O cineasta baiano Glauber Rocha: um dos principais expoentes do Cinema Novo (Cedoc/RAC)
O princípio adotado no final dos anos 1950 de “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” deu uma identidade própria ao cinema brasileiro, que ganhou o nome de Cinema Novo. Um dos principais expoentes desse movimento foi o baiano Glauber Rocha, que tinha o objetivo de romper com os padrões cinematográficos dominantes, ou seja, o hollywoodiano, e revolucionar a indústria nacional. Foram muitas as produções que elevaram Rocha a um patamar único, já que o cineasta criou sua própria linguagem na hora de filmar. Alguns desses filmes poderão ser conferidos no ciclo O Brasil de Glauber, que começa nesta terça-feira (12) no Museu da Imagem e do Som de Campinas (MIS), às 19h, com exibição "Barravento" (1962).
“Glauber Rocha integrou uma geração de intelectuais e artistas brasileiros marcada por uma aguda consciência histórica. Ele, assim como seus companheiros, tinha como objetivo fazer com que as pessoas conhecessem melhor o Brasil. Glauber, mais do que ninguém, tinha essa ambição de diagnóstico nacional, inventando a própria linguagem. O cinema era visto como uma ciência do conhecimento do homem da história, como uma historiografia. Isso, principalmente na passagem dos anos 50 para os 60, que foi um período muito crítico para o País”, explica o jornalista Laerte Ziggiatti, idealizador da mostra.
Ao todo, cinco filmes serão apresentados no MIS, sempre às terças, e, antes de cada sessão, o curador fará uma breve introdução sobre o baiano e sobre a sua importância para o cinema de forma geral. “Meu papel será o de facilitador, inclusive pretendo sugerir bibliografias para as pessoas que tiverem interesse em conhecer mais esse personagem tão importante. Seus filmes são metafóricos, simbólicos, até por ele ter sido uma pessoa muito culta e familiarizada com a tradição das lutas do Nordeste”, complementa Ziggiatti.
Premiado
'Barravento' (1962), que acompanha a história de um negro educado que volta à aldeiazinha de pescadores em que foi criado para tentar livrar o povo do domínio da religião, apesar de rodado na Bahia, foi finalizado no Rio de Janeiro, com Nelson Pereira dos Santos, e acabou sendo premiado na Europa e exibido no Festival de Cinema de Nova York. Em 1963, ele filmou 'Deus e o Diabo na Terra do Sol', que concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes do ano seguinte — acabou perdendo para uma comédia musical francesa — e poderá ser visto semana que vem.
Em 1966, foi a vez de Rocha preparar 'Terra em Transe', que chegou a ser proibido e pode ser considerado uma grande parábola da história do Brasil no período 1960-66. Exibido no Festival de Cannes, o filme ganhou os prêmios Luis Buñuel e da Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica. Fazem parte ainda do ciclo 'O Brasil de Glauber' as produções 'O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro' (1969), que também foi exibido no Festival de Cannes, onde Glauber ganhou o prêmio de melhor diretor, e 'A Idade da Terra', baseada no poema de Castro Alves — o último filme de Glauber Rocha e aquele que mais gerou polêmica em sua carreira. O longa retrata o Brasil, seu jogo político e as diversas implicações de sua mistura de raças e culturas. Glauber morreu em 1981, aos 42 anos, vítima de septicemia, ou como foi declarado no atestado de óbito, de choque bacteriano.
Serviço
Ciclo 'O Brasil de Glauber' exibe os seguintes filmes:
nesta terça-feira (12) - 'Barravento'
dia 19/3 - 'Deus e o Diabo na Terra do Sol'
dia 26/3 - 'Terra em Transe'
dia 2/4 - 'O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro'
dia 16/4: 'A Idade da Terra'
Horário: sempre às 19h
No Museu da Imagem e do Som - MIS (Palácio dos Azulejos, Rua Regente Feijó, 859 - Centro) - Campinas. Telefone: (19) 3733-8800
De graça