DITADURA

Morre, aos 72 anos, única sobrevivente da Casa da Morte

Ex-guerrilheira Inês Etienne Romeu ficou presa em Petrópolis, na região serrana do Rio, de maio a agosto de 1971; ela sofreu um enfarte enquanto dormia

Agência Estado
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27/04/2015 às 22:11.
Atualizado em 23/04/2022 às 15:25
Inês Etienne Romeu, ex-guerrilheira presa na Casa da Morte, em Petrópolis em 1971 ( Cedoc/RAC)

Inês Etienne Romeu, ex-guerrilheira presa na Casa da Morte, em Petrópolis em 1971 ( Cedoc/RAC)

Morreu na manhã desta segunda-feira, 27, aos 72 anos, a ex-guerrilheira Inês Etienne Romeu, única sobrevivente da Casa da Morte, em Petrópolis, cidade na região serrana do Rio. O imóvel foi um dos principais centros clandestinos usados pelo Exército para detenção ilegal, tortura, execução e ocultação de cadáveres de presos políticos durante a ditadura militar. Ela enfartou por volta das 5h enquanto dormia em casa, em Niterói, na região metropolitana do Rio “Foi um enfarte muito forte, o médico disse que não poderia ter feito nada”, disse o jornalista Paulo Romeu, de 69 anos, um dos irmãos de Inês. A cremação do corpo está marcada para as 14h30 de terça, 28, no cemitério Parque da Colina, em Niterói. Foto: Cedoc/ RAC A ex-guerrilheira durante depoimento à Comissão da Verdade do Rio de Janeiro As informações mais importantes sobre a Casa da Morte foram conhecidas a partir do depoimento de Inês e acabaram confirmadas por documentos produzidos pelo próprio Estado. “Ela foi uma combatente da ditadura que sempre lutou pela democracia. Pagou um preço alto, mas nunca se arrependeu”, disse o irmão. Inês foi presa em 5 de maio de 1971 por agentes comandados pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, em São Paulo, e levada à Casa da Morte, onde ficou detida de 8 de maio a 11 de agosto de 1971, submetida a torturas e estupros. Sua prisão só foi documentada em 7 de novembro daquele ano. AnistiaInês cumpriu oito anos de prisão por participação no grupo Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), de oposição ao governo militar. Foi libertada em 29 de agosto de 1979, com a promulgação da Lei de Anistia. Uma semana depois, compareceu à sede do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no Rio, para registrar seu testemunho. Na denúncia, identificou torturadores e carcereiros, o dono do imóvel, Mario Lodders, e militantes desaparecidos que passaram pela casa. Em fevereiro de 1981, ela ajudou a localizar a casa em Petrópolis. “Foi uma heroína brasileira. Graças a ela e tão somente a ela descobriu-se a existência da famigerada Casa da Morte, onde foram supliciados e mortos dezenas de perseguidos políticos. Ela foi a única a escapar viva”, disse o presidente da Comissão da Verdade do Rio, Wadih Damous. Segundo ele, a comissão apresentará à Camara de Vereadores de Petrópolis pedido para que a rua onde fica o imóvel em que funcionou a Casa da Morte ganhe o nome de Inês. A Comissão da Verdade também defende a transformação do imóvel em um espaço de memória.

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