Gabriela passou a treinar luta de braço com 12 anos de idade
Gabriela Vasconcelos é 34 vezes campeã mundial e vai virar o ano na liderança do ranking (Divulgação)
Os gritos são comuns entre os atletas nas competições de luta de braço. Muitas vezes, usar as cordas vocais para descarregar a tensão ou carregar as energias faz parte da estratégia. Há quem, no entanto, prefira o silêncio. Esse é o caso de Gabriela Vasconcelos. Apelidada por um narrador inglês de Iron Angel (Anja de Ferro) por ser forte, porém quieta, a brasileira nascida em Campinas deixa que os números falem por ela. São nada menos do que 34 títulos mundiais conquistados em 22 anos de carreira.
“Sou quietinha”, brinca a fera de 34 anos, que compete pelo Centro de Treinamento de Luta de Braço de Indaiatuba. Ela vai virar o ano na primeira colocação do ranking mundial, posição conquistada em agosto, quando derrotou a atleta da Lituânia Egle Vaitkute, então a melhor do mundo, no torneio East x West, em Istambul, na Turquia. Com a vitória, a campineira se tornou campeã mundial absoluta (sem limite de peso). “Foi um desafio melhor de cinco e eu ganhei nos dois braços, 3 a 1 de esquerda e 3 a 0 de direita”, comemora a atleta, que fez uma preparação especial para derrotar a forte adversária. “Foquei na melhor estratégia para vencer. Já tinha lutado com ela algumas vezes e não tive a menor chance”, lembra.
A primeira defesa do título acontecerá em janeiro. A adversária será a atual campeã mundial da categoria +90kg, a eslovaca Barbora Bajciova, que se caracteriza pelo porte físico bem mais avantajado que o de Gabriela. “Tenho 1,57m de altura e ela é muito mais alta do que eu. Nunca a enfrentei. Estou trabalhando estratégias para poder fazer o melhor”, diz a campineira.
TRAJETÓRIA
Ginasta do Regatas quando criança, Gabriela passou a treinar luta de braço com 12 anos de idade. A sua primeira competição foi o Campeonato Paulista que ela disputou na categoria adulta, mesmo sendo pré-adolescente. Terminou em primeiro lugar no braço direito e em segundo no braço esquerdo. “Isso, só com três semanas de treino”, conta. A partir de então, os títulos vieram em sequência.
O primeiro Mundial foi conquistado com 15 anos de idade. E foram quatro em um mesmo ano: um em cada braço e os outros dois nas categorias adulta e juvenil. Em sua categoria de peso atual, +80KG, ela está invicta desde 2013.
O número de países conhecidos já foge da memória. Hungria, Rússia, Inglaterra, Bulgária, Estados Unidos, Canadá, Cazaquistão, Polônia, Holanda, Malásia, Japão e Romênia estão entre eles. Hoje, Gabriela organiza campeonatos com seu próprio nome e consegue atrair destaques mundiais. O primeiro foi em 2018, em Campinas. Depois em 2020, durante a pandemia, as disputas aconteceram em um estúdio numa Universidade de São Paulo. E o terceiro está programado para o dia 28 de janeiro, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Será o Gabriela Vasconcelos International Tournament.
“Já há dez países confirmando participação, com forte presença de atletas da América Latina. Será uma oportunidade para alguns destaques de países vizinhos mostrarem seu valor, já que dificilmente eles têm essa chance.”
Apesar de ser destaque mundial na luta de braço, Gabriela não tem patrocínio. “Desde 2010, banco minhas viagens para as competições”, revela. Integrante da Federação Paulista da modalidade, ela diz que existe a perspectiva de que a Confederação Brasileira volte a custear passagens para os atletas, conforme acontecia no passado. A suspensão aconteceu pelo fato da entidade não estar em conformidade com os critérios estabelecidos pelo Governo Federal.
Treinada por Vitor Munoz, definido por ela como o melhor treinador do Brasil, Gabriela também não abandona sua paixão pela ginástica artística, modalidade na qual começou no esporte. Ela é treinadora no GOC (Ginástica Olímpica Campinas) e dá aulas para meninas que competem em torneios oficiais. “Na ginástica eu comecei pela paixão. Nunca fui tão boa na modalidade, mas extremamente dedicada. Já na luta de braço eu fui boa desde o começo, mesmo sem gostar muito, mas depois de muito tempo de prática também me apaixonei por esse esporte”, compara. E na disputa entre luta de braço e ginástica artística na preferência da atleta, quem é o ganhador? Dá empate, garante Gabriela.
Gabriela passou a treinar luta de braço com 12 anos de idade (Divulgação)