Entregador de aplicativo monta em sua moto para mais uma viagem a partir da Avenida Francisco Glicério no Centro de Campinas; maioria dos entregadores é do sexo masculino (90%) e 54% se declara negra (Kamá Ribeiro)
No Dia do Trabalhador, somos convidados a refletir sobre os desafios enfrentados por uma parcela significativa da classe trabalhadora, especialmente aqueles que operam na economia de aplicativos, entregando alimentos e mercadorias no sistema delivery. Um estudo recente da Unicamp lança luz sobre as dificuldades enfrentadas pelos entregadores de aplicativos, evidenciando as condições adversas nas quais exercem suas funções. Os trabalhadores entrevistados revelaram altos índices de acidentes de trânsito, incidência elevada de pressão alta, poucas horas de sono, ausência de dias de descanso e até mesmo desidratação devido à falta de infraestrutura básica.
Esses trabalhadores, em sua maioria jovens, enfrentam jornadas extenuantes e condições insalubres. A pesquisa também destaca que aqueles que dependem dos aplicativos como principal fonte de renda são os mais prejudicados, tendo remuneração menor e maior exposição a riscos. Tal realidade evidencia a natureza exploratória da chamada "uberização" do trabalho, um modelo que tem ampliado a precarização das condições laborais. Os números alarmantes apontam para uma situação crítica: em 2020, 61,6% das mais de 190 mil internações nos hospitais do Sistema Único de Saúde envolveram motociclistas, e os acidentes de trânsito resultaram em 32.716 óbitos, com 36,7% envolvendo trabalhadores que se arriscam nessas condições. Os custos sociais dessas ocorrências chegam a R$ 50 bilhões anuais, com grande parte desse valor associada à perda de produção das vítimas.
Neste Dia do Trabalhador, é imprescindível abordar a situação dos trabalhadores de aplicativos, que, apesar de desempenharem um papel fundamental na economia moderna, são frequentemente negligenciados em suas condições de trabalho. As empresas que lucram com esse modelo devem assumir responsabilidade por proporcionar melhores condições a esses trabalhadores, garantindo segurança, saúde e dignidade.
Os dados apresentados pelo estudo da Unicamp indicam uma necessidade urgente de políticas públicas e medidas regulatórias para proteger esses indivíduos. Ao mesmo tempo, a sociedade como um todo deve reconhecer a importância desses profissionais e se mobilizar para exigir mudanças estruturais que promovam uma economia mais justa e equitativa. Afinal, celebrar o Dia do Trabalhador é reconhecer a dignidade e os direitos de todos os trabalhadores, independentemente do setor em que atuem.
