É preciso analisar a intenção e a frequência das histórias fantasiosas contadas pelas crianças para determinar a gravidade delas (Freepik)
Não podemos afirmar que as mentiras fazem parte necessariamente do desenvolvimento de uma criança, afinal não existem regras claras e definições quando estamos falando de comportamento humano. No entanto, a psicóloga e pedagoga Rita Khater explica que elas podem, sim, ser um elemento comum neste período da vida e estar dentro do padrão da normalidade, tendendo a desaparecer com o tempo. Mas aos pais e responsáveis é preciso atenção ao perceber as invenções infantis para que elas não se configurem em um problema.
“É preciso avaliar o propósito da mentira. A criança pode dizer que foi à praia sem ter ido, mas também pode dizer que está com dor de barriga para não ir para a escola”, analisa Rita, evidenciando que as consequências dos dois tipos de mentiras têm objetivos e repercussões diferentes. A partir de quatro ou cinco anos, a imaginação da criança se desenvolve e ela pode começar a elaborar melhor as suas histórias. “Ela pode dizer que foi para o mundo de Frozen, e que lá tinha muito gelo. Essa é uma mentira até saudável, pois a criança está construindo uma história a partir do repertório que ela tem”.
Imaginação e manipulação
Também é neste período que a criança pode começar a ter mais consciência sobre os possíveis ganhos da narrativa inventada. “Se a mentira for recorrente, se ela for um recurso usado para a criança fugir de determinadas situações ou caso tenha ganhos com essa mentira, começam problemas sérios”. Imagine uma situação: o menino chega da escola dizendo que uma colega bateu nele. Sem contestar, os pais ficam revoltados, a avó quer conversar com a professora, ele ganha mimos como doces e todos dão mais atenção ao pequeno. “A criança consegue lidar com a mentira chegando a ser gratificada com ela. Portanto, a forma como os adultos em volta lidam com a mentira pode fazer com que ela fique recorrente ou não”.
Lidando com a mentira
Seja diante da mentira manipuladora ou mesmo da fantasiosa, a psicóloga não recomenda que os adultos incentivem a história. “Se os pais compram roupa da personagem Elsa, ficam incentivando a criança por dias a estar no mundo de Frozen, ela pode simplesmente se deslocar para o mundo da fantasia. Isso também é ruim”. O mais adequado, nestes casos, é deixar a criança curtir a brincadeira por um momento e deixar a fantasia de lado depois, sem reforçar isso com frequência.
Identificada a mentira, analisa-se a sua gravidade e frequência. Em um grau moderado, conversas francas entre pais e filhos, para entender os motivos que os levam a mentir podem ser o suficiente. “E sempre que a criança contar uma história verdadeira, devemos dar uma grande atenção a ela”, reforça Rita, desaconselhando castigos, indicando reforços positivos. Já em casos mais graves, profissionais da área de psicologia infantil serão fundamentais para ajudar.