Branquinha, uma cadela de apenas três anos, apareceu com uma mão carbonizada em sua boca
Depois que cadela Branquinha apareceu com uma mão carbonizada em sua boca, foi a vez do cachorro Pretinho (foto) achar um braço humano (Rodrigo Zanotto)
Em uma trama digna dos mais sombrios thrillers, dois cães vira-latas trouxeram à tona um enigma macabro que deixou a Polícia Civil de Paulínia em estado de alerta. Numa dança entre vida e morte, estes Sherlocks de quatro patas, habitantes de um humilde lava-rápido no Bairro Betel, tornaram-se os protagonistas de um conto de horror moderno. Num dia aparentemente comum, a pacata rotina do lava-rápido foi brutalmente interrompida. Branquinha, uma cadela de três anos com olhos que pareciam guardar segredos insondáveis, emergiu da mata adjacente. Em sua boca, não um galho ou uma bola, mas um testemunho grotesco da mortalidade humana: uma mão carbonizada.
Entre idas e vindas, os cães encontraram ossadas humanas, que levaram um eletricista, funcionário do estabelecimento, e a polícia a acharem outros restos mortais em estado avançado de decomposição. A sinistra caça dos cãezinhos aconteceu entre o final de outubro e o início deste mês, mas em razão das chuvas dos últimos dias, a polícia teve que interromper as buscas.
O primeiro membro a ser encontrado foi a mão carbonizada, descoberta pela vira-lata Branquinha. A cadela e mais outros três cachorros vivem no lava-rápido de Sandro Miguel Camargo. A cadela chegou com a mão na boca, entre 9h e 10h da quarta-feira da semana passada, acreditando que poderia comê-la. "Como Branquinha pegou a doença do carrapato e eu gastei R$ 1 mil com ela, não queria que ela comesse qualquer coisa. Então falei para um funcionário: 'Vai lá e tira isso dela porque ela está com alguma coisa na boca'. Quando o funcionário viu, era uma mão humana", contou Camargo.
Imediatamente, Camargo acionou a polícia, que compareceu ao local e coletou o membro para análise. Foram realizadas algumas buscas iniciais, mas nada mais foi encontrado naquele momento. Os dias que se seguiram foram como atos de uma ópera macabra.
Pretinho, o cão de pelagem escura como a noite, entrou em cena, trazendo consigo um braço humano, como se fosse um troféu mórbido. O eletricista do local, agora um detetive relutante neste drama, seguiu os passos caninos até encontrar um pé solitário, perdido na vegetação densa. A mata, antes um local de refúgio para os cães, transformou-se num palco de horrores. Cada novo achado era como uma peça de um quebra-cabeça diabólico, desafiando a sanidade dos envolvidos e a competência das autoridades. Pretinho, com aproximadamente cinco anos, assim como os demais cães, não tem tutor oficial e foi abandonado na rua. O microempresário e seus funcionários passaram a cuidar dos animais, oferecendo alimentação e abrigo. "Eles passam o dia aqui no lava-rápido e no pátio de estacionamento dos caminhões", explicou Camargo.
Segundo Camargo, dias antes da descoberta da mão por Branquinha, houve um incêndio na área de mata. Na época, o clima estava quente e a vegetação bastante seca. Os moradores e trabalhadores próximos ao local não suspeitaram de nada incomum, mas agora as especulações entre eles sugerem que alguém possa ter descartado um corpo na área e ateado fogo para destruir evidências. "O pessoal também pensa que pode ser de algum andarilho que estava dormindo no meio do mato e morreu e o corpo queimou com o incêndio. Cada um fala uma coisa", comentou Camargo.
A proximidade da rodovia aos fundos dos barracões reforça a hipótese de que pelo menos um corpo humano possa ter sido descartado na área. Até o momento, não foi possível determinar se os restos mortais pertencem a um homem ou a uma mulher. Além de um braço, uma mão e um pé, também foram encontradas as duas pernas e um membro que pode ser a clavícula ou parte do quadril.
Os policiais civis realizaram buscas integradas com a Polícia Militar (PM) e a Guarda Municipal (GM), contando com o apoio do Canil da GM. No entanto, devido à vegetação alta na área, o delegado Roney de Carvalho Barbosa Lima planeja solicitar à prefeitura que realize a roçagem do terreno para facilitar as investigações.
Todos os restos mortais foram encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) para análise e possível identificação da vítima. "Foi realizada a perícia no local e solicitamos uma análise mais detalhada do material em São Paulo. Será feita a coleta de material genético e estamos cruzando informações com casos registrados de pessoas desaparecidas", explicou o delegado. Lima informou que, nos últimos meses, pelo menos cinco casos de desaparecimentos estão sendo investigados pelo Setor de Investigações Gerais (SIG) da unidade. "Por enquanto, tratamos o caso como morte suspeita, mas as possibilidades incluem homicídio, morte acidental ou natural", comentou o delegado.
O mistério dos restos mortais de Paulínia permanece, um lembrete sombrio de que, às vezes, os segredos mais obscuros são revelados não pelos olhos dos homens, mas pelo instinto infalível de nossos companheiros de quatro patas. E enquanto a investigação continua, uma pergunta paira no ar como um sussurro fantasmagórico: que outros segredos macabros a mata ainda esconde?
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