Bolsonaro argumenta que agronegócio está 'bombando' e, por isso, deputados deviam apoiar Arthur Lira (Reprodução/Redes Sociais)
Em seu primeiro dia de trabalho em 2021, o presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que o Brasil está “quebrado". Para apoiadores, ele disse que não "consegue fazer nada" e citou como exemplo as mudanças na tabela do Imposto de Renda.
"O Brasil está quebrado, chefe. Eu não consigo fazer nada. Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda, teve esse vírus, potencializado pela mídia que nós temos, essa mídia sem caráter", afirmou Bolsonaro a um apoiador na saída do Palácio da..
A fala do presidente conflita com as declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que a atividade econômica do País está numa trajetória em V, ou seja, com a retomada na mesma velocidade da queda por causa dos efeitos da pandemia do novo coronavírus.
Tanto Guedes como o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendem a vacinação em massa da população como essencial para que a economia, de fato, se recupere em 2021. A equipe econômica projeta uma retração de 4,5% no PIB em 2020, com uma recuperação de 3,20% neste ano.
No último ano, o governo precisou se endividar mais para bancar o aumento das despesas para combater a Covid-19. A combinação da maior necessidade de financiamento com a aversão ao risco dos investidores, turbinada pela desconfiança sobre a continuidade do processo de ajuste fiscal no Brasil, levou o Tesouro a concentrar boa parte das emissões em títulos de prazo mais curto.
O Tesouro Nacional começa 2021 com uma fatura trilionária a ser paga aos investidores. A dívida que vence neste ano já somava R$ 1,31 trilhão no fim de novembro de 2020, valor que deve continuar crescendo à medida que mais juros vão sendo incorporados. O desafio chega num ano decisivo para ditar os rumos das reformas consideradas essenciais para o equilíbrio fiscal do País - e, consequentemente, para a capacidade de pagar toda essa dívida no futuro.
O volume de vencimentos em 2021 equivale a 28,8% do estoque de toda a dívida pública interna e já representa quase o dobro da média de resgates nos últimos três anos. Mesmo assim, a equipe econômica sempre diz estar bastante "tranquila" em relação ao refinanciamento da dívida.
Isenção do IR
A ampliação da isenção do IR é uma das promessas de campanha de Bolsonaro que nunca saíram do papel. Em 2019, o presidente chegou a retomar o assunto algumas vezes dizendo que a ampliação estava sendo estudada pelo governo. Atualmente, quem ganha até R$ 1.903,98 por mês está isento de declarar o IR. A partir desse valor, os descontos são de 7,5, 15%, 22,5% ou 27,5% sobre o valor dos rendimentos. A última alíquota é aplicada para quem ganha acima de R$ 4.664,68.
Bolsonaro já chegou a dizer que gostaria de aumentar a isenção da tabela do IR para quem ganha até 5 salários mínimos até o fim de seu mandato (R$ 5,5 mil). A ideia, porém, enfrentava resistência da equipe econômica em 2019, quando as contas do governo não estavam afetadas pela Covid-19.
Na conversa com apoiadores ontem, Bolsonaro também voltou a intensificar as críticas à mídia, que segundo ele realiza um "trabalho incessante de tentar desgastar" o governo. "Vão ter que me aguentar até o final de 2022, pode ter certeza aí", afirmou.
Bolsonaro retoma o expediente normal após 17 dias sem compromissos oficiais e dias de recesso no litoral de Santa Catarina, em São Francisco do Sul, e no litoral de São Paulo, no Guarujá.
Na segunda, ele fez piada com o uso de máscara de proteção facial. Em tom irônico, o presidente disse que usou o equipamento enquanto mergulhou no recesso no litoral paulista para "não pegar Covid nos peixinhos".
Bolsonaro fez uma ironia com o fato de veículos de comunicação terem destacado que ele não usou máscara quando causou aglomeração no mar de Praia Grande (SP) em 1º de janeiro.
"Sabia que o tio estava na praia nadando de máscara? Mergulhei de máscara também, para não pegar Covid nos peixinhos", ironizou o presidente.
A agenda pública de ontem incluiu reuniões com os ministros Fábio Faria, das Comunicações, Fernando Azevedo, da Defesa, Braga Netto, da Casa Civil, e Pedro Cesar Nunes, ministro interino da Secretaria-Geral, além do presidente da Caixa Econômica, Pedro Guimarães. De tarde, em meio às negociações de uma vacina contra a Covid-19, Bolsonaro também fez uma visita técnica ao Ministério da Saúde.
Pedidos de renúncia ao presidente são os assuntos mais comentados no Twitter
Os pedidos de "renúncia" para o presidente Bolsonaro alcançaram ontem o topo dos assuntos mais citados no Tiwitter. Após ele afirmar que o Brasil está quebrado e que não consegue fazer nada, a reação da oposição conseguiu colocar o protesto entre os assuntos mais comentados na rede social favorita do presidente. As hastags #RenunciaBolsonaro e #BolsonaroPedePraSair estiveram nas duas principais colocações.
"Quem está dizendo isso é o próprio presidente Bolsonaro, admitindo sua incapacidade de governar. Ele disse que o país está quebrado e que ele não consegue fazer nada", disse o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG).
"Finalmente Bolsonaro assumiu a própria incompetência. Agora faça a melhor coisa que pode fazer na sua vida: renuncie ao cargo de presidente!", disse o deputado Alencar Santana (PT-SP).
O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, também aderiu à hastag do pedido de renúncia. "Bolsonaro é aquele funcionário que mete um atestado de sexta a segunda e transforma o fim de semana em quatro dias. Só que, no aso dele, vai durar quatro anos. Vai trabalhar!", escreveu Freire.
Até mesmo ex-aliados, como o deputado Júnior Bozzella (PSL-SP), endossaram o pedido. "Tem presidente em Brasília? Tem. O Jair Bolsonaro ainda está lá, mas hoje ele assinou sua confissão de incapacidade de governar. Se você não pode fazer nada pelo país, Jair, então, pelo menos, pare de atrapalhar ainda mais o Brasil! #BolsonaroPedePraSair #RenunciaBolsonaro", criticou.