EM BARÃO GERALDO

Mais um caso de feminicídio em Campinas: o terceiro neste ano

Vítima foi assassinada a facadas pelo marido, enquanto o filho do casal, de 3 anos, dormia no quarto

Alenita Ramirez/ alenita.ramirez@rac.com.br
23/02/2023 às 10:12.
Atualizado em 23/02/2023 às 10:12
Residência em Barão Geraldo, local do crime (Alenita Ramirez)

Residência em Barão Geraldo, local do crime (Alenita Ramirez)

Uma mulher de 30 anos foi morta a facadas pelo marido durante uma discussão, na terça-feira (21) à noite, no distrito de Barão Geraldo, em Campinas. Ela foi agredida pelo companheiro na própria residência, enquanto um dos filhos do casal, de 3 anos, dormia no quarto. O agressor também ficou ferido e fugiu, mas foi preso em flagrante quando recebia atendimento no Hospital de Paulínia. O caso foi registrado como feminicídio na 2ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). 

Este é o terceiro crime deste tipo na cidade este ano e o segundo na mesma região. A Polícia Civil vai investigar a motivação. Amigos e parentes relataram que não havia brigas entre os dois, mas há informações de que ela havia pedido a separação. O homem tinha retornado de uma viagem a Sergipe na última segunda-feira, onde mora a família dele.

O casal foi encontrado caído e ensanguentado na cozinha por um compadre. A partir da cena do crime, é possível deduzir que Roberta Rodrigues dos Santos Correia e Cleverson da Silva Correia, de 39 anos, entraram em luta corporal. No boletim de ocorrência, registrado na 2ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), não menciona o número de ferimentos na vítima e no agressor, mas vizinhos contaram que Roberta levou vários golpes no corpo e morreu antes mesmo da chegada do socorro médico.

Cleverson também estava ferido e foi ele quem chamou o compadre, que mora em uma casa vizinha à dele, pelo WhatsApp. Na mensagem, Cleverson confessou que havia assassinado a mulher e precisava de ajuda para tirar o filho do imóvel. “Eu estava na igreja e tinha deixado meu filho de 2 anos com meu marido (compadre de nome Rafael). Quando cheguei em casa, ela estava toda aberta e com a TV ligada, sem ninguém. Comecei a gritar, porque achei que tivesse matado meu filho. Então, corri até a casa da Roberta e vi que meu marido e um amigo nosso estavam lá, tentando socorrer a Roberta. Havia sangue por todo o lugar”, contou a mulher, que não quis ser identificada e chegou quando Cleverson já tinha fugido. 

Ele se aproveitou que o compadre levou a criança para a casa de um vizinho e fugiu. Não se sabe como ele deixou o imóvel, uma vez que estava ferido.

Roberta e Cleverson, agricultores, moravam em uma chácara no bairro Piracambaia 1, na região do Vale das Garças, em Barão Geraldo, com os filhos e a mãe dela. De acordo com conhecidos, Roberta é de Alagoas e estava casada com Cleverson há ao menos 12 anos. 

A filha mais velha deles, uma menina de 10 anos, estava com a avó materna em Alagoas. Na chácara há porcos, galinhas e vacas e Roberta produzia queijos, os quais vendia em um comércio improvisado na frente do imóvel. 

Cleverson era gerente de uma fazenda entre o distrito de Sousas e Pedreira e passava a maior parte do tempo no trabalho. “Ela nunca se queixou de nada. Aparentemente, não brigavam. A gente não consegue entender o que aconteceu. Ele havia viajado com o filho e estava tudo bem”, disse a tia de Roberto, Robéria Pereira, de 47 anos. 

O casal morava no local há cerca de oito anos, segundo a tia. No quintal do imóvel havia muita roupa jogada e ferramentas. Debaixo do corpo da vítima foram encontradas duas facas de mesa. A Polícia Técnico-Científica teria apreendido outras facas. 

“Ele era um ótimo pai e sabia que podia contar com a Roberta para tudo. Os dois eram muito trabalhadores. Pelas marcas de sangue na casa dá para ver que ela lutou muito com ele para se defender. É muito triste tudo isso, mas apesar de ele ter sido um bom pai e uma boa pessoa, o que ele fez com a Roberta fez tudo isso cair por terra. Queremos justiça! Que ele pague pelo que fez!”, desabafou Rosimeire Aparecida Inácio, que se identificou como “amiga-irmã”.

Ainda na manhã de quarta-feira (22), os amigos e parentes tentavam compreender o que tinha acontecido e ajudaram a limpar o imóvel. Um dos parentes cogitava levar o corpo da vítima para a cidade natal dela, Pão de Açúcar, no Alagoas, onde estava a mãe e a filha dela, em férias. 

Segundo a Prefeitura de Paulínia, Cleverson seguia internado, acompanhado de escolta policial, e seu estado de saúde é estável. 

No tanquinho

Na tarde do dia 1º de janeiro, Regina Lima da Silva Costa, de 40 anos, foi assassinada pelo marido, Wagner Roberto Cândido da Costa, de 48 anos. O crime aconteceu na casa do casal, no bairro Chácara Santa Margarida, em Barão Geraldo e cerca de meia hora depois que os pais da vítima haviam deixado a casa do casal, onde participaram de um almoço de confraternização. 

Costa matou Regina na frente do filho de 6 anos e ficou no local até a madrugada do dia 2, quando decidiu fugir com a criança, sendo detido pela Polícia Militar (PM). O corpo da mulher estava dentro do tanquinho de lavar roupas e foi encontrado pela irmã, depois que o autor do crime a avisou sobre o ocorrido. Segundo a família e os vizinhos, Regina vivia um ciclo de agressão há 12 anos, mas não denunciava o marido porque ele ameaçava matar os pais dela. 

No dia 12 de janeiro, uma mulher de 38 anos foi morta a facadas pelo marido, de 34 anos, na casa do casal, no bairro Jd. Eulina. Ele tentou cometer suicídio com veneno, mas acionou o Corpo de Bombeiros antes de ingerir a substância. Ele foi socorrido e justificou o homicídio dizendo que a companheira era viciada em crack e discutiam muito.

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