Após Simone Biles e Naomi Osaka jogaram luz sobre os temas, no Brasil foi a vez da ginasta Flávia Saraiva e da atleta paralímpica Verônica Hipólito falarem abertamente
Flávia Saraiva conta que seu drama começou em 2018, quando sofreu com burnout, um distúrbio psíquico causado por exaustão e geralmente relacionado ao excesso de trabalho (Flávia: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br Verônica: Washington Alves/CPB)
A saúde mental dos atletas tem se tornado um tema cada vez mais presente no esporte. Nos últimos meses, nomes como Simone Biles e Naomi Osaka jogaram luz sobre o tema, fazendo com que outros atletas se pronunciem sobre o assunto. No Brasil, foi a vez da ginasta Flávia Saraiva e da atleta paralímpica Verônica Hipólito falarem abertamente sobre o tema. Elas revelaram terem sofrido crises de ansiedade e burnout durante a carreira e contaram como superaram os episódios com ajuda psicológica.
Flávia Saraiva conta que seu drama começou em 2018, quando sofreu com burnout, um distúrbio psíquico causado por exaustão e geralmente relacionado ao excesso de trabalho. A ginasta conta que não conseguiu treinar com afinco durante o período, perdendo a capacidade de realizar exercícios nos quais sabia executar, mas não tinha concentração para fazê-los.
"Eu fiquei dois meses sem dormir. Dormia três horas por noite e treinava sete horas por dia. Fiquei desesperada. Tinha vontade de chorar o tempo todo. Eu entrava no ginásio e falava: 'preciso ir embora'", disse a atleta no Liga NESCAU Summit, congresso digital voltado para profissionais de educação física.
A ginasta revelou que a cura só veio quando aceitou que deveria primeiramente cuidar de si antes de voltar aos treinos e iniciou um tratamento com uma psicóloga, destacando que apoio de familiares e do próprio treinador foi essencial para sua recuperação. "Não é simples, nem fácil. Fui para um período de dois meses de treinos em Portugal e só chorava. Ligava para minha psicóloga no meio do treino, com falta de ar", disse "E eu não sabia o porquê. E ela me ajudou 100%. Me fez entender que eu precisava me aceitar."
Medalhista no Rio-2016, a velocista paralímpica Verônica Hipólito, por sua vez, conta que vivenciou fortes crises de ansiedade devido à pressão para voltar a competir em um momento que precisou se ausentar para cuidar de sua saúde. Há pelo menos cinco anos a atleta trata um tumor no cérebro, tendo se submetido a três cirurgias para a sua retirada. Atualmente, ela faz sessões de radioterapia e diz ter aprendido a separar cada momento, para que um não interfira no outro.
"Meu psicólogo me ajudou muito a entender que eu não assumia o medo. Eu sentia medo de me paralisar. Só ficava pensando no que iria acontecer. Hoje, tenho a hora da rádio e a hora do treino. E entendo que, no meu tempo de treinar em altíssimo rendimento, preciso blindar as fraquezas até transformá-las em pontos fortes."
Durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, Flávia Saraiva integrou a equipe de ginástica brasileira. A ginasta conseguiu superar uma lesão no tornozelo durante a competição e alcançou a final, apesar de não ter subido ao pódio. Já Verônica não alcançou índice olímpico, mas se destacou nas redes como comentarista do canal SporTV. Ambas iniciaram os treinamentos para a Olimpíada de Paris, em 2024.