RAÍZES ORIENTAIS

Imigrantes japoneses cultivam suas tradições e se inserem na cultura de Campinas

Costumes ancestrais se adaptaram ao modo de vida dos países onde os imigrantes japoneses se fixaram

Cibele Vieira
27/06/2022 às 12:59.
Atualizado em 27/06/2022 às 13:05

As danças clássicas e alegorias que remetem às tradições sempre estão presentes nas festividades e eventos (Divulgação/ Roberto Torrubia)

O grande número de restaurantes japoneses em Campinas é apenas uma das mostras de como os nikkeis (imigrantes) souberam se inserir na nossa sociedade. Do primeiro grupo com 56 imigrantes que chegou a Campinas para trabalhar nas lavouras em 1918 até hoje, muita coisa mudou. Atualmente, a estimativa é que 4.500 famílias (15 mil descendentes) moram na cidade, com atuação importante na indústria, produção agrícola, gastronomia, esportes e cultura. Esta época do ano é marcada por fortes lembranças para a comunidade no Brasil, que celebrou em 18 de junho o Dia Nacional da Imigração Japonesa. 

Pacíficos, reservados, respeitosos e trabalhadores. Essas características ainda marcam o perfil dos japoneses que, mesmo vivendo no Brasil, cultivam muito respeito pelos costumes ancestrais. O trabalho em comunidade e voluntário é um desses valores, e isso pode ser visto nas associações, onde diretores, técnicos, as senhoras cozinheiras e muitos professores repassam seus conhecimentos de maneira voluntária, como conta Tadayoshi Hanada, presidente do Instituto Nipo-Brasileiro de Campinas. A manutenção das tradições está presente nos cursos oferecidos pela entidade, como os de idioma e escrita japonesa, danças clássicas, artes marciais, ikebana, origami e culinária. 

As principais concentrações da comunidade nipônica estão na região do bairro rural Pedra Branca, com agricultores que cultivam frutas para exportação, e na Colônia Tozan, onde restam poucos produtores de hortifrutis, flores e frutas, mas é sede do único time de beisebol da cidade, premiado nacionalmente. Há ainda dois clubes onde se cultivam as tradições: a Associação Okinawa, no Chapadão (focada em atividades esportivas) e o Instituto Nipo-Brasileiro, no Guanabara, onde são realizados os principais eventos festivos, bazares e cursos abertos. 

Um cantinho do Japão

Quem passa pelo final da Rua Camargo Paes, no bairro Guanabara, vislumbra um cenário oriental. Ao lado do Nipo está a Praça das Cerejeiras, com suas esculturas de pedras, e bem em frente foram instalados postes com luminárias redondas como as do Japão. Do outro lado da rua fica a Praça Hideyo Noguchi, com o busto do médico que deu nome ao local e que esteve em Campinas na década de 1920. Ele foi indicado três vezes para o Prêmio Nobel graças a importantes descobertas sobre a febre amarela e a sífilis.

A historiadora Maria Katsuko Takahara Kobayashi escreveu o livro “A Comunidade Japonesa de Campinas”, onde explica como os imigrantes se organizaram na cidade, vindos em quatro grupos distintos, a partir de 1918. O primeiro japonês a se estabelecer por aqui foi Takeji Morita, que era marceneiro e trabalhou na expansão da rede ferroviária da Sorocabana e Paulista e depois na Fazenda Monte D`Este (Tozan), onde inventou várias ferramentas agrícolas. Os grupos de imigrantes trabalhavam nas lavouras de café, cana e algodão, ou em pequenos comércios. Ao longo dos anos, as famílias se espalharam pela cidade, mas por muito tempo ficaram concetradas nos bairros Guanabara, Chapadão e Jardim Eulina. 

Produto para exportação

No segmento agrícola, o bairro Pedra Branca, localizado na SP-73 (estrada velha de Indaiatuba), concentra parte de descendentes japoneses. Eles chegaram no final da década de 1950 e, junto com imigrantes italianos - com quem entrelaçaram relações e culturas - transformaram a região em uma área de significativa produção de frutas, boa parte destinada à exportação. O bairro faz divisa com o Macuco, no município de Valinhos, que compartilha as mesmas caraterísticas de população e produção. 

Hoje, cerca de 100 produtores cultivam goiaba, figo, laranjinha kinkan, carambola e outras frutas que seguem em boa parte para a Europa e os Estados Unidos. A antiga sede da Fazenda Pedra Branca – que deu nome ao bairro inspirada nas pedras calcáreas abundantes na região - foi construída no final do século 19 para produção de café e posteriormente algodão. A região já fez parte do circuito turístico e recebia visitantes aos finais de semana, atividade suspensa durante a pandemia e ainda em fase de reorganização.   

Beisebol é orgulho nacional 

Os pequenos atletas do TBol (jogadores de beisebol com idades entre quatro e sete anos) da Colônia Tozan fizeram bonito no campeonato nacional e conquistaram no início de junho o terceiro lugar da categoria na Taça Brasil de Beisebol. O esporte é a principal atividade na sede social da Colônia, que é aberta a visitantes no Village Campinas. São cinco categorias, num total de 60 atletas nos times infantil, júnior e adulto. A maioria não é descendente, segundo Marcia Mayumi, e ainda há vagas para interessados no esporte.

“A categoria dos jogadores é tão elevada que todos os anos recebem convocação para integrar a seleção brasileira”, conta Paulo Nakashima, diretor de esportes voluntário. Muitos foram para times profissionais e até para o exterior. 

As famílias dos atletas que não são descendentes sempre recebem orientações de como se comportar na torcida durante os campeonatos. “O brasileiro está acostumado a gritar, xingar, reclamar do juiz e nós não fazemos isso, então é preciso passar esses valores de respeito aos adversários às famílias que estão mais acostumadas com as torcidas de futebol”, explica o vice-presidente Kazuyuki Sato. “Nosso maior tesouro, além do esporte, são as senhoras da terceira idade, que guardam todo o conhecimento da culinária japonesa”, diz. Este ano eles desenvolvem um projeto para passar esse conhecimento aos mais jovens, mas os eventos abertos só serão retomados em 2023. 

A Colônia Tozan foi fundada em 1957, quando a Fazenda Monte D’Este foi desmembrada e 35 lotes vendidos aos imigrantes. O atual presidente da Associação Cultural e Assistencial Nipo-Brasileira da Colônia Tozan (ACA Tozan), Massanori Ohashi, conta que restam poucos sítios produtivos na área. Vizinhos do Polo de Alta Tecnologia Ciatec II, essas propriedades são alvo da expansão imobiliária na região. Conheça a comunidade pelo Facebook e Instagram: acatozan.

PROGRAME-SE

O Instituto Cultural Nipo-Brasileiro de Campinas mantém uma agenda diversificada de eventos. Este ano a comunidade comemora os 114 anos da imigração japonesa no Brasil e os 71 anos de Fundação da Nipo Campinas.

 •Sino da Paz – no dia 9 de julho, em local e horário a definir. Homenagem a Gifu, cidade-irmã de Campinas, bombardeada no final da guerra (1945). O sino é soado ao mesmo tempo em mais de 300 cidades no mundo para renovar a promessa de paz. 

•Feira Oriental – no dia 10 de julho, das 9h às 17h (realizada todo 2° domingo do mês desde 1994) com comidas, música, artesanatos e produtos ticos. Entrada gratuita. 

•Baile de Fantasia – no dia 6 de agosto, a partir das 19h. Informações sobre detalhes e valores ainda não divulgados.  

. Concurso de Karaokê – no dia 21 de agosto. Detalhes serão divulgados em breve  

•16° Festival do Japão-Campinas

nos dias 10 e 11 de setembro, das 10h às 20h. É a principal festa da comunidade, reunindo todas as associações da cidade com shows, apresentações, exposições, artesanatos e comidas típicas. 

Informações: Secretaria da Nipo: 3241-1213

Rua Camargo Paes, 118, Guanabara

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