Salário atrasado é um assunto que sempre tem espaço no noticiário do futebol brasileiro. Vários veículos publicaram nos últimos dias que o Santos deve R$ 7 milhões a Robinho. É muito dinheiro, não se discute, mas como se trata de um esporte que movimenta quantias astronômicas, até que dá para entender. Dá para entender porque Robinho é craque, tem uma história vitoriosa na Vila (ganhou duas vezes o Brasileiro, duas vezes o Paulista e também tem uma Copa do Brasil), atrai público, joga na Seleção Brasileira e veio de um grande clube italiano. Por todos esses motivos, é compreensível que Robinho seja um jogador muito caro. Mas não dá para entender, à luz da razão, que o Corinthians deva cerca de R$ 5 milhões a Petros e seu empresário, informação que ouvi nesta quarta-feira na FOX Sports. Ao contrário de Robinho, Petros não é craque, nunca ganhou um título pelo Corinthians, ninguém vai ao estádio só para vê-lo jogar e, claro, ele não está na lista de Dunga para a disputa da Copa América. Robinho veio do Milan. Petros veio do Boa no começo do ano passado. Foi emprestado a clubes menores, com salário de R$ 1.500. Fez algumas boas atuações — nada de extraordinário, claro, porque isso está bem além de sua capacidade — e voltou para o Corinthians, já com salário de R$ 40 mil. Depois de um curto espaço de tempo, período no qual marcou dois gols, passou a receber R$ 90 mil por mês. Falamos de um jogador que — em um elenco forte como o do Corinthians e sob o comando de um treinador sério como Tite — raramente figura no banco de reservas. E, ainda assim, seu salário foi multiplicado por 60 em pouco mais de um ano. É evidente que, nesse caso, o valor assustador da dívida não tem nada a ver com os milhões e milhões de reais que o futebol tem a capacidade de movimentar. O contrato com Petros é extremamente prejudicial ao Corinthians e não se trata de um caso isolado. É por isso que um clube que arrecada tanto também deve cerca de R$ 20 milhões ao atual elenco, só de salários atrasados. Para crescer, enriquecer e ser mais atraente, o futebol brasileiro precisa de uma profunda reformulação no seu modelo de gestão. Enquanto dirigentes tiverem liberdade para gastar os recursos dos clubes sem a menor responsabilidade, uma grande parte desse dinheirão que o futebol movimenta terá como destino o bolso de pessoas que não têm nenhum comprometimento com o esporte.