Futebol não é para amadores, parafraseando o compositor Tom Jobim que, em meados do século passado, afirmou que o Brasil era para profissionais. Trocando em velhos vinténs, muitos críticos da imprensa têm uma inveja monumental de quem se dá bem na vida. E se tasca um oportunismo aqui e um outro acolá. E o palhaço que nunca foi ladrão de mulher é o mesmo que anima doentes em hospitais, se pinta e se borda de alegria, querendo animar o doente terminal a encarar o desfecho final com a coragem daqueles velhos samurais, a quem mais importa morrer com honra e dignidade. Um jogador de futebol é o palhaço que nos anima a cumprir nossos dias com dignidade. É certo que centenas de boleiros ganham em um mês o que o distinto torcedor levaria dez ou mais anos para ganhar a mesma quantia. E esses são poucos diante de milhares de boleiros profissionais que ganham menos que um entregador de lanchonete. O que mais incomoda em boleiro dos principais times do país é que eles não sabem bater sequer um lateral. E muito menos um escanteio. Têm lá certa habilidade para fazer o circo de uma caneta nas pernas de um zagueiro lambão, um chapéu no volante, mas incompetente para lidar com a soberba da jogada, pisar na bola, olhar um companheiro e fazer o passe necessário – e raro. E o pior disso é ouvir o comentarista da tevê afirmar que Corinthians e Santos foi um “grande espetáculo”. Tudo bem que narrador e comentarista estão lá para isso mesmo, levantar a bola do espetáculo, animar a torcida, e, principalmente, deixar feliz o patrocinador que investiu milhares de reais para vender o seu produto. Mas tudo tem um limite suportável para a hipocrisia. Afinal, Corinthians e Santos fizeram uma partida muito menos digna de uma pelada de solteiros e casados, tratando a bola como se fosse suas contas bancárias, redonda quando recebem seus milionários salários, quadrada quando o visor do banco eletrônico avisa que nada foi depositado. O fato é que o futebol é o circo de algumas dezenas de privilegiados falsos palhaços que ganham pequenas fortunas mensais enquanto milhares deles ganham três salários mínimos. E depois alguns comentaristas ainda buscam explicar os sete a um que levamos dos alemães, em um jogo de argumentos que beira o vigarismo intelectual, um acinte contra o torcedor que banca toda essa vagabundice que de circo não tem nada. Ou seja, ou se funda uma nova liga de futebol ou todos morrerão em um abraço de afogados...