O surgimento em grande quantidade de tecnologias que atingem as crianças cada vez mais cedo, incluindo tablets, e-books e smartphones, não está inibindo o crescimento do mercado dos livros infantojuvenis impressos. Atualmente existem pelo menos 120 editoras brasileiras que publicam obras para essa faixa etária e que oferecem cerca de 30 mil títulos em português. A avaliação é da secretária-geral da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, Elizabeth Serra.
“O livro em papel ocupa mais espaço do que antes com o leitor juvenil, por incrível que pareça. É um período em que a mídia eletrônica se fortaleceu, mas os livros para crianças aumentaram muito mais e os autores se multiplicaram. Todas as nossas escolas públicas hoje têm livros de literatura, por compras de governos ou de projetos. Os professores se preocupam muito mais com a formação leitora das crianças”, disse.
Para Elizabeth, não há conflito entre livros impressos e digitais. “São duas coisas independentes. Temos que aprender a conviver com isso. Não temos que ter medo desta nova mídia. O que precisa é haver um equilíbrio. Se as crianças só tiverem o tablet e o celular mas não tiverem oportunidade de conviver com o livro em papel, aí haverá um desequilíbrio. Se os pais e os educadores souberem balancear isso, não há problema algum.”
Ela defende que a experiência com o livro impresso é mais rica, por envolver relações humanas. “Essa relação se constrói desde cedo. A criança ouvir uma história contada por um adulto é uma coisa mágica: tem a voz, o afeto, a atenção. Isso não se quebra, pois é uma relação humana. Esse exercício de pai e mãe não tem que ser visto como esforço, pois estamos nos dedicando aos filhos, dando algo precioso. Vai ficar para sempre na lembrança deles. E se tiver essa base, lá na frente eles serão bons leitores.”
“O livro infantil em papel não pode acabar de maneira alguma. Nós baixamos livros pela internet, mas o livro tem que estar presente na mão da criança. É uma experiência muito mais rica ouvir a história contada pelo pai, pela mãe, pela avó. Porque está interagindo com outra pessoa. Tem a melodia da voz, você passa a emoção que está no livro. No tablet é muito diferente. A experiência do livro papel, pedagogicamente falando, é muito melhor”, disse a professora, que leciona na Escola Municipal Presidente Eurico Dutra, na Penha, zona norte da capital fluminense.
Algumas editoras, como a Paulinas, com sede em São Paulo, continuam produzindo livros infantojuvenis apenas em papel, embora já vendam e-books para o mercado adulto. “Eu acredito que o livro em papel ainda tem magia para as crianças. Tem a ilustração e o afeto de quem conta a história”, disse a divulgadora da filial da Paulinas no Rio, Vânia de Cássia e Silva. A editora tem 31 filiais no país e cerca de 500 títulos para crianças e adolescentes.