ZEZA AMARAL

Minhocas e sonhos

Zeza Amaral
igpaulista@rac.com.br
19/04/2017 às 23:55.
Atualizado em 22/04/2022 às 19:39

O que eu faço com as minhas palavras? Bem, tenho o mesmo valor de uma formiga ou de uma cigarra. Danem-se todos os conceitos sobre a criação! É a vida que vale. Veja o homem que planta o arroz e o feijão nosso de cada dia. Veja o arroz e o feijão na panela. Veja a verdura na gôndola do supermercado. O homem, por maior que tenha riqueza, depende do homem que sabe consertar uma torneira. Não entro no mérito da questão. E não sei mais se uso trema ou não. Um bom amigo me pergunta sobre coisas da criação, do fato de eu encher o sapiquá do raro leitor com alguns assuntos, principalmente os políticos. Faço o que posso, respondo. É o meu ofício. E o trabalho do escrivão é o mesmo do pedreiro que levanta paredes, do alfaiate que alinhava panos, da moça que limpa o chão das redações dos jornais, do André, do Rodolfo, da Dona Mocica, do Pedro, do Alfeu, do Délcio, do Milton, todos eles donos de bares e restaurantes; a vida é tão intensa e eu sou tão pequeno diante de tanta beleza de sincera e ética serventia. O saudoso Antônio Ribeiro, carpinteiro e marceneiro, homem vivido em cima de uma casa de árvore, junto com a mulher e a primeira filha, uma tarde conversou comigo na varanda de sua casa, lá em Vargem Grande do Sul. E diante de tamanha vida fiquei apenas pensando no tamanho da minha vida, que não passa apenas de um lasco qualquer de pedregulho, ou uma apara qualquer de madeira. Quanta sabedoria é descartada pela vida. O seu Antônio escutava modas de viola (coisa que me faz muito gosto, também) e vez ou outra contava um causo acontecido, coisa de há muito ocorrido. E não havia nada mais gostoso do que ficar perto daquele homem e ouvir a sua vida pelas palavras. E isso era como ouvir a confissão de Deus. Não falo somente pela honra que a mim foi dada por conhecê-lo, pai da minha companheira. A vida não é só feita de estragos, dos homens que nada sabem dos bons corações que fazem a boa alma de uma nação. Aconteça o que acontecer, os homens que tiveram o milagre de conhecer um cidadão de bom tamanho (se é que estou me explicando) saberão dar um jeito em suas próprias vidas. Tenho certeza, absoluta, que o raro leitor compreendeu o que leva alguém a ganhar a vida com palavras, uma coisa menor na vida rotineira, coisa sem importância alguma diante de uma parede, de um jardim, de um telhado. Posso até ter alguma serventia, raro leitor, e espero que tudo o que eu tenha feito seja um alicerce, nunca uma cumeeira, sapiente que sou dos meus limites. E, graças aos deuses, tenho muitas minhocas e dúvidas na minha cabeça. E é por isso que escrevo. Apenas por isso. Mesmo porque não tenho mais tempo pra perder na vida. Hoje sigo por aí batendo setenta anos de vida e confesso que não sei se o Lula, Palocci e todos os demais ladrões da Pátria serão presos. E eles não são tantos assim, meu raro leitor; mas bem sei que não são mais donos do nosso País. O jogo de cartas marcadas do lulopetismo foram desmascaradas por dezenas de delatores e o trabalho ainda nem chegou na metade do caminho. Mas bem gostaria de ver Lula sair candidato a síndico de algum pavilhão da Papuda e, é claro, perder de lavada. Ou mesmo à Presidência da República e dela sair se arrastando como uma jararaca banguela. E mais não digo para não chover no molhado. Bom dia.

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