O vice-presidente precisou substituir Chávez em cúpulas internacionais, liderando desfiles e paradas militares (France Press)
O vice-presidente venezuelano Nicolás Maduro está cada vez mais presente nos meios de comunicação oficiais, ocupando o vazio deixado pelo presidente Hugo Chávez, algo que os analistas interpretam como o início de uma transição, especialmente após o último relatório pessimista sobre o estado de saúde do presidente, divulgado na quinta-feira (21).
O governo está "abrindo mais o caminho em direção à mudança política", disse à AFP a historiadora Margarita López Maya, depois que o último comunicado oficial sobre a saúde do presidente indicou que a evolução da insuficiência respiratória apresentada após sua operação de câncer em Cuba "não foi favorável".
O relatório tem por objetivo "elevar a emoção e a conexão emocional com o líder ou prepará-los (os venezuelanos) pouco a pouco para uma má notícia", afirmou à AFP o analista Luis Vicente León, da empresa Datanálisos.
O relatório, lido pelo ministro da Informação, Ernesto Villegas, é o primeiro que chega aos venezuelanos sobre o estado de saúde do presidente desde seu retorno surpresa na segunda-feira a Caracas e sua internação no Hospital Militar, que colocou fim a mais de dois meses de recuperação em Havana.
Para López Maya, o caminho de transição na Venezuela começou no dia 8 de dezembro quando Chávez revelou que viajaria para se submeter a sua quarta operação contra um câncer e designou Maduro como seu sucessor, caso ficasse incapacitado para governar.
O vice-presidente seria o candidato governista nas eleições que deveriam ocorrer em 30 dias.
A analista observa que o governo reforçou a imagem de Maduro, de 50 anos, nos meios de comunicação após o dia 10 de janeiro, quando o presidente não pôde fazer seu juramento para o quarto mandato presidencial perante o Parlamento.
O executivo busca "manter a figura de Chávez no maior tempo possível nos meios de comunicação" para reforçar a imagem pública de seu sucessor, afirma López Maya.
"O governo precisa dar uma sensação de comando, coesão e unidade. As estratégias têm por objetivo ganhar o apoio das bases chavistas, porque Maduro não tem um trabalho ali (...) Por isso sua presença nos meios de comunicação e a mensagem tão radicalizada que mantém contra alguns meios e a oposição", afirmou.
O vice-presidente precisou substituir Chávez em cúpulas internacionais, liderando desfiles e paradas militares e inaugurando obras públicas em incontáveis redes obrigatórias de rádio e televisão, desde a ausência do presidente, após sua viagem a Cuba.
Inclusive, o sistema de meios de comunicação oficiais lançou nos últimos dias mensagens emotivas de televisão com um jovem Maduro em ação pela revolução bolivariana e lemas com "Com Chávez tudo, sem Maduro e o povo nada".
O governo insiste que Chávez nunca se separou de suas funções e divulgou nesta sexta-feira uma carta de oito páginas escrita pelo presidente, lida pelo chanceler Elías Jaua, convocando o trabalho conjunto na III Cúpula América, realizada em Malabo, na Guiné Equatorial.
Chávez "está em um processo de doença complexa, mas não abandona suas competências", afirmou Jaua no encontro.
Em meio ao debate sobre a saúde do presidente, alguns reconhecidos juristas solicitaram ao Supremo Tribunal a realização com "urgência" do juramento de Chávez, reeleito em outubro, em um ato público, diante de uma junta médica e com a presença dos meios de comunicação.
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, José Miguel Insulza, disse à BBC que a ausência de Chávez deve ser tratada de um ponto de vista político, ao mesmo tempo em que advertiu que os partidários do governante não podem separar de um dia para o outro seu líder após 14 anos no poder.
"Chávez está novamente na Venezuela e suponho que é o momento das decisões", afirmou.