TRAGÉDIA NO CAMPO BELO

Jovem estupra e mata menina de 10 anos com 24 facadas

Tio da vítima foi confundido com o verdadeiro assassino e espancado por uma multidão enfurecida

Alenita Ramirez/alenita.ramirez@rac.com.br
29/11/2024 às 15:47.
Atualizado em 29/11/2024 às 15:47
Residência na Rua 2 do bairro Cidade Singer 1, região do Campo Belo, subúrbio de Campinas, onde a menina de 10 anos foi assassinada (Rodrigo Zanotto)

Residência na Rua 2 do bairro Cidade Singer 1, região do Campo Belo, subúrbio de Campinas, onde a menina de 10 anos foi assassinada (Rodrigo Zanotto)

Um crime brutal chocou Campinas e revoltou os moradores da região do Campo Belo. Uma menina de 10 anos foi estuprada e assassinada com pelo menos 24 facadas por um adolescente de 17 anos, amigo de seu irmão. O agressor fugiu, mas foi localizado horas depois em sua residência. A tragédia foi agravada quando o tio da vítima, de 32 anos, foi confundido com o assassino e espancado por uma multidão enfurecida, sendo socorrido em estado grave e internado no Hospital Ouro Verde. Adaíza dos Santos Ferreira, tia de Raiane Vitória da Silva, a vítima, lamentou: "Já tínhamos perdido uma pessoa querida e por pouco quase perdemos duas pessoas no mesmo dia". 

Esta sequência trágica teve início por volta das 18h, em uma residência humilde na Rua 2 do bairro Cidade Singer 1, região do Campo Belo, subúrbio de Campinas. Naquele fatídico dia, a mãe da vítima, Cheila Maria Dos Santos Ferreira, técnica de enfermagem, decidiu cobrir o plantão de uma colega para folgar no sábado seguinte e participar de um evento em sua igreja. 

Mãe de três filhos - uma jovem de 21 anos, um adolescente de 17 e Raiane de 10 - e grávida de quatro meses, Cheila havia recentemente mudado seu turno de trabalho para as manhãs. Normalmente, quando ausente, ela contratava uma babá vizinha para cuidar de Raiane, carinhosamente chamada de "princesa". No entanto, naquele dia, Cheila avisou apenas Raiane que chegaria mais tarde e que ela deveria ficar com a babá, esquecendo-se de informar o filho. Adaíza explicou: "Meus sobrinhos são muito obedientes à mãe. Como ele não foi avisado de que a irmã deveria ficar na casa da babá, ele determinou que Raiane ficasse em casa esperando pela mãe". 

Raiane, aluna da 4ª série, frequentava o período matutino em uma escola no bairro Nova América, utilizando o transporte fretado da Prefeitura. À tarde, participava de um projeto social da Igreja Católica próximo à sua residência, a cerca de três quadras de distância. O trajeto até a ONG era feito na companhia do irmão. A tia relatou: "O irmão foi buscá-la por volta das 17h30, e ela mencionou que iria para a casa da babá, mas ele a instruiu a permanecer em casa, conforme orientação da mãe". 

Segundo a cuidadora de idosos, o sobrinho costumava passar as tardes jogando videogame com os amigos. Naquele dia, o agressor, como de costume, visitou a residência da família. Por volta das 18h, ele foi a um bar comprar cigarros, retornou e acompanhou o irmão da vítima até o ponto de ônibus. O adolescente frequentava uma escola noturna, também no bairro Nova América. 

Adaiza narrou, emocionada: "Ele (o assassino) retornou à casa da minha irmã, pulou o muro e atacou minha sobrinha, que estava sozinha. Minha irmã sempre a aconselhava: 'nunca deixe ninguém tocar no seu corpo', e acredito que nossa princesinha tentou se proteger". Ela acrescentou: "Ela era um anjinho, muito querida por todos". 

O criminoso utilizou uma faca da própria casa para ameaçar e assassinar a criança. Raiane estava em uma edícula nos fundos do terreno e tentou escapar, entrando na casa em construção na parte frontal. O corpo foi encontrado seminu, com múltiplas facadas, pela mãe, que chegou por volta das 20h. Adaiza mencionou que a menina tinha o hábito de se esconder, e a mãe a localizou com a ajuda do cachorro da família. "Minha irmã está em estado de choque", concluiu. 

AGRESSÃO 

O tio de Raiane, ao ser informado sobre o crime, dirigiu-se à residência da família. Infelizmente, foi confundido com o autor do assassinato e severamente agredido pela população enfurecida. Adaiza explicou a origem do mal-entendido: "Antes do assassino invadir a casa pelo muro, meu irmão foi até o imóvel para falar com a irmã, mas o portão estava trancado e ele retornou para sua casa no bairro Palmeiras. Uma câmera na rua registrou essa ação do meu irmão". 

A cuidadora continuou: "Quando a polícia analisou as imagens, a primeira pessoa vista forçando o portão foi meu irmão. Mas, na realidade, ele não era o assassino". Este equívoco só foi esclarecido após o irmão da vítima ser liberado da escola, por volta das 21h30, e questionado pelos policiais. 

O irmão da vítima forneceu informações sobre seu colega, levando os policiais ao endereço do verdadeiro criminoso. O adolescente, que completou 17 anos no dia seguinte ao crime, confessou o ato bárbaro, embora não tenha revelado o motivo. Ele foi apreendido e encaminhado a um centro socioeducativo na tarde seguinte. 

O caso foi registrado no plantão da 2ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) como ato infracional de feminicídio e estupro. Com este incidente, o número de feminicídios em Campinas neste ano subiu para oito.

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