O time de rugby em cadeira de rodas da Adeacamp que chegou ao pódio no Brasileiro: evolução (Divulgação)
Era apenas um treinamento de mergulho, mas que deixou marcas profundas. No momento em que aprimorava sua prática na natação, a jovem Kamila Fernanda Lisboa, então com 18 anos, não conseguiu evitar o impacto da cabeça contra o chão da piscina e a fatalidade. A lesão medular na altura da sexta vértebra cervical deixou tetraplégica a garota que, na ocasião, havia descoberto novas possibilidades no esporte, também com práticas de kung-fu e basquete. “Utilizo cadeira de rodas em 100% do tempo”, diz hoje ela, que ainda busca se adaptar à nova realidade, mas sem abrir mão de sua grande paixão.
No último dia 27 de setembro, Kamila era uma das mais empolgadas entre os componentes do time de rugby em cadeira de rodas da Adeacamp com a medalha de bronze no peito. Dois anos depois do acidente que mudou sua vida, ela celebrou a presença no pódio do Campeonato Brasileiro da modalidade, em São Paulo, como um símbolo de superação. “Ao conhecer o rugby em cadeira de rodas meu mundo se expandiu”, afirma. “Vi que, mesmo sendo tetraplégica, poderia fazer muitas coisas que achei que não faria mais.”
Kamila começou a praticar o novo esporte na Adeacamp (Associação dos Esportes Adaptados de Campinas) entre março e abril de 2023. “Um amigo me convidou para conhecer”, disse. No início, ela conta que teve dificuldades de adaptação. “Nos primeiros dias, ainda sem uma cadeira específica para a prática, fazia treinamentos à parte, mas depois fui inserida nas atividades do time.”
O ano de 2024 é seu primeiro de competição, e a atleta de 20 anos, a mais jovem em idade da equipe, vivenciou grandes experiências: a Adeacamp conquistou o pódio em todos os campeonatos que disputou até agora, com o título da Copa Bebedouro e do Torneio Regional Paulista, a medalha de prata na Taça Paraná e o bronze no Brasileiro. “Acho que para uma atleta em iniciação estou indo bem, porém ainda há muito o que aprender e melhorar”, diz a jovem.
O diretor da Adeacamp, Luiz Marcelo da Luz, explica que a inserção de Kamila no projeto é fruto do trabalho da associação de busca de potenciais atletas em hospitais e clínicas de recuperação. “É uma busca ativa. Fazemos visitas, apresentações e solicitamos encaminhamentos”, conta Da Luz, que detalha sobre a descoberta de Kamila. “Ela é oriunda do Centro de Reabilitação Lucy Montoro, onde fizemos um trabalho específico, e está indo muito bem. É seu primeiro ano de competição, com excelente participação em todas as nossas campanhas até agora em 2024”, reforça o diretor.
EVOLUÇÃO
Precursora do rugby em cadeira de rodas no país e primeira equipe tetracampeã nacional, a Adeacamp passou por uma fase difícil nos últimos anos, mas agora celebra a evolução. Segundo Da Luz, o bom momento atual é fruto de uma gestão profissional. “Recursos obtidos por meio de leis de incentivo e outras variáveis permitiram que repatriássemos um técnico de nível de seleção brasileira e formássemos uma equipe forte”, resumiu o diretor.
O treinador da Adeacamp é o mestre em atividade física adaptada pela Unicamp, Rafael Botelho Gouveia, que trabalhou no time entre 2009 e 2012 e foi campeão brasileiro de rugby em cadeira de rodas pelo Minas Quad Rugby em 2022. Em relação ao time, um dos destaques é Charly Montoya, atleta da seleção colombiana e eleito o melhor jogador do Campeonato Brasileiro disputado no final de setembro.
A competição, que está em sua 16ª edição, aconteceu entre os dias 23 e 27 no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, e reuniu seis equipes na primeira divisão. O Santer, do Rio de Janeiro, e o Gladiadores, de Curitiba, foram campeão e vice, respectivamente. O Gigantes, outra equipe de Campinas, ficou na quarta colocação.
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