Em 2007, eles deixaram a casa, a escola, os amigos e toda estrutura de vida que tinham montada em Curitiba, no Paraná, para embarcarem rumo ao sonho de conhecer o mundo a bordo do catamarã Bravo. A aventura da família Portela em alto- mar em uma viagem ao redor dos cinco continentes é o mote principal do livro “Bravo- Três anos, três oceanos”, da autora paranaense Claudia Portela, lançado esta semana pela editora Ithala. Nele, ela descreve todas as passagens vividas ao lado do marido, dos três filhos, e do yorkshire Dudu, que mudou definitivamente suas vidas.Em entrevista exclusiva à Gazeta de Piracicaba, Claudia contou detalhes da viagem, que começou a ser planejada em 2003, e demorou dois anos para ser concretizada.”Foi a melhor experiência de nossas vidas”, disse.
Com saída de Paranagá, no Paraná, até a chegada na ilha do Mel, também no Paraná, foram mais de mil dias de navegação pelos oeanos Pacífico, Índico e Atlântico, completando a volta ao mundo. O diário de bordo que Claudia manteve na viagem serviu como base para a obra.
Além das memórias, a autora acrescentou também informações históricas e geográficas de alguns dos locais por onde passaram, deixando o livro ainda mais rico de detalhes e registros. “Guardei panfletos, fôlderes e revistas dos locais por onde passamos que me ajudaram na construção do Bravo”, contou.
A família saiu do Brasil, em 12 de dezembro de 2005, e retornaram exatamente três anos depois: em 12 de dezembro de 2008. No período que estiveram fora do país, os três filhos do casal: Lygia (22), Giovanna (21) e Ricardo (19) eram adolescentes, mas, nem por isso, deixaram os estudos de lado. Numa parceria com o Colégio Positivo, eles conseguiram estudar por meio de apostilas. Quando regressaram ao Brasil, conseguiram validar os estudos.No final deste ano, Lygia se formará em engenharia civil e Giovana em odontologia. Ricardo prestará vestibular.
Claudia disse que o marido (José Ricardo) velejava desde sua adolescência e que ao conhecê-lo, ele estava com 20 anos e, ela, 18. Ela relembra que, logo no início da relação, ele já tinha manifestado o seu desejo de conhecer o mundo por meio dos mares. Porém, esse sonho foi sendo adiado porque primeiro casaram e depois ainda vieram os filhos.
Os planos de viagem só foram retomados quando os filhos chegaram à adolescência. “No começo do casamento tudo é mais difícil, por isso, fomos adiando até que sentimos que era a hora de colocá-lo realmente em prática”. Mas para que isso acontecesse, ela diz que estabeleceram algumas metas e roteiros mesmo conscientes que no mar estavam literalmente à deriva, ou seja, suscetíveis a todos os tipos de acontecimentos e imprevistos.
Durante os três anos que viajaram, o marido de Claudia, que é engenheiro civil, conseguiu administrar os seus negócios pela Internet. Ela, antes de embarcar, decidiu vender a clínica que tinha de psicopedagogia, em Curitiba. “No mar, tudo é diferente. Tínhamos a intenção, por exemplo, de ficar somente três dias nas Bahamas e acabamos ficando um mês depois de conhecermos uma família lá e nos tornarmos amigos deles”.
Em todos os lugares que passaram, Claudia disse que o inglês foi o idioma mais utilizado e que os ajudou muito na comunicação. Ela também conseguia se virar com o francês.
A OBRA
No livro, Claudia relata desde os momentos de preparação em Curitiba para a tão sonhada viagem até a difícil escolha de deixar a vida em terra para embarcar nessa jornada. Já a bordo, Claudia descreve como foi o cotidiano no Bravo, proporcionando ao leitor a sensação de embarcar junto com sua família. O dia a dia, as refeições, as horas dedicadas ao estudo, ao trabalho, ao descanso e lazer também foram relembradas, além dos momentos mais difíceis.
Dentre tantos lugares e experiências incríveis e diferentes que cada um deles viveu, Claudia destacou dois países como “apaixonantes”: Indonésia e Tailandia. Por outro lado, a República Dominicana foi a pior experiência de suas vidas. “Fomos roubados pelos próprios oficiais de lá. Sentimos muito medo. Foi a pior parte de nossa viagem”.
Ela aponta que todos tiveram que superar os diversos desafios, como a saudade do Brasil, as diferenças culturais, e até as tempestades e problemas mecânicos. “A maior dificuldade que enfrentamos foi na rota da pirataria onde sentimos bastante medo. Além disso, a convivência em um espaço tão pequeno, por 24 horas diárias, foi bastante difícil nos primeiros seis meses, depois nos adaptamos e ajustamos as velas.”
A experiência proporcionou momentos únicos para todos, como mergulhos com tartarugas, golfinhos e tubarões, participação em danças típicas na Polinésia Francesa, e até mesmo uma cerimônia de casamento, em Fiji. “Aprendemos demais nessa aventura, como o respeito à vida, aos outros, à natureza, a amizade, o companheirismo e a tolerância. Vimos o quanto somos pequenos nesse universo e passamos a perceber sua beleza.”
A autora nasceu em Curitiba. Ela é psicopedagoga.BRAVO – Três Anos, Três Oceanos é sua primeira obra.