial reduziu consideravelmente.
A Secretaria de Segurança alega motivos operacionais para não divulgar o total do efetivo. No entanto, a pasta prometeu a incorporação de mais 100 agentes nas ruas do Centro nos próximos meses, destacando que eles estão passando por formação na academia e serão encaminhados para o patrulhamento assim que concluírem o treinamento.
"Os números são positivos, e a Guarda Municipal continuará suas ações no Centro. A presença da GM nessas operações é de longo prazo, e estamos empenhados em aprimorar ainda mais a segurança para a população", avalia o comandante interino da Guarda Municipal, Edilson da Silva.
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