CARLO CARCANI

O gol das 23h59

Carlo Carcani
carlo@rac.com.br
14/06/2013 às 15:01.
Atualizado em 25/04/2022 às 12:15

Assisti ao primeiro jogo da final da NHL, entre Chicago Blackhawks e Boston Bruins. Depois de um empate por 3 a 3 no tempo normal, o jogo foi para a prorrogação. Para quem não conhece as regras do hóquei no gelo, uma partida normal tem três períodos de 20 minutos, com o cronômetro parado quando o disco não está em jogo. Nos playoffs, as partidas com empate vão para a prorrogação e só terminam quando um time marca um gol. Cada tempo extra tem 20 minutos e, no caso do jogo de quarta-feira, o gol da vitória só saiu na terceira prorrogação. O duelo durou, portanto, quase o dobro de uma partida normal.

O gol decisivo foi marcado pelo Chicago, que jogou em casa. Assim que saiu o gol, a TV mostrou um relógio no ginásio para mostrar que já eram 23h59. Era um jogo de final de NHL e o editor de imagens poderia ter escolhido qualquer outra coisa para mostrar ao público: a comemoração do autor do gol, a frustração dos visitantes depois de quase 120 minutos de batalha, a festa da torcida, a reação do técnico... enfim, várias imagens daquele momento decisivo seriam interessantes. Mas a TV mostrou o relógio. Para os norte-americanos, é inusitado que um evento esportivo esteja em andamento à meia-noite.

Deveria ser inusitado para qualquer um, mas para o torcedor brasileiro é rotineiro. Jogos importantes de todos os campeonatos do País começam às 22h, quando todo torcedor deveria estar a caminho de casa. Por interesse da TV, porém, o futebol brasileiro sacrifica suas melhores partidas. A presença de público é menor do que poderia ser em um horário normal, assim como a audiência. Isso é ruim para clubes, patrocinadores e torcedores. Enfim, é ruim para o futebol.

A Globo é uma grande parceira do futebol e não é a responsável pelo problema. Afinal, paga muito pelos direitos de transmissão e procura atender os próprios interesses na hora de montar a grade de programação. Os clubes é que deveriam se preocupar com isso, mas duvido que o façam. Na próxima vez que sentarem à mesa com a TV, ninguém vai pensar no torcedor. O péssimo horário das 22h sequer entrará na pauta de discussões.

Para que isso aconteça um dia, os dirigentes precisam evoluir muito. Por enquanto, não pensam no bem comum e muito menos no crescimento do futebol. Pensam individualmente e querem saber apenas dos próprios benefícios. Se der para prejudicar um "concorrente" na negociação, melhor ainda.

É por isso que nossos jogos vão continuar terminando depois da meia-noite. Grandes técnicos e estrelas continuarão dando entrevistas sobre jogos importantes por volta de 1 hora da manhã, quando pouca gente estará ouvindo. Muitas vezes você não poderá ir ao estádio. Muitas vezes você terá que dormir sem saber se seu time ganhou ou perdeu. É que aqui ninguém acha estranho ver um gol às 23h59.

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