Sindicato tenta reverter a decisão ( Divulgação)
O Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região (Sindmetau) quer que a Ford reveja a decisão de fechar as fábricas no Brasil e mantenha os empregos. Segundo o presidente do Sindicato, Claudio Batista, os trabalhadores foram “pegos de surpresa” com a decisão anunciada pela na segunda-feira de fechar a produção de veículos no País.
Além da planta de Taubaté, a Ford vai fechar a fábrica de Camaçari, na Bahia. A fábrica da Troller, em Horizonte (CE), vai encerrar as atividades até o fim deste ano. Serão mantidos, entretanto, a sede administrativa para a América do Sul em São Paulo, o Centro de Desenvolvimento de Produto na Bahia e o Campo de Provas em Tatuí (SP). A produção de veículos na região ficará concentrada na Argentina e no Uruguai.
“O sindicato vai fazer toda luta necessária para tentar reverter essa situação”, disse Batista. De acordo com ele, os 830 funcionários da fábrica em Taubaté tinham estabilidade no emprego até o fim de 2021, devido a um acordo de redução de jornada e salários feito no ano passado, em razão da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). A unidade da montadora na cidade está há 53 anos de atividade.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, Júlio Bonfim, se pronunciou em vídeo no Facebook, na tarde de ontem. "É muito difícil. Foi algo que bateu agora nas nossas costas de forma muito forte, estamos tentando ainda absorver essa porrada, algo que a gente nunca imaginaria que aconteceria no Brasil", disse.
Segundo Bonfim, 12 mil empregos, diretos e relacionados ao setor de autopeças, serão afetados pelo fechamento na região metropolitana de Salvador. Entre as unidades a ser encerradas, a baiana é a que concentrava o maior número de trabalhadores.
O Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté realizou uma assembleia geral ainda no fim da tarde da segunda, para discutir o assunto. A reportagem não conseguiu ainda contato com os representantes dos trabalhadores da fábrica de Horizonte.
O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, considerou absurda a decisão da Ford de fechar suas operações no Brasil e cobrou reação de diferentes esferas de governo. Para a entidade, a companhia agiu sem dialogar com os sindicatos e demonstrou "total falta de sensibilidade social".
Bahia
O governo da Bahia emitiu um comunicado na tarde de ontem em que diz já trabalhar em busca de "alternativas" para assumir a fábrica da Ford em Camaçari. Uma das tentativas seria atrair um investidor chinês. De acordo com o texto, o governador Rui Costa (PT) entrou em contato com a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) para discutir a criação de um grupo de trabalho onde serão avaliadas as possibilidades. O governo estadual, segue a nota, também entrou em contato com a embaixada chinesa para sondar possíveis investidores com interesse em assumir o negócio na Bahia.
Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB), sem citar demissões na fábrica de Taubaté, onde a montadora emprega 740 funcionários, afirmou que a empresa manterá 700 trabalhadores em atividades no município de Tatuí (SP), onde fica o campo de provas da empresa, e na capital do Estado, onde está a sede administrativa. "A medida afeta o fechamento de fábricas no Ceará, Bahia e SP. Foi decisão global da Ford Motors", escreveu Doria em sua conta no Twitter.
'Decisão global'
O Ministério da Economia lamentou, em nota oficial, a decisão da Ford de encerrar a produção no Brasil, mas buscou descaracterizar qualquer influência de políticas do atual governo na ação da montadora. Já para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o fechamento da produção no País é uma demonstração da "falta de credibilidade" do governo federal.
"Não é uma notícia boa. Eu acho que a Ford ganhou bastante dinheiro aqui no Brasil. Me surpreende essa decisão que foi tomada aí pela empresa", afirmou o vice-presidente Hamilton Mourão. "Eu acho que ela poderia ter retardado isso aí mais e aguardado."
Para Maia, o anúncio da montadora evidencia a ausência de regras claras, de segurança jurídica e de um sistema tributário racional. Defensor da proposta de reforma tributária de autoria do candidato apoiado por ele para a sucessão no comando da Mesa Diretora, Baleia Rossi (MDB-SP), o atual presidente da Casa apontou que o sistema tributário teria se tornado um "manicômio" nos últimos anos, com impacto sobre a produtividade.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou ontem, a apoiadores que o fechamento dos parques fabris da Ford no Brasil aconteceu porque a empresa "perdeu para a concorrência" e "em um ambiente de negócios, quando não se tem lucro, se fecha". "Assim é na vida e na nossa casa", completou o presidente .
Em dezembro do ano passado, a empresa comunicou um programa de investimentos de US$ 580 milhões (cerca de R$ 3,17 bilhões) na Argentina.
Segundo Bolsonaro, "faltou à Ford dizer a verdade: eles querem subsídios". (com agências)