Agentes do Ibama recolhem os aracnídeos, que foram encaminhados para um ambiente adequado (Divulgaçãso PF)
A Polícia Federal, em ação conjunta com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), apreendeu cerca de 400 animais exóticos na manhã de ontem, em uma residência no bairro Residencial Novo Mundo, na região do distrito Campo Grande, em Campinas. A operação, denominada "Arachne", é resultado de uma investigação iniciada em outubro do ano passado para apurar a criação, venda e exportação ilegal de animais da fauna silvestre por um morador da cidade.
A investigação teve início após a retenção, em um centro de distribuição dos Correios, de uma encomenda destinada à Alemanha, no dia 5 de outubro do ano passado. Na ocasião, foram encontradas 73 aranhas do grupo Araneae, da família Theraphosidae, sendo 43 delas do gênero Avicularia. Segundo a Polícia Federal, a exportação dos animais foi realizada sem a devida licença do Ibama e em condições degradantes, com os aracnídeos acondicionados em uma caixa de papelão e distribuídos em pequenos frascos plásticos sem alimentos.
Após a apreensão, os aracnídeos foram encaminhados ao Ibama, que os transferiu para um ambiente adequado. Os policiais federais então passaram a investigar para identificar o remetente dos animais, um homem de 46 anos. Com a identificação do suspeito, equipes dos dois órgãos federais foram até o imóvel dele na manhã de ontem. Entre os animais localizados estavam aranhas de variados tamanhos e cores, escorpiões, lacraias, um lagarto exótico e um papagaio.
Para manter os animais em cativeiro, o investigado contava com uma megaestrutura no imóvel. Quase todos os "pets" tinham informações na embalagem, fossem aquários ou caixas, sobre o sexo dos animais.
Segundo as investigações, o homem tinha grande interesse pela criação em cativeiro e aprendeu a reproduzir os animais. Ele alegou que a criação era um hobby. O investigado foi detido e levado para a Delegacia da Polícia Federal no bairro Botafogo, onde prestou depoimento. Ele responderá em liberdade pelos crimes de venda e exportação de animais da fauna silvestre sem a devida licença e também enfrentará um processo administrativo junto ao Ibama, além de ter sido multado em mais de R$ 400 mil.
De acordo com os agentes, as aranhas exóticas e outros animais que não são da fauna brasileira serão encaminhados para o Instituto Butantan, na capital. Já os animais da fauna brasileira serão enviados a centros de reabilitação de animais silvestres da região.
PETS DÓCEIS
O médico veterinário e especialista em animais silvestres, Diogo Siqueira, explicou que as aranhas Araneae, ou tarântulas, podem ser nativas do Brasil e são as únicas espécies permitidas para criação em cativeiro, desde que legalizadas. Segundo ele, as aracnídeas tendem a aceitar bem o manuseio e são dóceis. "Há pessoas que gostam desses animais e os criam como pets, assim como cobras e coelhos. No entanto, a compra deve ser legalizada", afirmou Siqueira.
Ele destacou que as caranguejeiras chamam a atenção por serem as maiores aranhas existentes. A reprodução delas requer um macho e uma fêmea, além de algumas adequações no ambiente. Elas são carnívoras e se alimentam de insetos e pequenos roedores. "Não é caro criar essa aranha. Elas costumam se alimentar duas vezes por semana, com filhotes de camundongo ou insetos. O custo mensal não passa de R$ 15 a R$ 20. O que custa mais é montar o aquário de vidro ou plástico, com galhos, substrato adequado, aquecimento e umidade. Isso dá mais trabalho", comentou o especialista.
Para quem deseja criar uma aranha, Siqueira orienta que o primeiro passo é entrar em contato com a Secretaria do Meio Ambiente para obter as autorizações necessárias. O segundo ponto é se informar sobre a espécie, suas características, hábitos e como montar um terrário adequado, com aquecimento e umidade. "Tudo isso interfere diretamente na qualidade de vida desses animais e na sua reprodução", frisou.
O especialista ainda destacou que essas aranhas podem causar acidentes, como picadas, mas o veneno delas não é prejudicial aos seres humanos. "Elas soltam pelos urticantes do abdômen quando se sentem ameaçadas, causando coceira e irritação na pele. No entanto, são animais dóceis que aceitam bem o manuseio", concluiu.