Na edição de domingo (24) o Correio Popular publicou uma sensacional reportagem abordando um tema que influencia de modo direto, e com repercussões em curto, médio e longo prazo, na saúde e qualidade de vida de nossas crianças: “a frequência em creches na Região Metropolitana de Campinas (RMC)”.Os dados são alarmantes, menos da metade das crianças de zero a três anos estão matriculadas em creches públicas ou privadas. De um total aproximado de 147 mil, apenas 61 mil usufruem desse importante fator de crescimento, desenvolvimento e principalmente educação.Os tempos mudaram, pai e mãe trabalhando fora de casa geram a renda mínima familiar, mas os filhos ficaram à mercê do acaso.Quem será o cuidador dessas crianças órfãs temporárias de pais vivos?Se não há creches, elas são terceirizadas a pseudo babás que simplesmente cuidam das crianças, veja que cuidar é diferente de educar. Ficam aos cuidados de “uma vizinha”, ou “um parente”, ou pior ainda “o irmão mais velho cuida dos mais novos”, mesmo que esse mais velho, muitas vezes, não tenha mais que uma década de vida.Justamente na época mais importante da vida para o desenvolvimento da socialização e da cognição. Esses cuidadores terceirizados são movidos por uma grande motivação de boa vontade, mas falta conhecimento das regras e métodos de ensino, repito: cuidar é diferente de educar.Esse problema é nacional, no Brasil, nascem anualmente 3 milhões de brasileiros. Se a creche é hoje o espaço destinado aos três primeiros anos de vida, há, no país, 9 milhões de usuários potenciais. Somente 17% deles têm acesso a esse recurso indispensável à cidadania.A presidente Dilma prometeu inaugurar 6 mil unidades de creches até 2014. Além de insuficientes em número, jamais se menciona a sua qualidade como real garantia do crescimento físico e desenvolvimento cerebral da criança. Prioriza-se a construção do imóvel. Não se fala do nível educacional dos recursos humanos a serem encarregados de tão delicada missão.As nababescas arenas para a Copa do Mundo já estão quase prontas, sob a vigilância autoritária e exigente da FIFA, mas, e as prometidas creches? Até o momento, do total prometido, apenas 400 foram inauguradas.Nossas crianças são lesadas em direitos cruciais. Governos e sociedade são aliados na prática da grave negligência responsável pelas desigualdades que dizem combater; pela criminalidade, cujas causas ocultam; pelo baixo desempenho profissional, que não querem resolver; e pelas enfermidades do adulto, que ocorrem por falta de prevenção na idade adequada.A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) elaborou importante projeto de lei sobre o assunto. Concebe o Programa Nacional de Educação Infantil para financiar construção, reformas e funcionamento de creches em todo o país. Aprovado no Senado em 2010 tramita na Câmara. O parecer do relator, acreditem, é pela rejeição.A SBP propõe a profissionalização do cuidador da primeira infância, a ser graduado em curso oferecido pelas universidades, com duração de dois anos, tendo como requisito a conclusão do ensino médio. É a forma de assegurar o qualificado nível que a assistência à tenra idade está longe de possuir.Excelentíssima presidente Dilma as crianças precisam de creches e cuidadores profissionais com o indispensável padrão FIFA.