DENGUE

Estratégia de combate ao Aedes com larvicida vira política nacional

Objetivo é reduzir população de insetos, sobretudo em grandes cidades

Do Correio.com
10/07/2024 às 07:44.
Atualizado em 10/07/2024 às 10:10

(Kamá Ribeiro)

O Ministério da Saúde editou nota informativa estabelecendo um fluxo para a expansão da estratégia criada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para combate ao mosquito Aedes aegypti, vetor de arborviroses como dengue, zika e chikungunya. A expectativa é de que a conversão da medida em  política pública de abrangência nacional contribua para reduzir as populações dos insetos, sobretudo em cidades maiores.

A estratégia envolve as chamadas estações disseminadoras de larvicidas (EDLs). Trata-se de potes com dois litros de água parada que são distribuídos em locais onde há proliferação dos mosquitos. Em busca de um local para depositar seus ovos, as fêmeas se sentem atraídas. No entanto, antes de alcançarem a água, elas são surpreendidas por um tecido sintético que recobre os potes e que está impregnado do larvicida piriproxifeno. A substância acaba aderindo ao corpo das fêmeas que pousam na armadilha. Dessa forma, elas mesmas levarão o larvicida para os próximos criadouros que encontrarem, afetando o desenvolvimento dos ovos e as larvas ali depositados.

De acordo com a nota informativa 25/2024, editada há duas semanas pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, o fluxo para a adoção das EDLs envolve cinco etapas: manifestação de interesse do município, assinatura de acordo de cooperação técnica com a pasta e com a Fiocruz, validação da estratégia com a secretaria de saúde do respectivo estado, realização de capacitações com os agentes locais e monitoramento da implementação.

A estratégia deverá ser expandida gradativamente pelo país levando em conta a capacidade dos envolvidos nas três esferas: nacional, estadual e municipal. Inicialmente, esse trabalho contempla 15 cidades. Elas foram escolhidas com base em alguns critérios: população superior à 100 mil habitantes; alta notificação de casos de dengue, chikungunya e zika nos dois últimos anos; alta infestação por Aedes aegypti; e disponibilidade de equipe técnica operacional de campo.

As EDLs são uma inovação desenvolvida por pesquisadores da Fiocruz que atuam no Laboratório Ecologia de Doenças Transmissíveis na Amazônia (EDTA). Estudos para avaliar a estratégia começaram a ser financiados pelo Ministério da Saúde em 2016, quando a pasta passou a buscar novas possibilidades para o controle das populações de Aedes aegypti em meio à ecolosão de uma epidemia de zika. Testes realizados até 2022 em 14 cidades brasileiras, de diferentes regiões do país, registraram bons resultados.

De acordo com os pesquisadores, as fêmeas visitam muitos criadouros, colocando poucos ovos em cada um. Os estudos mostraram que aquelas que pousam na armadilha, acabam disseminando o larvicida em um raio que pode variar entre 3 e 400 metros.

Os pesquisadores consideram que a estratégia permite superar algumas barreiras enfrentadas por outros métodos de combate às populações de mosquitos. Como é o próprio inseto que propaga o larvicida, é possível alcançar criadouros situados em locais inacessíveis e indetectáveis, como dentro de imóveis fechados e em áreas de difícil acesso nas comunidades com urbanização precária. A estratégia também se mostrou propícia para galpões de catadores de materiais recicláveis, onde há muitos recipientes com condições de acumular água parada que nem sempre são facilmente encontrados.

NOVAS TECNOLOGIAS

As EDLs já haviam sido citadas no ano passado em outra nota informativa do Ministério da Saúde que recomendou a adoção de cinco novas tecnologias no enfrentamento às arboviroses em municípios acima de 100 mil habitantes. Foram mencionadas também mais quatro tecnologias. Para monitoramento da população de mosquitos, recomenda-se o uso das ovitrampas. Trata-se de armadilhas voltada para a captura dos insetos, permitindo avaliar de tempos em tempos se houve aumento ou redução nas populações presentes em cada área.

A borrifação residual intradomiciliar, que envolve aplicação de inseticida, é indicada quando há grande infestação em imóveis especiais e de grande circulação de pessoas, como escolas, centros comunitários, centros de saúde, igrejas e rodoviárias. Já a técnica do inseto estéril por irradiação (TIE) pressupõe a liberação de grande número de mosquitos machos estéreis que, ao copularem com as fêmeas, produzirão ovos infecundos.

Por fim, também é recomendado o uso do Método Wolbachia, cuja implantação no Brasil vem sendo estudada desde 2015 também sob coordenação da Fiocruz. Originado na Austrália e presente em diversos países, ele envolve a introdução nos insetos de uma bactéria capaz de bloquear a transmissão dos vírus aos seres humanos durante a picada.

De acordo com a nota informativa publicada no ano passado, a implantação dessas tecnologias exigem um plano de ação municipal e uma definição das áreas prioritárias, a partir da prévia identificação das características epidemiológicas e socioambientais de cada território. "Cabe destacar que as metodologias podem ser combinadas entre si, considerando os cenários complexos de transmissão das arboviroses e seus determinantes, objetivando maior efetividade e melhores resultados", acrescenta o texto.

A implementação das novas tecnologias não pressupõe o abandono das intervenções tradicionais, que dependem não apenas da mobilização de agentes públicos como também demandam a cooperação da população. Conforme a nota, as ações de educação visando à eliminação do acúmulo de água parada no interior dos imóveis, bem como as visitas dos órgãos sanitários para identificar focos, continuam sendo consideradas essenciais.

CAMPINAS E RMC 

Em Campinas, a epidemia de dengue fez mais cinco vítimas fatais nesta semana, elevando para 46 o total de mortos pela doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti neste ano. O número é mais do que o dobro do segundo ano com mais mortes, 2015, quando foram registradas 22. Os óbitos, de acordo com a nota da Secretaria Municipal de Saúde, ocorreram entre 15 e 27 de abril, sendo a maioria de mulheres (quatro do sexo feminino e umdo sexo masculino). Entre 1º de janeiro e 1º de julho foram confirmados 113.446 casos de dengue no município.

Com as novas mortes, são 113 vítimas fatais na Região Metropolitana de Campinas (RMC). Pelo Painel de Monitoramento de Dengue do Estado de São Paulo, a região ainda tem 181.397 casos positivos, 3.845 com sinal de alarme, 295 casos graves da doença e 119 mortes em investigação. Os dados foram contabilizados até ontem, dia 8 de julho, quando ocorreu a última atualização do painel. A dengue grave é aquela que ocorre quando o paciente entra em uma fase crítica de três a sete dias após o início dos sintomas tradicionais, apresentando piora no estado clínico geral.

Em Campinas, a Secretaria de Saúde lamentou as mortes e se solidarizou com as famílias. De acordo com a Pasta, o desfecho óbito depende de fatores como procura precoce por atendimento, manejo clínico adequado e fatores individuais do paciente, como possíveis doenças preexistentes. Não há relação direta com a oscilação de casos, embora o município registre, desde maio, redução da transmissão da doença – principalmente em virtude da diminuição das temperaturas.

Assim como em todas as situações de casos registrados, medidas preconizadas foram desencadeadas nas regiões onde residiam as pessoas que morreram: controle de criadouros, busca ativa de pessoas sintomáticas e nebulização para combater o mosquito Aedes aegypti. Pelo Painel do Estado, Campinas ainda tem 79 mortes em investigação, 3.022 casos com sinal de alarme e 173 graves. 

Das últimas vítimas fatais confirmadas, quatro eram mulheres. Uma delas tinha 30 anos, sem comorbidade e era moradora da área de abrangência do Centro de Saúde (CS) Nova América. Os sintomas começaram no dia 7 de abril e a morte aconteceu no dia 15 do mesmo mês. Outra vítima do sexo feminino tinha 56 anos, possuía comorbidades, e era moradora da região do CS Centro. Ela teve início dos sintomas em 19 de abril e o óbito ocorreu no dia 27, oito dias depois. A terceira mulher que faleceu tinha 90 anos e não possuía comorbidade. Era moradora da área de abrangência do CS Taquaral, começou a sentir os sintomas no dia 19 de abril e morreu no dia 24. Por fim, a última mulher vítima da dengue tinha 76 anos e comorbidades, tendo falecido no dia 25 de abril, quatro dias depois do primeiro sintoma.

*Com trechos da Agência Brasil. 

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