Escalada Esportiva faz parte do cardápio dos Jogos Olímpicos
Thais Makino participa de competições de escalada (Carol Coelho)
Em um universo esportivo com predomínio do futebol, diversas modalidades enfrentam dificuldades para conseguir espaço, patrocínio e seguidores. Um dos que desafiam o monopólio do futebol em busca de um lugar ao sol é a Escalada Esportiva, que estreou em 2021 no cardápio dos Jogos Olímpicos de Tóquio e deve firmar-se na edição marcada para Paris, em 2024. Os atletas praticantes da modalidade no Brasil querem pegar carona na onda e expandir as fronteiras.
Técnicos e atletas afirmam que a afirmação da Escalada Esportiva no principal evento esportivo do planeta foi o estopim para a inauguração de um círculo virtuoso de construção de um espaço maior de presença na opinião pública, com mais visibilidade e com possibilidade de atrair investimentos.
Para o técnico da Seleção Brasileira de Escalada, Artur Gáspari os efeitos já são sentidos no dia a dia. “Mais do que o número de praticantes, o aspecto positivo foi o incremento na quantidade de espaços (para a prática do esporte”, afirmou o treinador. “Esse holofote que a Escalada ganhou fez com que aumentasse o número de ginásios que oferecem o esporte”, disse em entrevista a Rádio Brasil Campinas.
A Escalada tem suas peculiaridades. Em primeiro lugar, Artur Gáspari conta que como treinador da Seleção Brasileira, ele não tem a liberdade para convocar os atletas segundo seus critérios pessoais. O elenco é formulado a partir de um processo seletivo e que tem como base a escolha dos atletas que ficam nas posições principais das competições realizadas em território nacional no ano anterior.
Para ficar apto nos eventos programados, o padrão direcionados aos atletas é que os treinos aconteçam de quatro a seis vezes por semana. Alguns profissionais precisam de treinamentos com preparadores físicas ou de fisioterapia.
Ao contrário do que alguns pensam, a Escalada está longe de ser ignorada no cenário esportivo mundial. Pelo contrário. “No Japão os escaladores são estrelas com direito a foto de metrô. E em países como França, Itália, Alemanha também são famosos por causa do Alpinismo, que é um esporte popular nestes locais”, completou a atleta Thaís Makino.
Como evoluir? De que maneira obter resultados positivos? Para Artur Gáspari, a Associação Brasileira de Escalada Esportiva já traça um caminho interessante com a presença de patrocinadores que auxiliam na sustentação da entidade e no planejamento de eventos. “Ainda são raríssimos os atletas que conseguem viver no Brasil apenas da escalada. Algo precisa ser feito e o caminho ficaria mais fácil se a Escalação fosse transmitida pela TV Aberta”, completou.
A temporada foi encerrada no final do mês de setembro, com a realização do Campeonato Brasileiro. A temporada recomeça entre os meses de março e abril do ano que vem.
ASSOCIAÇÃO BUSCA ALTERNATIVAS PARA BUSCAR NOVOS TALENTOS
Diante da ausência de exposição nos principais torneios internacionais, a Associação Brasileira de Escalada Esportiva prefere fazer um trabalho de “formiguinha”. E duas estratégias distintas são colocadas em prática para propagar o esporte e revelar novos talentos.
A primeira tática é a utilização de ginásios e espaços comerciais para que o público pratique a escalada de modo despretensioso. “A pessoa vai na base da curiosidade. Ou pratica a escalada em um ginásio com o equipamento ou em locais ligados a Associação”, disse o técnico da Seleção Brasileira de Escalada, Artur Gáspari. “Como estes locais são ligados a Associação (Brasileira de Escalada Esportiva), a gente monitora o que acontece”, disse Gáspari.
Outra estratégia adotada pela Associação Brasileira de Escalada Esportiva é o programa de Técnicos de Escalada Brasileira. O mecanismo é inaugurado em todo final de ano, quando a própria Associação abre um edital para abrir espaço para participantes do programa. Se o projeto é aprovado, o treinador selecionado é financiado pela Associação Brasileira de Escalada Esportiva para realizar treinamentos com até duas turmas de jovens atletas.
Em contrapartida, o treinador tem a obrigação de levar esses candidatos a atletas em um evento anual de escalada. “E estes eventos viram uma grande avenida para aparecimento de novos atletas”, arrematou Artur Gáspari. Na atualidade, existem 10 projetos de treinadores que são financiados pela Associação Brasileira de Escalada Esportiva.
Competições de escalada (Carol Coelho)
CONHEÇA AS FORMAS DE COMPETIÇÃO DA ESCALADA
Existem três modalidades de competição na Escalada Esportiva. Cada uma oferece um grau de dificuldade. A primeira é a Escalada de Velocidade. Neste modelo de competição, o competidor tem uma parede de aproximadamente 15 metros de altura para escalar. Ele tem duas vias (caminhos) padronizados e que ficam lado a lado. Via é o nome dado a sequência de agarras que formam a rota da escalada. O vencedor será aquele que percorrer a escala no tempo mais curto.
O segundo estilo é Boulder. Este modelo de competição é caracterizado por exigir que os atletas superem dificuldades e problemas pontuais colocados na parede, que mede de quatro a cinco metros de altura.
Para dificultar os atletas existe uma parede com forte inclinação e que contém rotas que devem ser percorridas em até cinco minutos para resolver os desafios deixados no trajeto. Vence quem conseguir escalar a maior quantidade de desafios e em um menor número de tentativas.
A terceira categoria é a Escalada guiada. Os percursos são feitos em uma parede de aproximadamente 15 metros. Ao contrário de competições com vias padronizadas, a norma nesta competição é apresentar vias que os escaladores não conhecem e com alto grau de dificuldade. Conforme o atleta sobe em seu trajeto existe a possibilidade de utilização de uma corda de proteção. Fatura o primeiro lugar quem escalar mais alto ou alcançar a garra mais alta da parede.
Todas estas variações presentes nas categorias estiveram presentes no Campeonato Brasileiro da modalidade, realizado de 23 a 28 de setembro em Curitiba-PR. Um dos destaques foi a catarinense Anja Kohler, que venceu na categoria guiada e na Boulder. Na guiada masculina, o primeiro lugar ficou com o paulista Felipe Ho Foganholo. Já categoria velocidade, o primeiro lugar ficou com o paranaense Pedro Yukio Egg no torneio masculino e com a paulista Júlia Brandão no feminino. No Boulder masculino, a medalha de ouro ficou com Rodrigo Iasi Hanada.
Atleta atuante na escalada desde a adolescência, Thayss Makino admite que o custo para aquisição e manutenção dos equipamentos ainda é um obstáculo para acelerar a expansão da Escalada Esportiva no Brasil. “Infelizmente os valores ainda não são acessíveis.
Mas a modalidade boulder ainda é bastante acessível se compararmos com as outras duas (velocidade e guiada), afirmou Thais Makino. Segundo ela, o motivo da categoria Boulder ser mais acessível é que, como não há necessidade de utilização da corda, na prática o custo fica mais próximo do aceitável.
Ela também disse que os primeiros passos no esporte podem ser feitos com um tênis normal. “Mas não é o ideal”, arrematou.
Thais Makino tem experiência para dissertar sobre o tema pois já foi campeã nacional na categoria Guiada nos anos de 2010, 2018 e 2020 e faturou em quatro oportunidades a competição nacional na categoria Boulder: 2012, 2016, 2018 e 2020.
Em relação aos equipamentos necessários, na categoria boulder e na de velocidade a necessidade é de apenas um par de sapatilhas e um pequeno saco de magnésio, utilizado para o atleta secar as mãos e assim evitar algum escorregão e falha na escalada. Já na Guiada é necessária uma cadeirinha também chamada de baudrier, que é uma espécie de cinto que liga o escalador à corda. O custo médio é de R$ 800, mas em boa parte das academias e ginásios existem equipamentos disponíveis para aluguel.