Vacina (Tânia Rêgo/ Agência Brasil)
Autoridades sanitárias alertam para o risco que a humanidade corre ao se deixar levar pelo sentimento de "alívio" com o fim da pandemia da covid-19 - que oficialmente não terminou e continua a fazer vítimas, ainda que em escala reduzida quando comparada ao ápice da contaminação. Há um consenso no meio científico de que a única vantagem extraída do momento atual é a de se estar preparado para enfrentar outras emergências sanitárias, econômicas e sociais. Entretanto, a constatação da rápida desmemória da sociedade brasileira em relação à pandemia vem assombrando os profissionais de saúde, a ponto da pneumologista da Fiocruz, Margareth Dalcomo, afirmar que "não temos o direito" de esquecer do que passamos, depois de tanto luto. Quem perdeu entes queridos ou padece de sequelas certamente não consegue apagar da memória as agruras sofridas.
Em Campinas, verifica-se a mesma tendência de esquecimento, tanto que estão sobrando vacinas. A situação é tão alarmante que a Secretaria Municipal de Saúde chama atenção para a baixa procura pelas doses de reforço. Conforme a Pasta, 922.781 pessoas a partir de 18 anos deveriam estar com a imunização completa, o que representa a aplicação de 1.845.562 doses. No entanto, foram aplicadas somente 955 mil doses adicionais. A diretora da Devisa, Andrea Von Zuben, adverte que o quadro é preocupante, pois a aplicação é essencial para manter os níveis de segurança contra a doença. A especialista lembra que a pandemia segue vigente e infectados continuam morrendo nos hospitais devido à covid. A reduzida procura pela vacina, segundo a Secretaria de Saúde, poderá precipitar uma retomada nas ocorrências de contaminação, o que seria lastimável, após tanto sofrimento decorrente das medidas de distanciamento social que prefeitos e governadores foram obrigados a tomar para proteger a população, especialmente os mais vulneráveis.
Além disso, há outro fator decorrente da rejeição da vacina: o desperdício de 20 mil doses dos imunizantes em decorrência do vencimento do prazo de validade, previsto para o final deste mês e início do próximo, caso as pessoas não procurem os postos de saúde a fim de receber as doses. Vale ressaltar que o prejuízo econômico será pouco comparado ao risco de novos surtos, colocando a perder todos os esforços empenhados na batalha contra a doença. Fala-se muito em liberdade individual, mas é preciso também pensar no bem coletivo. E a busca da proteção diante de um agente biológico transmissível depende de cada um.