Ontem à tarde, a cooperativa recebeu da Secretaria de Trabalho e Renda uniformes, incluindo calças, camisetas de malha, aventais e jalecos, além de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) (Kamá Ribeiro)
A união de um grupo de mulheres residentes do Residencial Jardim Bassoli, em Campinas, transformou a atividade informal de coleta de materiais recicláveis na Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis Vitória do Jardim Bassoli (CooperBassoli), oficialmente inaugurada no último sábado, dia 23. A sede, situada na rua Wilson Romero, 56, está equipada com prensa, esteira, empilhadeira e containers, com capacidade inicial de triagem de 10 toneladas por mês. Os materiais, como plástico, papel, papelão, madeira, vidro, garrafas PET e equipamentos eletrônicos (sem baterias ou pilhas), serão disponibilizados pela Secretaria de Serviços Públicos, que é responsável pela destinação dos recicláveis às cooperativas de Campinas.
A iniciativa começou com Maria Isabel, que veio de Ilhéus, na Bahia, e chegou em Campinas em 2011. Sem emprego, ela começou a trabalhar como catadora para sustentar sua família. Desde então, lutou pela formalização dessa atividade. "No entanto, sem a posse de um terreno, não poderíamos obter um registro de CNPJ", explicou. Em 2016, uma seleção pública do Fundo Socioambiental da Caixa Econômica Federal foi aberta para o Desenvolvimento Integrado e Sustentável em Territórios (DIST) de habitações do programa Minha Casa Minha Vida, identificando a necessidade de atender à comunidade do Jardim Bassoli. Assim, a cooperativa surgiu como uma demanda para que as sete mulheres fundadoras pudessem continuar atuando no setor, bem como para ajudar na revitalização do bairro, que enfrenta problemas com o descarte irregular de lixo.
Em 2022, o registro foi oficializado, garantindo o uso do terreno para reciclagem, além da construção da sede e do galpão onde o maquinário foi instalado. O secretário municipal de Trabalho e Renda, Artur Orsi, explicou que a ação do poder público visa oficializar e estruturar um trabalho que já era realizado de forma autônoma, proporcionando condições de trabalho dignas e sanitárias para as mulheres. Com o CNPJ, a construção da sede e o maquinário disponível, a cooperativa agora opera como uma empresa. "É um empreendimento gerido e administrado por elas", afirmou. A consolidação do projeto foi possível graças a uma parceria estratégica entre a Fundação FEAC, o poder público municipal, a cooperativa Amater e a consultoria Demacamp, que, além de fornecerem a estrutura física, ofereceram capacitação em gestão administrativa e financeira, bem como em políticas nacionais de resíduos sólidos para as cooperadas, com o apoio do Fundo Socioambiental da Caixa. "É um sonho realizado. Foram 13 anos de muita luta e agora a cooperativa está de portas abertas, especialmente para nós, mulheres, que precisamos trabalhar e cuidar dos filhos", declarou Maria Isabel.
Essas ações são destinadas a pessoas em situação de vulnerabilidade social, com baixa escolaridade e sem acesso ao mercado formal de trabalho. A mobilização das mulheres foi crucial para legitimar juridicamente e politicamente o trabalho desenvolvido em torno da reciclagem. "No empreendimento popular (Minha Casa Minha Vida do Jd. Bassoli) vivem 2.380 famílias, das quais 18.74% estão inscritas no CadÚnico (cadastro do Governo Federal necessário para acessar o Bolsa Família), configurando uma situação de extrema pobreza", contextualizou Karina Capelli, especialista em inclusão produtiva da Fundação FEAC. Ela destacou que iniciativas como a CooperBassoli são essenciais para ajudar a reverter esse cenário econômico nas comunidades.
No âmbito do Programa Municipal de Economia Solidária, a CooperBassoli é uma das 13 cooperativas geridas pela Secretaria de Trabalho e Renda, que se encarrega da fiscalização, planejamento da instalação de equipamentos, supervisão das ligações de água e luz, disponibilização de vale-transporte e oferecimento de suporte aos cooperados. Segundo o secretário Artur Orsi, a área do Bassoli é estratégica para uma cooperativa de reciclagem, pois proporciona oportunidades de trabalho digno e geração de renda para os envolvidos, "além de contribuir para o aumento do volume de materiais reciclados no município".
Maria Ivone de França, secretária da cooperativa, compartilhou que seu envolvimento com a reciclagem vem desde a infância. "É meu jeito de ser. Trabalho com isso, desde a separação até o reaproveitamento do que foi descartado. Para muitos, é lixo; para nós, é uma riqueza que nos garante a sobrevivência." Ela também mencionou que sua filha se formou em jornalismo, graças ao esforço do marido que pagou a faculdade, enquanto a renda da reciclagem cobriu as despesas de alimentação e outras contas. Eliana Terezinha Pereira da Silva, conhecida como Naná, tesoureira da cooperativa e a mais experiente do grupo com 62 anos, é divorciada há seis anos, mãe de dois filhos e avó de dois netos de 15 e 6 anos. "Sou o pilar da minha família, uma mulher guerreira, e estou muito feliz por trabalhar com minhas amigas." Ela destaca que a atividade de reciclagem é digna e que, com a estrutura da cooperativa, será crucial para a renda das mulheres. "Todas elas têm filhos pequenos e, com esse dinheiro, poderão comprar alimentos, sem precisar pedir ajuda aos vizinhos."
Ontem à tarde, a cooperativa recebeu da Secretaria de Trabalho e Renda uniformes, incluindo calças, camisetas de malha, aventais e jalecos, além de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como luvas, protetores auriculares, botas de borracha e óculos de proteção. "Isso garante que possamos trabalhar com segurança", afirmou Isabel Silva Barbosa, conselheira fiscal. O secretário Artur Orsi destacou que "continuaremos a oferecer cursos de capacitação, materiais de segurança e a fiscalizar o trabalho para garantir que o grupo atue em conformidade com as normas técnicas necessárias".