EDITORIAL

A serenidade estóica de Marco Aurélio

‘O que não é bom para a colmeia não pode ser bom para a abelha’, afirmou, lembrando-nos da nossa responsabilidade coletiva

Da Redação
09/06/2024 às 10:04.
Atualizado em 09/06/2024 às 10:04
Marco Aurélio, Imperador Romano (Por Ad Meskens - Obra do próprio, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=113496229)

Marco Aurélio, Imperador Romano (Por Ad Meskens - Obra do próprio, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=113496229)

Marco Aurélio Antonino, o filósofo imperador romano do século II, encarna o ideal estóico na plenitude de sua dimensão humana e governamental. Seu pensamento, cristalizado nas "Meditações", uma obra concebida como um diário pessoal e filosófico, oferece um panorama luminoso da mente estóica, caracterizada pela busca incessante da virtude, da racionalidade e da harmonia com a natureza.

Em seu reinado, Marco Aurélio enfrentou inúmeras adversidades: guerras nas fronteiras, epidemias devastadoras e crises econômicas. Todavia, sua resposta a tais desafios não se pautou pelo desespero ou pela tirania, mas por uma introspecção profunda e uma inabalável serenidade. Este é o núcleo de seu pensamento: a ideia de que a verdadeira fortaleza reside no domínio de si mesmo, na aceitação racional dos desígnios do destino e na prática constante da justiça, temperança e sabedoria.

Para Marco Aurélio, a filosofia estóica não é uma mera especulação abstrata, mas um guia prático para a vida. Ele ensina que cada indivíduo deve viver em consonância com a razão universal (logos), que governa o cosmos. Tal harmonia só é alcançada quando se reconhece a transitoriedade de todas as coisas e se adota uma postura de equanimidade perante as vicissitudes da vida. "A morte sorri para todos nós; tudo o que um homem pode fazer é sorrir de volta", escreve ele, sintetizando sua visão serena da mortalidade e da inevitabilidade do sofrimento.

O imperador-filósofo também nos legou profundas reflexões sobre a interconexão dos seres humanos. Ele sublinha que somos partes integrantes de uma grande comunidade, e que nossa missão é contribuir para o bem comum. "O que não é bom para a colmeia não pode ser bom para a abelha", afirma, lembrando-nos da nossa responsabilidade coletiva. Este princípio, de indubitável valor moral, ecoa através dos séculos, ressoando nas mais nobres concepções de cidadania e altruísmo.

Marco Aurélio nos ensina que a grandeza verdadeira não reside no poder ou na riqueza, mas na força moral. Seu legado permanece como um exemplo de virtude em um mundo tumultuado. Sua vida e obra são um testemunho de que, mesmo nas situações mais adversas, é possível manter a dignidade, a compaixão e a sabedoria. Em última análise, seu pensamento nos convida a refletir sobre nossa própria existência, a buscar a virtude em todas as nossas ações e a encontrar paz na aceitação do fluxo natural da vida. Bom domingo!

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