São 19 ilhas, muitas praias, 365 cachoeiras e incontável diversidade (Aline Guevara)
Águas límpidas de um azul turquesa, faixas de areia macia e um visual de tirar o fôlego. Tudo isso pode e deve fazer parte do passeio para Ilhabela, destino paulista conhecido por suas belas praias. Mas o município-arquipélago – formado por 19 ilhas, ilhotes e lajes – tem muito mais belezas, ecoturismo, história e gastronomia que podem ser desbravados junto com o seu litoral. Esse é o objetivo da recém-lançada Rota Verde e Azul, que também engloba Ubatuba, Paraty e Angra dos Reis.
A rota turística visa mostrar ao visitante que vale a pena dedicar mais tempo explorando a região e sua diversidade. Não raro, turistas aproveitam a proximidade da ilha com o continente para um bate-volta a partir de algumas das praias mais próximas, mas o passeio curto, geralmente dedicado somente à praia, é muito pouco para o que Ilhabela oferece.
Roteiro (inusitado) de três dias em Ilhabela
A Metrópole foi convidada para fazer um roteiro na ilha, proposto pelo Ilhabela Convention & Visitors Bureau, entidade sem fins lucrativos que busca promover o local, que fugisse do óbvio. Distante de Campinas cerca de 300 quilômetros, a viagem, claro, começa com o transporte entre os dois pontos. Ao chegar ao litoral de São Sebastião, último ponto de terra do continente, é preciso pegar a balsa para atravessar para a ilha. Mas, se a ideia é chegar com mais rapidez e conforto, sem filas e com uma vista privilegiada – como fizemos –, é possível alugar uma lancha que vai fazer a travessia em cerca de 30 minutos. Depois de um almoço demorado, a tarde foi tomada por um descanso necessário que começou com uma massagem. Alguns hotéis na ilha oferecem toda a estrutura de um spa para seus hóspedes, com centros de bem-estar isolados da área comum e serviços e profissionais de qualidade.
O segundo e intenso dia começou cedo com a Observação de Pássaros. A atividade acontece dentro do Parque Estadual de Ilhabela, uma área de Mata Atlântica e vida selvagem preservada que abrange 85% da ilha. O passeio é mais procurado por amantes e conhecedores de aves, mas o contato com a natureza que ele proporciona empolga até o mais despreparado no assunto. Não é preciso ter informações prévias, pois os aptos guias apresentam cada espécie avistada (são mais de 390 registradas), conferindo detalhes sobre a sua rotina e importância ambiental. A ilha é fundamental para o desenvolvimento e até ciclo migratório de várias delas. A caminhada durante o trajeto, de cerca de duas horas, é relativamente tranquila e não exige muito do visitante.
Cachoeira da Toca dentro do Parque Estadual (Aline Guevara)
Próxima parada: cachoeira. Existe um dito popular local afirmando que existem 365 cachoeiras em Ilhabela, uma para cada dia do ano. Com águas geladas e cristalinas, três quedas d’água, um tobogã de pedra e uma piscina natural, a Cachoeira da Toca dentro do Parque Estadual oferece um passeio refrescante para quem quer deixar o calor para trás. O entorno, bastante limpo, é estruturado com escadas de madeira e cordas de segurança. Quem cansar de aproveitar as águas do lugar ainda pode aproveitar para conhecer gratuitamente, logo ao lado, o Engenho da Toca, o único ainda em atividade na ilha e que produz cachaças secas e saborizadas. A primeira roda d’água usada na produção construída em 1930, hoje desativada, permanece como ornamento do local.
Ainda coube no roteiro um passeio pelo centro histórico. A ilha teve seu território habitado por indígenas, como mostram pesquisas arqueológicas, por colonizadores portugueses e até piratas, como o inglês Thomas Cavendish, que adotaram o lugar como base para saquear a região. A bonita praça central guarda resquícios nada belos do período escravocrata, enquanto a Igreja Matriz Nossa Senhora da Ajuda e Bom Sucesso, que data de 1806, conserva na arquitetura muito de sua história de mais de dois séculos.
Igreja Matriz Nossa Senhora da Ajuda e Bom Sucesso (Aline Guevara)
No Museu Náutico (com entrada gratuita), inaugurado em 2022, é possível acompanhar algumas das impressionantes histórias de naufrágio locais, incluindo a do “Titanic brasileiro”, o navio Príncipe das Astúrias, que afundou na costa da ilha matando 445 pessoas. Ainda hoje ele é considerado o mais trágico acidente marítimo do Brasil.
Outro museu, o Espaço Cultural Waldemar Belisário, exibe um lado mais colorido do costume local: a exposição permanente da “Congada de Ilhabela”, que apresenta a animada manifestação folclórica caiçara em homenagem a São Benedito, padroeiro do povo negro, que mescla tradições africanas e festividade católica.
Ilhabela também reserva passeios pela história (Aline Guevara)
Para o último dia, antes de pegar algumas horas de volta para Campinas, fizemos um passeio no mar de canoa havaiana, embarcação de até seis lugares. Em Ilhabela, ela tem ganhado muitos entusiastas e sido usada, inclusive, para atividades corporativas. Umas das bases desse tipo de navegação é a boa comunicação em grupo, observação dos seus companheiros de viagem e sincronia. Portanto, se não houver uma harmonia dentro do barco, ele não vai navegar com equilíbrio ou com a rapidez que pode alcançar. De fato, o exercício pode ensinar muito para colegas de trabalho e é uma boa opção para empresas que buscam maneiras de conectar seus colaboradores.
Gastronomia vibrante
A comida da ilha merece destaque à parte. Ao longo dos três dias, a cozinha caiçara deixou uma marca memorável. Apesar de ter uma grande variedade de restaurantes e tipos de cozinha, para todos os gostos, Ilhabela mantém muitos estabelecimentos que trabalham com ingredientes fornecidos pela cidade e arredores. Peixes da época, a banana da culinária indígena que permaneceu presente, frutos do mar frescos. Da entrada à sobremesa, o cardápio da ilha tem tudo para fazer feliz o seu visitante.
Ilhabela surpreende pela diversificada gastronomia (Aline Guevara)
Algumas casquinhas – sim, no plural – de camarão são imperdíveis. Os peixes, nas mais variadas versões, são sempre uma boa pedida, estejam eles em postas, em um refrescante ceviche ou na acalentadora moqueca. São muitas as receitas inusitadas e muito saborosas com frutos do mar: lulas com lascas de amêndoas, polvo com ervas e vinagrete e vieiras gratinadas com molho bechamel são algumas delas. Da área dos doces, saem seleções de sorvetes de frutas da época e sempre há uma alternativa para os chocólatras, de mousse a tortas. Para quem é vegetariano ou não quer ficar somente nos ingredientes marinhos, há sim opções. Massas e molhos artesanais, além de um bom leque de carnes em preparos diversificados, devem agradar o paladar de um público mais amplo.
Seja curtindo o ecoturismo da região, aprendendo com o centro histórico, deliciando-se com a gastronomia caiçara, aproveitando a estrutura dos hotéis e pousadas ou pegando uma bela praia, dá para aproveitar muito mais ao tirar tempo para Ilhabela.
*A jornalista participou de um roteiro turístico a convite do Ilhabela Convention & Visitors Bureau.
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