A estreia do Cruzeiro na Libertadores foi marcada pelo vergonhoso comportamento da torcida do Real Garcilaso, que imitou macacos toda vez que o volante Tinga pegou na bola.A Conmebol, como sempre, reagiu com a passividade que lhe é característica. Ao invés de se manifestar através de uma entrevista ou pronunciamento de seu presidente, soltou apenas o seguinte comunicado no Twitter: “Sobre o tema de racismo em Real Garcilaso e Cruzeiro. A Confederação Sul-Americana analisará o tema e possíveis sanções pertinentes. Pedimos tranquilidade aos torcedores do Cruzeiro. Sabemos que é repudiante”.É lamentável que a Conmebol já não tenha anunciado uma punição ao clube peruano, assim como é lamentável que tenha pedido “tranquilidade” aos torcedores do Cruzeiro. Imitar macaco quando um jogador pega a bola não é uma ofensa ao time adversário. É uma ofensa ao futebol, à humanidade, ao povo brasileiro e ao povo peruano.A Libertadores de 2013 começou com a morte de um garoto dentro de um estádio na Bolívia. A punição ao Corinthians não apenas foi branda, como ainda foi reduzida pouco tempo depois.Pela ampla repercussão do caso no mundo todo (e não apenas entre os cruzeirenses), pode ser que a Conmebol aplique algum tipo de punição ao time peruano. Provavelmente, vai reduzi-la depois, como fez com o Corinthians, como faz sempre. A entidade diz que considera a ação dos torcedores repudiante, mas se a repercussão tivesse sido menor, sequer teria soltado a notinha no Twitter.A Conmebol, porém, não é a única culpada por essa tolerância com o racismo. Somos, todos nós, culpados também. Tiramos sarro da inocência dos sempre respeitosos atletas japoneses. Ironizamos as torcidas que aplaudem o adversário e aceitam derrotas como derrotas. Achamos que o certo é protestar, xingar, “cobrar” o jogador e outras bobagens.O racismo não é o único tipo de ofensa no mundo do futebol. Só chegamos a ele porque todo o resto é tolerado. Xingar o árbitro é normal, apedrejar o ônibus do adversário é normal, agredir alguém que torce para o outro time é normal, dar uma paulada na cabeça de alguém caído é normal e por aí vai.Aceitamos tudo, não punimos ninguém e fingimos indignação quando uma torcida de outro país se comporta mal. Se é a nossa torcida que erra, então alegamos que o clube não pode ser responsabilizado pelos atos de outros. Enquanto pensarmos assim, continuaremos vendo imitações de macacos. E continuaremos a fingir nossa indignação.