Banco Central (Marcello Casal JrAgência Brasil)
O Banco Central realizou um estudo sobre os efeitos dos choques de oferta que sucessivamente impactaram a economia brasileira a partir do ano passado. O BC avaliou a reação e o tempo de resposta dos impactos sobre o poder de compra da população e o consumo geral de bens. A redução do poder de compra e do consumo foram consequências geradas a partir dos aumentos de preços provocados pelos choques de oferta.
Choques de Oferta 2
Um choque de oferta é qualquer alteração nas condições econômicas ou produtivas que causam a restrição da oferta de determinados produtos no curto prazo. Como trata-se de uma alteração de curto prazo, não há tempo suficiente para que a demanda se reorganize e ocorra uma substituição programada. Por isso que se diz que se trata de um choque.
FRASE
"O comércio não é sobre mercadorias. O comércio é sobre informação. As mercadorias ficam no depósito até que as informações as movam."
Carolyn Cherryh, escritora norte-americana
Preços
Um choque de oferta é, por exemplo, uma tempestade que destrói completamente uma plantação ou um incêndio que atinge uma grande fábrica. A produção local fica interrompida e isso pode chegar a afetar o equilíbrio do mercado e comprometer o atendimento da demanda. Com uma oferta restringida e uma demanda praticamente inalterada, os preços sobem.
Preços 2
Em 2021, tivemos a escassez de chuvas que restringiu a geração hidrelétrica e prejudicou algumas safras agrícolas, aumentando os preços da eletricidade e dos alimentos. Também houve a falta de insumos industriais devido aos desarranjos logísticos e produtivos causados pela pandemia em todo o mundo. Finalmente, nesse ano, com a guerra da Ucrânia, houve um choque sobre o fornecimento de petróleo e o seu valor chegou a subir mais de 60% no mercado internacional.
Rapidez
O estudo do Banco Central revelou que os choques de oferta afetaram rapidamente o consumo das famílias, logo na sequência da intensificação das pressões sobre os preços. Ao longo do primeiro semestre de 2021, o IPCA passou de 4,51%, verificado no começo de janeiro, para atingir um nível de 8,35% ao ano, ao final de junho. Além de serem rápidos, os impactos acontecem de maneira elástica sobre o consumo.
Elasticidade
Dizer que os efeitos são elásticos significa que a redução do poder de compra das famílias não impacta o consumo de bens de maneira direta e proporcional. Esse impacto vai além. A elasticidade sobre o consumo foi medida em um ponto e meio (1,50). Isso significa que uma redução de 1% no poder de compra das famílias resulta em uma redução de 1,5% no consumo de bens. A queda no poder aquisitivo deprime de maneira mais ampla o consumo de bens.
Tipos de Bens
Além disso, os efeitos no consumo variam de acordo com o tipo de bem, pois cada tipo de bem permite a adoção de um comportamento diferente por parte dos consumidores. Existem os bens não duráveis (aqueles de consumo imediato tais como alimentos, combustíveis, produtos de higiene e medicamentos) e os bens duráveis ou semiduráveis (como vestuário, eletrônicos, etc.).
Bens Não-Duráveis
No caso dos bens não-duráveis, o impacto da redução do poder de compra é quase imediato e rapidamente se estabiliza com elasticidade de 1,5. Como são bens utilizados para atender necessidades imediatas, os consumidores têm poucas possibilidades de adotar estratégias de redução de consumo e as substituições que podem ser feitas são logo realizadas. De acordo com os preços, troca-se carne por frango, gasolina por etanol, e assim por diante.
Bens Duráveis
Já no caso de bens duráveis e semiduráveis, a redução do poder de compra quase não possui impacto sobre o consumo no primeiro mês. São compras que já estavam planejadas. A partir do segundo mês, a redução no consumo se faz sentir com uma elasticidade ainda maior (3,0). Como não são itens de primeira necessidade, as famílias podem adiar o consumo desses bens e a queda do poder de compra tem um efeito muito mais amplo na redução desse tipo de demanda.