Taxa de juros (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Hoje, no fim do dia, o Comitê de Política Monetária (Copom) encerra a sua segunda reunião do ano e divulga a decisão tomada sobre a taxa de juros de referência no Brasil. A expectativa do mercado é que a taxa Selic seja mantida inalterada, aos 13,75% ao ano. No entanto a decisão é muito aguardada, especialmente por conta do debate acalorado que tem se formado em torno do nível das taxas de juros no país.
Decisão
O Brasil atualmente tem uma das taxas de juros mais elevadas do planeta em termos reais (ou seja, acima da inflação), o que tem motivado uma série de posicionamentos contrários à atuação do Banco Central, inclusive por parte do Presidente Lula. Assim, uma elevação adicional da taxa de juros está completamente descartada. Por outro lado, uma diminuição também é pouco provável, pois as circunstâncias não mudaram muito desde a última reunião do Copom, no começo de fevereiro.
FRASE
"Se você de repente se encontrar dentro de um buraco, a coisa mais importante a fazer é parar de cavar
Warren Buffett, megainvestidor norte-americano
Demanda
A alta dos juros torna o crédito mais caro e, portanto, mais escasso. Isso diminui o consumo de curto prazo, reduzindo a pressão sobre a oferta de produtos e de serviços e trazendo os preços para baixo. É por conta deste efeito que o aumento da taxa de juros é a medida mais tradicional para controlar a inflação. Por outro lado, o efeito colateral é o desaquecimento da atividade econômica.
Atividade
No longo prazo, os juros elevados também restringem o crescimento. Como o custo de capital se eleva (pegar dinheiro emprestado torna-se mais caro), menos projetos são realizados, pois muitos acabam sendo recusados por não oferecer taxas de retorno que compensem o risco assumido frente a um maior custo de capital. Com menos projetos sendo realizados, a produção não se expande e o país passa a ter dificuldades em crescer.
Endividamento
Além da queda da atividade e do potencial de crescimento econômico, a alta dos juros impõe desafios para o orçamento familiar, devido ao peso do endividamento. Pesquisa da CNC sobre o endividamento familiar identificou que 78% das famílias brasileiras possuem dívidas a pagar e que 29% já possuem contas em atraso. Os dois índices estão nos patamares mais elevados da série histórica, iniciada em 2013.
Emprego
Por outro lado, o mercado de trabalho segue aquecido, o que contribuiria para pressionar os preços. O desemprego medido pela PNAD contínua apresentou leve alta na última medição, chegando a 8,4% (frente a 8,3% medidos nos 3 meses anteriores). Por outro lado, foi registrada queda no índice de subutilização e aumento na renda média dos trabalhos. Além disso, é preciso lembrar também que o atual nível de desemprego é o mais baixo desde o final de 2015.
Inflação
A inflação medida pelo IPCA está em 5,60% ao ano, acima do teto da meta estabelecido pelo Banco Central, que é de 4,75% ao ano. A última vez que a inflação esteve abaixo do teto da meta foi em fevereiro de 2021, dois anos atrás. Embora a inflação tenha cedido bastante em relação ao pico de 12,1%, alcançado em abril do ano passado, o impulso de desinflação tem perdido força e a tendência é que o IPCA encerre o ano entre 5,5% e 6,0%.
Estados Unidos
Também hoje, no fim do dia, será divulgada a nova taxa de juros de referência nos Estados Unidos. Apesar de quedas recentes, a inflação no país segue elevada (atuais 6,0% ao ano) o que exigiria um avanço no aperto monetário. Por outro lado, as altas taxas de juros já estão provocando distorções no mercado financeiro e afetando o setor bancário do país. O mais provável é que aconteça um pequeno aumento, fazendo com que os juros passem de 4,75% para 5% ao ano.
Sinal
Por conta desse conjunto de fatores, o mais provável é que o Copom adote uma postura conservadora e aguarde a evolução dos acontecimentos, podendo sinalizar um movimento a ser tomado em sua próxima reunião, que acontece nos dias 2 e 3 de maio. Essa sinalização está sendo ansiosamente aguardada.