Tear utilizado na produção dos tapetes: na penitenciária Hortolândia III, 20 presos trabalham na oficina-escola, 13 na produção e 9 em treinamento (Ricardo Lima)
Recomeçar a vida e lidar com a sombra do passado é um desafio gigantesco ao ex-apenado. Muitos empregadores ficam receosos com o histórico do candidato, que acabou de sair da prisão após cumprir a sua pena. Esse estigma faz com que os ex-detentos suspeitem dos sistemas e processos de retorno à vida em sociedade sob os limites da lei, ética e moral. Assim, acuados por um sentimento de frustração, impotência e injustiça, eles sentem-se como se continuassem a ser punidos mesmo tendo cumprido a pena integral, uma espécie de penitência perpétua.
O processo de ressocialização visa a reeducar as pessoas privadas de liberdade para se adaptarem às condições sociais e às leis. Nesse sentido, o preso poderá reduzir a sua pena e sair do cárcere com habilidades que lhe trarão alguma renda. Uma experiência nesses moldes segue em curso em Hortolândia. A reportagem do nosso jornal visitou esta semana a Penitenciária III, onde 20 reeducandos participam de um programa de ressocialização. Eles trabalham e estudam em uma oficina-escola de tear da Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel (Funap) - um órgão ligado ao governo estadual. Lá, aprendem a fabricar tapetes, que depois são vendidos a preço de custo. A receita obtida com a comercialização é revertida ao próprio projeto e os detentos ganham um salário mínimo, mais a remissão da pena em um dia a menos de prisão a cada três trabalhados.
O modelo de ressocialização aplicado na Penitenciária de Hortolândia tem se mostrado promissor em uma realidade na qual apenas 18% da população carcerária pratica alguma atividade laboral. Isso ainda é pouco em um país signatário de tratados internacionais de direitos humanos. Em um contexto em que 53% da população carcerária apresenta baixo grau de escolaridade - com apenas o ensino fundamental incompleto - e somente 1% possui diploma de graduação, os obstáculos à reinserção ganham uma dimensão ainda maior.
O exemplo de Hortolândia deve servir de estímulo para que iniciativas semelhantes possam mudar essa situação, de modo que o poder público, empresários e sociedade acolham os ex-apenados com um olhar menos crítico e desconfiado e mais solidário e consciente. Com isso, espera-se que os presos consigam retomar um convívio sadio no momento em que eles deixarem o sistema prisional. Para isso, é preciso criar oportunidades de estudo e trabalho durante o cárcere - a exemplo da Penitenciária III de Hortolândia -, construindo os alicerces que irão sustentar e facilitar o retorno desse contingente populacional à luta pela sobrevivência econômica sob o império da lei.