TRISTE ESTATÍSTICA

Campinas fechou 2023 com seis vítimas de feminicídio

Roberta, do DIC 1, foi a sexta mulher que perdeu a vida para a intolerância e ódio no ano passado

Alenita Ramirez/ alenita.ramirez@rac.com.br
03/01/2024 às 09:12.
Atualizado em 03/01/2024 às 09:12
Residência de Roberta Cristina Bueno Prata, cujo corpo foi encontrado envolto em uma coberta (Alenita Ramirez)

Residência de Roberta Cristina Bueno Prata, cujo corpo foi encontrado envolto em uma coberta (Alenita Ramirez)

Campinas encerrou o ano de 2023 com um total de seis casos de feminicídios, um a menos em comparação com o ano anterior, quando o município enfrentou um aumento significativo nesse tipo de crime. O último assassinato de uma mulher, decorrente de violência doméstica, foi revelado pela polícia no penúltimo dia do ano, no DIC 1, localizado na região do distrito Ouro Verde. Moradores de um cortiço notaram um odor desagradável no quintal e, ao abrir a porta de uma residência, depararam-se com o corpo de Roberta Cristina Bueno Prata, de 35 anos, uma faxineira, envolto em uma coberta.

O principal suspeito, exmarido da vítima, se entregou à Polícia Civil na madrugada do último dia, confessando o crime. A Justiça decretou sua prisão temporária por 30 dias. O homem, um ajudante de pedreiro de 30 anos, demonstrava não aceitar o término do relacionamento e, dias antes, havia flagrado a faxineira na companhia de um suposto namorado.

Roberta estava separada do ex-companheiro há pelo menos três meses e vivia sozinha. Segundo relatos dos vizinhos, mesmo após a separação, Vinicius Ferreira Galles Notaro, servente de pedreiro, continuava frequentando a casa dela. O ex-casal possuía um filho de oito anos, que residia com os avós no Jardim Flamboyant. A vítima também era mãe de uma filha de 16 anos, fruto de outro relacionamento, e avó de um bebê.

De acordo com testemunhos dos vizinhos, alguns dias antes do trágico desfecho, Roberta teria recebido a visita de um rapaz em sua residência. Durante a presença do visitante, o servente de pedreiro apareceu, dando início a uma discussão entre o excasal. O "colega" eventualmente partiu, deixando a faxineira e o ajudante de servente a sós. "A única coisa que ouvi foi ela dizendo ao ex-marido que o homem era apenas um colega. Eles não costumavam brigar, aliás, raramente os ouvia discutindo", relatou Manoel Antônio de Jesus, aposentado de 64 anos. "A Roberta era uma pessoa muito amigável e se dava bem com todos", acrescentou.

Durante o final de semana do feriado de Natal, a faxineira teria celebrado as festas em uma chácara de parentes, acompanhada do ex-companheiro, e relatos sugerem que ambos se envolveram em intensas discussões. A última vez que os vizinhos avistaram Roberta foi na quarta-feira, dia 27. Nesse mesmo dia, Notaro também estava presente na residência. A faxineira, ao lavar roupas e interagir com conhecidos, não demonstrou indícios de problemas entre o ex-casal. Contudo, segundo informações dos moradores, o servente de pedreiro era conhecido por seu consumo de drogas.

"À noite, fomos dormir, e como nossa casa é contígua à dela, ouvimos algumas vozes, mas posteriormente tudo ficou silencioso. Ninguém percebeu nada", relatou o aposentado. Roberta foi vítima de estrangulamento, e seu corpo foi envolto em uma coberta, deixando apenas os pés expostos. Dado que a residência não possuía laje e era coberta com telhas de amianto, o corpo entrou em processo de decomposição, exalando um odor desagradável. O casal de aposentados despertou no sábado com a intensidade do mau cheiro, inicialmente atribuindo-o às roupas na máquina de lavar da vítima. No entanto, ao notarem moscas saindo da janela da sala, o aposentado decidiu abrir a porta e deparou-se com a trágica descoberta da vítima sem vida.

Segundo relatos dos vizinhos, o servente de pedreira não aceitava o fim do relacionamento. Na madrugada seguinte, ele procurou a 2ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) e confessou o crime, alegando ameaças de morte como motivação para sua rendição. Uma vez que o flagrante não era mais possível, o delegado plantonista solicitou à Justiça a prisão temporária do ex-companheiro da vítima, pedido que foi acatado pelas autoridades judiciais.

OUTROS CASOS

O ano de 2023 em Campinas foi marcado por tragédias que evidenciaram a persistência do feminicídio. Regina Lima da Silva Costa, de 40 anos, tornou-se a primeira vítima desse crime na cidade. Ela foi brutalmente assassinada a facadas e marteladas pelo próprio marido, com seu corpo posteriormente encontrado dentro de um tanquinho de lavar roupas, na residência do casal, localizada no distrito de Barão Geraldo, em 2 de janeiro. O agressor foi detido e admitiu a autoria do crime.

No dia 12 de janeiro, Georgeliana de Lima, 38 anos, foi vítima de feminicídio, morta pelo companheiro no Jardim Eulina. O registro da ocorrência aponta que o homem alegou ter discutido com a vítima sobre o consumo de drogas enquanto ele estava no trabalho. Durante o desentendimento, ele empunhou uma faca, ferindo Georgeliana, e posteriormente solicitou socorro ao Corpo de Bombeiros, pois havia ingerido veneno. Ele foi socorrido e detido em flagrante.

Em 21 de fevereiro, Roberta Rodrigues dos Santos Correia, 30 anos, foi assassinada a facadas por Cleverson da Silva Correia, 39 anos, no distrito de Barão Geraldo. A vítima sofreu agressões do companheiro em casa, enquanto um dos filhos do casal dormia em outro cômodo. Uma amiga relatou que a vítima havia solicitado o divórcio.

Dalila Mosciati, 37 anos, foi encontrada morta com sinais de estrangulamento quando seu marido, Eduardo Vieira Cintra, a levou ao hospital Samaritano em 17 de maio. Após deixá-la no hospital, Eduardo retornou para casa para trocar de roupa e foi preso em flagrante. Parentes da vítima afirmaram que Eduardo enfrentava problemas com drogas e vivia uma situação de frustração financeira.

No mesmo mês, em 22 de maio, Fabiana Alves Gastardão, 43 anos, foi vítima de feminicídio, sofrendo golpes de faca e martelo desferidos pelo ex-companheiro no Jardim Aeroporto. O agressor, em seguida, cometeu suicídio. A vítima possuía uma medida protetiva contra o ex-companheiro, em decorrência de agressões. Familiares relataram que o casal, unido por 25 anos, havia se separado um mês antes, mas ele não aceitava o término do relacionamento.

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