XEQUE-MATE ECONOMIA

Credit Suisse

Esféfano Barioni
19/03/2023 às 11:01.
Atualizado em 19/03/2023 às 11:01
Credit Suisse (Divulgação)

Credit Suisse (Divulgação)

Depois da quebra do Silicon Valley Bank, ocorrida na semana passada, desta vez foi o Credit Suisse que atravessou dificuldades. Isso trouxe bastante apreensão aos mercados, derrubando a cotação das ações, especialmente das empresas financeiras, mas atingindo de um modo geral os índices das bolsas de valores. O temor é de um contágio no sistema bancário, aos moldes da crise financeira de 2008. 

Escala

O motivo da grande apreensão é a mudança de escala e potenciais consequências que essa mudança poderia causar. Embora tivesse um tamanho relevante, o SVB era o 16° maior banco dos Estados Unidos e suas operações estavam focadas no financiamento de startups do país. Já o Credit Suisse é um dos principais bancos europeus, com operações em todo o mundo, inclusive no Brasil. 

FRASE

“O sistema financeiro é baseado na confiança. Quando a confiança é quebrada, o sistema entra em colapso."

Nassim Taleb, autor libanês-americano

Distorções

O problema recente que afetou o Credit Suisse começou depois que o relatório dos resultados anuais do banco divulgou a identificação de distorções nas demonstrações financeiras dos últimos dois anos (impossível não lembrar das Americanas). A empresa de auditoria que assinou o relatório coloca em dúvida a eficácia dos procedimentos de controle interno do banco sobre os próprios relatórios financeiros. 

Aporte Negado

Desde o ano passado, vários clientes começaram a sacar seu dinheiro do banco depois de sinais de que o Credit Suisse estaria enfrentando problemas de solidez financeira. Na ocasião, o banco precisou receber um aporte de capital de US$ 1,5 bilhão do Saudi National Bank (Banco Nacional Saudita), seu maior acionista. Dessa vez, o Saudi National Bank afirmou que não poderia realizar nenhum aporte, pois isso aumentaria sua participação no banco para além de limites regulatórios.

Socorro

A negativa do Saudi National Bank fez as ações do Credit Suisse despencarem nas bolsas, atingindo o seu menor nível histórico. Para evitar que os clientes iniciassem uma corrida final para sacar seus depósitos, o Banco Central Suíço aprovou uma linha de socorro ao Credit Suisse, no valor de até 50 bilhões de Francos Suíços (quase US$ 54 bilhões). O socorro resolve os problemas imediatos de liquidez, enquanto o banco se reestrutura. 

Desconfiança

É certo que a quebra do SVB na semana passada ajudou a potencializar a crise do Credit Suisse, não exatamente através de um contágio financeiro direto, mas por conta de uma crise de confiança. Os problemas do banco suíço já vinham ocorrendo desde o ano passado, mas o relatório divulgado nessa semana deixou aberta a possibilidade de que os números possam ser piores do que o imaginado. Isso jogou gasolina na fogueira da desconfiança.

Migração

Nos Estados Unidos, diversos bancos regionais estão sofrendo uma série de retiradas por parte de seus correntistas, apreensivos com eventuais problemas de liquidez que esses bancos podem atravessar, assim como aconteceu com o SVB. O sistema bancário nos Estados Unidos é muito mais pulverizado do que no Brasil, existindo milhares de pequenos bancos. Por conta dos últimos acontecimentos, iniciou-se uma migração de correntistas dos pequenos para os grandes bancos. 

Consolidação 

Se esse processo se confirmar, poderá alterar o cenário do sistema bancário norte-americano. Algo parecido com o que aconteceu no sistema bancário brasileiro a partir da década de 90, quando houve um processo de fusões e aquisições que resultou na concentração de mercado e na redução do número de bancos no Brasil. 

Confiança

Poucas coisas são mais perigosas para um banco de que uma crise de credibilidade. Por isso, o Banco Central Suíço foi tão tempestivo em disponibilizar uma poupuda linha de financiamento de liquidez. De fato, ninguém vai deixar seu dinheiro em um banco se existirem dúvidas de que, amanhã ou depois, o banco quebre e nunca mais se possa conseguir recuperar o seu dinheiro de volta. O maior ativo de um banco não é dinheiro, mas sim confiança.

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