A população das Malvinas foi convocada para ir às urnas no domingo (10) e na segunda-feira (11) para um referendo de autodeterminação que decidirá seu vínculo com a coroa britânica, iniciativa que a Argentina não reconhece em meio a tensões com o Reino Unido pela soberania das ilhas.
Ninguém duvida da vitória do 'Sim' nesta consulta que as autoridades das ilhas, chamadas também de Falklands, esperam reafirmar diante da comunidade internacional seu direito à autodeterminação e, inclusive, mudar a opinião de alguns governos em relação à disputa territorial que já provocou uma guerra relâmpago entre os dois países em 1982.
"O referendo mostrará que a maioria das pessoas está muito contente por ser Território Ultramarino Britânico", declarou à AFP Jan Cheek, membro da assembleia legislativa do arquipélago do Atlântico Sul.
"Estaríamos enganados se pensássemos que a Argentina vai mudar (de atitude) da noite para o dia, mas esperamos que seja uma mensagem forte para eles e para outros", acrescentou uma moradora da ilha de sexta geração.
O governo britânico, que controla o arquipélago desde 1833 e recusa qualquer diálogo com o país sul-americano sobre o tema da soberania, apoia o referendo.
"Os habitantes das Falkland têm direito a ser ouvidos e a determinar o futuro que querem para eles e para as próximas gerações", declarou um porta-voz do ministério das Relações Exteriores. "Esperamos que o resultado demonstre, além de qualquer dúvida, a opinião da população".
A Argentina, que reivindica historicamente estas ilhas situadas a 400 quilômetros de sua costa, já anunciou, no entanto, que ignorará o resultado de uma consulta que qualifica de ilegal ao considerar que seus habitantes são população "implantada" pelo Reino Unido e, como tal, não têm direito à autodeterminação.
"Este referendo carece de base legal. Não está aprovado nem será reconhecido pelas Nações Unidas ou pela comunidade internacional", disse nesta semana a embaixadora argentina no Reino Unido, Alicia Castro.
A diplomata, em um encontro com jornalistas, qualificou esta votação de "pouco mais que um exercício de relações públicas".
A votação será realizada em dois dias para que os 1.672 eleitores tenham a possibilidade de participar. Apesar de a maioria viver na capital, o governo das ilhas irá montar colégios eleitorais móveis para chegar aos lugares mais remotos do arquipélago cuja população total é de cerca de 2.500 pessoas, aos que se somam 1.300 militares britânicos.
Sua organização custará às Malvinas cerca de 73.000 libras (110.000 dólares ou 84.000 euros), e os resultados deverão ser divulgados na noite de segunda-feira, poucas horas depois do fim da votação às 18H00 locais e também horário de Brasília.
Em caso de uma inesperada vitória do 'Não' à pergunta "Deseja que as Ilhas Falkland mantenham seu atual estatuto político de Território Ultramarino do Reino Unido?", se organizaria outro referendo para determinar o futuro status político do arquipélago.
Para dar garantias ao processo, a votação será realizada sob a supervisão de uma equipe de observadores internacionais que não foi anunciada oficialmente, mas entre os observadores, segundo a imprensa britânica, deve haver representantes do Uruguai e do Peru, mas nenhum da Argentina.
O governo da presidente Cristina Kirchner insiste em que a disputa territorial deve se resolver mediante negociações bilaterais entre Londres e Buenos Aires, como pedem as Nações Unidas desde 1965, sem interferência dos habitantes das ilhas.
Porém, o Reino Unido sempre recusou esta opção, alegando que os habitantes das ilhas são os únicos que devem decidir seu futuro.
"Somos razoáveis, estamos abertos ao diálogo em várias coisas", disse à AFP Dick Sawle, outro representante da assembleia das ilhas. "O que não vamos falar é de soberania porque a gente não quer", emendou.
A tensão entre os dois países pelas Malvinas aumentou com a retomada de uma campanha de prospecção de petróleo britânica, no início de 2010, nas ilhas que antes viviam da criação de quase meio milhão de ovelhas e hoje das licenças pesqueiras.
Contudo, os ânimos esquentaram ainda mais no ano passado coincidindo com o 30º aniversário da guerra que deixou 649 soldados argentinos e 255 britânicos mortos.