HENRIQUE NUNES

Eu também vou reclamar

Henrique Nunes
henrique.nunes@rac.com.br
02/10/2013 às 20:49.
Atualizado em 25/04/2022 às 01:09

Não é pela educação, pelo passe livre ou pela saúde. Também não tem nada a ver com a corrupção. As más condições de trabalho desta vez não estão em pauta. O mundo não melhorou da noite para o dia e eu nem sei mais do que reclamar para fazer sucesso ou vender disco de protesto, caro Raul. Reclamo é do tédio, da falta de assunto, da mania de se queixar só para não deixar passar em branco. Reclamo, isso sim, do mau humor que esconde os dentes dos boleiros até mesmo após um gol de placa. Saiu o temor por represálias, entrou o falatório sem eira nem beira, verborragia pura e sem tempero, crítica infundada sobre tudo e sobre todos, xingamento, bate-boca, choradeira displicente, reticente e intransigente.A bola da vez, mais do que nunca, é deixar sempre uma frase de efeito moral para disfarçar a furada, o gol perdido, o morrinho artilheiro que desvia o foco e define o resultado.Não há nada mais chato que boleiro engajado. Geralmente são atletas medianos, desses que não desequilibram em campo e ficam à espera do microfone para mostrar que estão antenados com a situação do mundo, da crise econômica, dos motins na Síria e tudo o que sabemos mais ou menos, mas, no fundo, não entendemos nada.Lembro de Paulo André: boa pinta, pintor, escritor, militante profissa, o legítimo meio intelectual meio de esquerda daquela crônica do Antonio Prata. Fala muito esse Paulo André. Só falta começar a jogar bola. Porque, caso contrário, ninguém vai dar bola para o que pensa e faz para melhorar a categoria.Até Seedorf, que decepção, tem falado mais do que deveria — coincidência ou não, seu futebol sumiu assim que abriu a boca para contrariar o óbvio.Mas quem anda num falatório incessante é o meia Alex. O craque, que não sabia exatamente explicar por que o Coxa caiu tanto de rendimento, botou a culpa no horário das partidas.E quem pensa que o líder Cruzeiro é só sorrisos está enganado. No início da semana, a diretoria da Raposa resolveu reclamar na CBF dos cartões amarelos que seus jogadores têm recebido.Nem a bola feita exclusivamente para este Brasileiro escapou do engajamento da boleirada: o peruano Paolo Guerrero botou a culpa nela pela péssima fase.Sorte que ninguém levou a sério a desculpa do camisa 9 corintiano. Não, não é pela educação, pelo passe livre, pela corrupção, pela saúde ou pela bola. É, sinceramente, apenas por mais futebol e menos discurso.

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