O diretor editorial Nelson Homem de Mello reafirma a tese. ( Cedoc/ RAC)
"Nelson, querido. Afinal, você é meu primo ou meu irmão? Os dois. Besos, Zuza" A dedicatória acima ele escreveu para mim, no livro “Música com Z”, uma das preciosidades de sua vasta e importante produção literária. É ou não é obrigatório se apaixonar por um cara desses? Aliás, andei lendo tudo que foi publicado sobre ele após sua morte na madrugada de domingo. Tirando o obrigatório reconhecimento de seu talento e importância para a música brasileira - feito com todas as letras por todos os importantes veículos do País - o que me chamou a atenção foi o consenso sobre uma definição do Zuza, usada por vários jornalistas e músicos que o conheciam de perto: ele era uma figuraça. Humberto Werneck, autor do prefácio de seu livro, foi além: Zuza é figura&figuraça. Profundo conhecedor da música, era também um grande contador de histórias, colhidas em suas andanças pelo mundo musical e na convivência com grandes estrelas do jazz e da MPB. A bem da verdade, Zuza não ouvia música, simplesmente. Ele a saboreava, como se fosse um chef provando a comida e identificando os sabores de todos os condimentos da receita. Sempre foi impossível para mim, depois dele fazer a descrição de uma canção, ouvi-la do mesmo jeito de antes. Zuza sempre foi uma companhia agradabilíssima e singular, com aquela risada de menino. Acho que foi também para uso exclusivo dele a criação da palavra ‘gentleman’, aplicada a tantas outras pessoas, mas nunca exercida com tamanha categoria. Um singelo jantar em restaurante era uma coisa com o Zuza e outra sem ele e sou um sujeito de muita sorte, porque tive o privilégio de repetir esse prazer inúmeras vezes. Muitas em Campinas, uma cidade que ele adorava, e algumas poucas em São Paulo, que ele também adorava e eu nem tanto. Certo dia, em viagem, ele e Ercília nos convidaram, eu e Rose Carvalho, para conhecer um amigo e lá fomos nós sem saber quem era exatamente, até entrarmos em um apartamento no térreo de um edifício "junto à Maison de La Radio". Era Reale Junior, o lendário correspondente da Jovem Pan em Paris, que usava aquela localização como bordão em seus boletins radiofônicos diários. Para completar a história, de lá fomos de táxi (aliás, dois táxis, porque além de nós cinco, ainda tinha a Amelinha, mulher do Reale, e o Saul Galvão, enólogo do Estadão) a um restaurante que nos proporcionou uma noite inesquecível e onde nunca mais tentei chegar porque não teria mais a mesma graça. Pois é, Zuza. Agora você se foi e estou aqui ainda sem saber direito se sou primo ou irmão. Só sei que você me deixou com um baita orgulho de ter sido seu amigo. Besos. Nelson Homem de Mello, Diretor Editorial do Grupo RAC