À época da denúncia, o sacerdote servia na Basílica Nossa Senhora do Carmo, localizada no Centro (Divulgação)
O arcebispo Metropolitano de Campinas, Dom João Inácio Müller, determinou nesta semana o afastamento do padre Silvio Sade Tesche, de 72 anos, e a abertura de um processo investigativo interno para apurar uma denúncia de injúria racial cometida pelo sacerdote. O caso ocorreu no final de outubro do ano passado, quando o padre teria dirigido ofensas raciais a uma recepcionista de 23 anos que trabalhava em uma agência bancária no bairro Nova Campinas. O sacerdote já havia sido denunciado anteriormente por um manobrista do estacionamento da mesma agência bancária. Nessa ocasião, o manobrista relatou ter sido empurrado e xingado de "petista" pelo vigário. Além de padre, Tesche também é advogado.
Em nota, o arcebispo mencionou que foram encontrados indícios de veracidade na denúncia apresentada contra o Reverendo Pe. Sílvio Sade Tesche, membro do clero dicesano, relacionados a uma suposta ação incompatível com seu estado de vida, conforme o ex.can.1399, do Código de Direito Canônico. Isso foi registrado em um decreto publicado no dia 18. "A Arquidiocese de Campinas informa que o Padre Silvio Sade Tesche está impedido de, validamente, exercer seu ministério, devendo responder pessoalmente por seus atos no fórum eclesiástico e civil. Iluminada pelas Palavras do Evangelho, a Igreja refuta qualquer tipo de discriminação", informou a Arquidiocese por nota.
Enquanto o processo administrativo estiver em andamento, o Pe. Tesche permanecerá afastado de suas funções. O caso também foi investigado pela Polícia Civil, que concluiu o inquérito em junho deste ano e o encaminhou ao Ministério Público (MP) no dia 13 do mesmo mês. O Correio Popular tentou entrar em contato com o padre, porém, não obteve êxito. À época da denúncia, o sacerdote servia na Basílica Nossa Senhora do Carmo, localizada no Centro de Campinas, e após o ocorrido, ele tirou uma espécie de licença ou férias.
O caso veio à tona quando a vítima procurou o 13º Distrito Policial (DP) em novembro de 2022. Segundo o relato, o vigário, que não estava trajando sua vestimenta religiosa tradicional, proferiu ofensas à recepcionista, chamando-a de burra, neguinha, mula e menosprezando sua capacidade. Além disso, o presbítero também dirigiu injúrias à chefe da recepcionista na mesma ocasião. A recepcionista, cuja identidade foi preservada, relatou que trabalhava na agência bancária há aproximadamente um mês e sua função consistia em receber os clientes e encaminhá-los para os serviços solicitados.
O primeiro ataque ocorreu no dia 25 de outubro, quando o padre interrompeu o atendimento que ela estava realizando para pedir que ela lhe trouxesse café. Ao recusar o pedido, a vítima explicou que não era sua responsabilidade servir café e sugeriu que ele mesmo o fizesse na máquina disponível. Em resposta, o vigário passou a fazer outros questionamentos à jovem, os quais ela não soube responder, levando-o a insultála, chamando-a de burra e que não prestava para nada.
No dia seguinte, próximo do horário de fechamento do banco, o padre retornou visivelmente irritado e solicitou falar com a gerente. Entretanto, a recepcionista pediu que aguardasse, pois a gerente estava ocupada atendendo outro cliente. A resposta pareceu não agradar o vigário, que começou a proferir xingamentos à funcionária em voz alta, usando termos ofensivos como "negrinha" e "mula". Surpreendentemente, até a própria gerente de atendimento também foi alvo dos ataques do padre, que a chamou de "burra, incompetente e bossal" e que ela estava "no bico do corvo".