Rajendra Pachauri divulgará o primeiro volume de um novo relatório dedicado ao aquecimento global e seus impactos (France Presse)
A humanidade empurrou o sistema climático para a beira do abismo e agora conta com uma margem de tempo muito pequena para agir, advertiu nesta segunda-feira (2) o chefe de climatologistas da ONU. "Temos cinco minutos para a meia-noite", alertou o indiano Rajendra Pachauri, cujo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) divulgará este mês o primeiro volume de um novo relatório dedicado ao aquecimento global e seus impactos. "Podemos utilizar as dádivas da natureza como quisermos, mas em nossos registros, os débitos são sempre iguais aos créditos", disse Pachauri durante entrevista coletiva por ocasião dos 20 anos da organização ambientalista Green Cross International, citando seu compatriota, o pacifista Mahatma Gandhi. "Devo afirmar que a humanidade ignorou completamente, desconsiderou e tem sido totalmente indiferente aos débitos?", questionou. "Hoje, nós temos o conhecimento para conseguir estimar os débitos e entender o que fizemos para o planeta chegar a esta situação", afirmou Pachauri. Integram o IPCC setecentos cientistas de todo o mundo. A organização deve publicar o primeiro volume de seu muito aguardado Quinto Relatório de Avaliação em 27 de setembro. O primeiro tomo abordará as evidências científicas das mudanças climáticas. Outros dois serão publicados no ano que vem e se concentrarão nos impactos e nas opções para se enfrentar o problema. Segundo um esboço que vazou duas semanas atrás, a atividade humana é quase certamente a causa das mudanças climáticas. O rascunho também prevê que os níveis dos mares poderão subir 90 centímetros até o fim do século e descartou alegações recentes de uma redução no ritmo do aquecimento nas quais os céticos das mudanças climáticas vinham se apoiando. Em informes anteriores, o IPCC alertou que um aquecimento sem controle levará muitas espécies à extinção e fará aumentar a frequência ou a intensidade de secas, ondas de calor e inundações, afetando a segurança alimentar e as fontes de água para muitos milhões de pessoas. "Não podemos nos isolar dos efeitos de qualquer coisa que aconteça em qualquer parte do nosso planeta. Isto afetará a todos nós de uma forma ou de outra", disse Pachauri. Controlar as emissões de gases estufa ainda é possível se países, inclusive no mundo em desenvolvimento, repensarem sua abordagem sobre o crescimento econômico, afirmou. Isto impulsionaria a segurança energética, reduziria a poluição e melhoraria a saúde, bem como criaria novas oportunidades de trabalho, acrescentou.