XEQUE-MATE ECONOMIA / POR ESTÉFANO BARIONI

Risco Fiscal

Estéfano Barioni
20/10/2022 às 12:24.
Atualizado em 20/10/2022 às 12:24
Dólar (Reuters/ Lee Jae-Won)

Dólar (Reuters/ Lee Jae-Won)

Apesar da melhoria de alguns aspectos da economia, o risco continua alto e um dos reflexos está na taxa de câmbio, que continua flutuando fortemente. Somente nos últimos 30 dias, o valor do Dólar frente ao Real alternou entre 9 pregões de quedas e 10 pregões de altas. A elevada frequência de trocas de valorizações e desvalorizações da moeda brasileira em relação ao Dólar, sem uma tendência clara, é sinal da aversão ao risco que paira sobre os mercados externos e interno. 

Variação 

Nesses últimos 30 dias, o Dólar passou de uma cotação de R$ 5,17 em meados de novembro para alcançar R$ 5,24 no final do pregão da terça-feira. Em termos comparativos, a variação final nem é tão exagerada assim, com ganho de 1,35% em 30 dias, mas nesse curto período o Dólar chegou a alcançar valores tão baixos como R$ 5,12 (queda de -0,97%) e valores tão elevados como R$ 5,42 (alta de +4,84%). 

FRASE

"O objetivo mais importante para o nosso país no momento é a estabilidade."

Jeremy Hunt, novo Ministro da Finanças britânico

Recuo
O que motivou o mais recente recuo do Dólar foi a melhora no humor em relação ao ambiente econômico mundial. Essa melhora foi especialmente provocada por uma reformulação do plano fiscal do governo britânico, destinado a combater a inflação e a queda no crescimento. O plano original, que foi rejeitado, previa o corte de impostos sem nenhum tipo de contrapartida para o governo. 

Risco
O plano econômico da primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, era visto como fonte de risco por ser fiscalmente irresponsável, abrindo mão de receitas estatais devido ao corte extensivo de impostos, sem nenhuma contrapartida ou compensação. A adoção do plano provocaria um iminente desbalanço nas contas do governo, e isso fez com que a aversão ao risco se elevasse mais nas últimas semanas, fazendo os ativos considerados seguros (como o Dólar) se valorizarem. 

Juros
Com receitas menores e sem compensação, a alternativa do governo britânico para fazer frente às despesas estatais seria se endividar e isso fez com que as taxas de juros sobre os títulos públicos explodissem. Precisando de mais dinheiro, o governo teria que aceitar pagar mais juros sobre os empréstimos. A rentabilidade dos títulos britânicos com vencimento em 10 anos saltou de 2%, verificada em meados de agosto, para quase 4,5% ao ano. 

Juros 2
Pode não parecer muito em termos absolutos, mas para os padrões britânicos foi uma enormidade. Tanto em intensidade quanto em velocidade de mudança. Em cerca de dois meses, os juros mais do que dobraram. Para entender o que isso significa, vale a pena comparar com a situação brasileira. O governo brasileiro paga atualmente cerca de 12% ao ano sobre os seus títulos da dívida. Seria como se, até dezembro, essa remuneração saltasse para cerca de 30% ao ano. 

Renda Fixa 
Imagine o que aconteceria se, num curto espaço de tempo, a renda fixa brasileira passasse a remunerar a 30% ao ano. Quantos projetos produtivos seriam levados adiante pela iniciativa privada se houvesse a alternativa de ganhar 30% ao ano sobre o capital investido, sem qualquer risco, aplicando-se o valor em títulos públicos? Quase nenhum projeto!

Inflação
Uma situação assim paralisaria o crescimento da economia. Poucos iriam se arriscar a produzir tendo como alternativa a possibilidade de aumentar o seu capital sem correr risco algum. Os efeitos seriam desastrosos, pois a produção reprimida levaria a uma baixa oferta de produtos, mantendo os preços altos devido à pouca oferta para atender a demanda. Ou seja, essa estratégia não funcionaria nem para combater a inflação, que era o objetivo original.

Política Fiscal
Com a rejeição do plano econômico de Liz Truss, a aversão ao risco começou a diminuir e isso fez o Dólar recuar no mundo todo. O exemplo britânico serve para ilustrar as dificuldades da implantação de uma política econômica e a importância de se perseguir um compromisso com o controle das contas, a responsabilidade com o orçamento público e a manutenção de superávits fiscais.

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