JULIANNE CERASOLI

Novo tabaco

16/02/2013 às 05:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 04:25

Na McLaren, era a Marlboro. Na Williams, a Camel. Na Lotus, a John Player Special. E quem acompanhou a Fórmula 1 dos anos 1970 até a primeira década deste milênio, quando os europeus foram os primeiros a querer distanciar o esporte do cigarro, certamente tinha dificuldade em ver a categoria sem um fumacinha sequer – pelo menos oficialmente, pois a Ferrari segue apoiada pela Marlboro e a Lotus, mesmo não tendo nada a ver com Colin Chapman e companhia, só adotou o preto e dourado pela fácil associação às cores do patrocinador dos anos 70 e 80.

Na época em que o cigarro era forte na F-1, já sabia-se que era prejudicial à saúde, pois os produtos passaram a receber restrições a partir da década de 1960. Porém, ainda era algo vendido como símbolo de poder e sensualidade.

Hoje, em meio a marcas ligadas à comunicação, relógios e roupas caras, o grid foi invadido pelas bebidas energéticas. Após a compra da equipe Jaguar pela Red Bull em 2005, e mais fortemente nas últimas duas temporadas, elas estão se tornando o novo tabaco.

E também vêm com algumas restrições, ainda que não tão fortes quanto o cigarro. E é difícil dizer, hoje, se mais estudos comprovarão no futuro que estas bebidas têm níveis de cafeína e taurina intoleráveis, como ocorre segundo a legislação de países como Noruega e Dinamarca e, até 10 anos atrás, na França.

Não é novidade que a F-1 nunca ligou muito para a origem de seu dinheiro, mesmo quando foi financiada por regimes autoritários, e não é agora que a categoria vai ficar certinha porque uma ou outra lei mais rígida não aprova determinado produto. A parte que interessa nesse novo tabaco tem a ver com o público alvo de Red Bull, Monster, Lucozade, EQ8, TNT e Burn, que ‘alinharão’ no grid no GP da Austrália. As bebidas energéticas são normalmente associadas aos jovens e às modalidades radicais. E não é segredo que o público da F-1 vem envelhecendo nos últimos anos e até possibilidades como a diminuição da duração das corridas e formas de interação ainda pouco exploradas na internet são estudadas para aumentar o interesse dos jovens.

O que, portanto, atrai essas marcas ao grid? Será que trata-se apenas de uma questão de "Maria vai com as outras" depois do sucesso da Red Bull ou elas estariam tentando aumentar a abrangência de seu público? Seria sua presença parte da estratégia da própria F-1? O fato é que, assim como o tabaco ajudou a trazer o glamour que rendeu tanto à categoria, as bebidas bem que poderiam ser um instrumento para sua renovação enquanto produto.

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