Tecnologia foi desenvolvida por estudante da universidade e está disponível nas lojas de aplicativos
O estudante de medicina, Vitor Motta Cabello dos Santos, mostra o app que ele desenvolveu para mapear as áreas de risco de assalto na Unicamp (Kamá Ribeiro)
Crimes que acontecem no entorno e dentro do campus da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no distrito de Barão Geraldo, estão sendo mapeados por estudantes, professores e funcionários. A cartografização das ocorrências não tem valor jurídico e nem substitui o boletim de ocorrência, mas foi criada como apoio para orientar e alertar os usuários da universidade e de espaços e serviços nas imediações sobre os principais locais com incidências de crimes como roubos e furtos. A estatística é disponibilizada no aplicativo "Conta Pra Nós", disponível no playstore de aparelhos Android e em andamento para liberação nas próximas semanas, para o Apple Store.
O APP foi desenvolvido pelo estudante do 6º ano de medicina, Vitor Motta Cabello dos Santos, de 25 anos, que ficou em segundo lugar na Hackathon, uma competição de programação promovida em dezembro pelo Fundo Patrimonial da Unicamp. A proposta do evento foi estimular os competidores a desenvolver um aplicativo que complementasse a infraestrutura da Universidade.
"Muitos alunos do campi têm aulas à noite ou precisam se locomover pelo bairro no período noturno, então um app que mostrasse áreas mais seguras para o percurso pareceu uma boa ideia para trabalharmos no hackaton. Além disso, a proposta também é fornecer transparência de crimes para a comunidade acadêmica", explicou Cabello, que é formado em técnico de informática.
Segundo o futuro psiquiatra, a ferramenta funciona por meio de um mapa de calor que indica as áreas mais perigosas da localidade. Na prática, se a pessoa relata que foi furtada ou roubada no Bandejão, por exemplo, aquela região vai ficar com uma mancha verde. Quanto mais pessoas relatarem terem sido furtadas perto do restaurante, maior será a mancha e com cores mais vivas ela ficará. O mapa de calor é a representação gráfica do número de ocorrências relatadas na região pelos usuários. O verde indica poucas ocorrências. E conforme aumenta a tonalidade, mais ocorrências. O amarelo indica que o local tem muitas ocorrências e é grave. O vermelho é muito grave mesmo. "Ele funciona por feedback de usuários e auxilia os alunos a se locomover", explicou.
De acordo com o estudante, qualquer pessoa pode baixar o aplicativo no endereço https://play.google.com/store/apps/details?id=com.cabello.ontapranos, que é gratuito, mas a denúncia só pode ser feita por pessoas ligadas a instituição, que tenham e-mail corporativo da Unicamp. Porém, se alguém for vítima e procurar um conhecido que faz parte da universidade, também vale.
Desde o lançamento do APP, há um mês, já foram registradas 30 denúncias e cadastrados 150 usuários, sem contar que cerca de 500 pessoas baixaram o aplicativo. "As ocorrências registradas estão bem espalhadas. A maior parte em avenidas e ruas adjacentes e nas principais entradas da Unicamp", contou.
Furto
Natural de Bauru, o futuro psiquiatra se formou em técnico em informática pelo Colégio Técnico Industrial "Prof. Isaac Portal Roldán", no Câmpus de Bauru. Em 2018, Cabello veio morar em Barão Geraldo para cursar medicina na Unicamp.
Além de ser especialista em informática, o jovem decidiu participar da competição depois de uma experiência que passou em 2019, dentro do campus da Unicamp. Na época, bandidos estouraram o vido do carro dele e furtou sua mochila com o notebook. "Tenho a informática como hobby. Como há muitos relatos de estudantes sobre roubos e furtos, decidi participar da competição e criei o aplicativo. O projeto contou com dois mentores que ajudaram na escolha do nome do aplicativo", comentou. "Usando o aplicativo, você consegue chegar de um ponto A até um ponto B por rotas mais seguras", frisou. "Como ele foi desenvolvido durante um hackaton da Unicamp e foi feito para a comunidade da Unicamp, nunca tive pretensão de expandir o projeto mais do que isso. O propósito dele é ser uma ferramenta para esta comunidade no futuro", destacou.
Ocorrências
Em 2022, a Polícia Militar (PM) registrou diversas ocorrências sobre furtos em interiores de veículos estacionados em áreas no entorno do campus. Também foram feitas diversas prisões de criminosos inclusive em dois deles, um criminoso foi pego duas vezes praticando a mesma modalidade de crime. Em algumas ações, o bandido foi filmado por câmeras de vigilância de comércios locais.
Em um dos casos, os criminosos usavam uma espécie de caneta para tirar o vidro sem causar danos ao carro e ao vidro e depois pegavam objetos de valores. A polícia chegou a recuperar diversos objetos de vítimas.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), em 2022 foram registrados 226 roubos em geral, 123 roubos de carros, 1.058 de furtos em geral e 162 de veículos. Esses números são maiores dos que os registrados em 2021. Respectivamente, foram contabilizados 196, 52, 759 e 143.
SVC
A segurança de alunos, colaboradores e usuários da Unicamp é coordenada pela Secretaria de Vivência nos Campis (SVC). Entre os serviços implantados constam a escolta para quem se locomove em área e horários noturnos que considere de risco.
Também existe o "Botão de Pânico", lançado em outubro de 2015 e dá a possibilidade da comunidade da Universidade registrar ocorrências dentro do campus da Unicamp, Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA), Moradia e Lume Teatro. O aplicativo também pode ser usado por usuários fora do Campus. Nesses casos, a ferramenta oferece a opção de contatar a Polícia Militar.
Outro serviço na área é a parceria com a Central Integrada de Monitoramento de Campinas (CIMCamp), com câmeras instaladas nas portarias do campus de Barão Geraldo e controlam a entrada e saída de veículos.