CONCENTRAÇÃO, TÉCNICA E FORÇA

Taekwondo, orgulho do passado, foco no futuro e busca de novos atletas

Após ser representada por Diogo Silva e Natália Falavigna, Campinas investe em novos nomes

Esportes Já
21/11/2022 às 10:22.
Atualizado em 21/11/2022 às 10:22
Larissa Pirola (à direita) já participou de campeonato mundial e briga para retornar à seleção brasileira; (Divulgação)

Larissa Pirola (à direita) já participou de campeonato mundial e briga para retornar à seleção brasileira; (Divulgação)

Responsáveis pela popularização do taekwondo no Brasil, os atletas Diogo Silva e Natália Falavigna levavam o nome de Campinas nas competições nacionais e internacionais das quais participavam. A cidade fez parte da formação da dupla, que despontou em Olimpíadas e Mundiais entre os anos de 2004 e 2012. Hoje, a modalidade em Campinas enxerga com orgulho o passado, mas o foco está no futuro. E, apesar das dificuldades financeiras, as perspectivas são boas.

Larissa Pirola, primeira colocada no ranking brasileiro na categoria até 73kg, já é um nome forte da Associação Keumgang, de Campinas, na busca por resultados. Sua expectativa é retornar à seleção brasileira em fevereiro, numa seletiva de disputa de vaga, para voltar a representar o país no Exterior.

A menina, que iniciou as atividades aos 4 anos por recomendação médica e alcançou a faixa preta com 13, se transformou numa competidora de nível internacional. “Em 2016, fiz três lutas no Mundial do Canadá representando o Brasil. Infelizmente, perdi na disputa por medalhas”, relembra, citando o momento mais marcante de sua ainda curta trajetória – ela tem 22 anos. Também na equipe de competição está Maria Gabriela, que já conquistou títulos a nível estadual e é um exemplo da importância no investimento da equipe em projetos voltados à área social. De aluna, ela passou à condição de professora em um trabalho no Parque Anhumas (região do Cafezinho), na periferia da cidade.

“Sempre fui apaixonada por esporte e, como não tinha condições de pagar aulas, vi no projeto a porta aberta que eu precisava. Aí comecei a participar das aulas há quatro anos”, conta Maria Gabriela, que venceu as adversidades com determinação. “Eu acho que comecei tarde, já tinha 20 anos, e além de tudo eu era obesa. Mas sempre dei o meu máximo”, conta a atleta, que hoje, como professora, tenta mudar a mentalidade das pessoas do bairro em relação ao taekwondo. “Algumas famílias acham que os filhos podem ficar agressivos por se tratar de uma luta, mas é exatamente o oposto o resultado”, explica a atleta de 24 anos, acrescentando também o pouco valor atribuído à modalidade na área em que dá aula e mora. “Na região, todos só querem saber de futebol.”

Vitor Cardoso, que já chegou a treinar com Diogo Silva e Natália Falavigna e é técnico da associação e também da seleção paulista, retrata o desafio do trabalho na periferia. “No Cafezinho (como é conhecida a área de invasões na região Leste de Campinas) lidamos com crianças e adolescentes com depressão, síndrome do pânico e muitos órfãos, abandonados pela família”, descreve. “No início do ano, houve uma enchente na área e a quadra para treinos ficou alagada. Os alunos se dispersaram, mas aos poucos estamos conseguindo trazê-los de volta”, comenta, lembrando que o projeto na região já chegou a contar com aproximadamente 35 participantes, entre crianças e adolescentes.

Outro trabalho social da Associação Keumgang começou há três meses no Jardim São José e o número de fichas de inscrições do projeto voltado para crianças já chega a mais de 30. No barracão, cedido pela Secretaria de Esportes e Lazer da Prefeitura, a tarefa também é desafiadora. “Uma vez, percebemos que um aluno estava faltando há vários dias. Fui procurar saber o motivo e me falaram que o garoto não tinha roupas e nem calçados para poder ir treinar. Era uma criança que passava fome também”, retrata Cardoso.

Para tentar contribuir na mudança de realidade das crianças e adolescentes tanto do Cafezinho quanto do São José, a associação trabalha a parte psicológica dos participantes com a ajuda dos atletas de competição. As palestras fazem parte do processo. “Por meio do esporte, tentamos passar a mensagem de que eles são capazes”, diz Cardoso. “A maioria não tem esperança, mas os atletas vão nas aulas, contam suas histórias e tentam passar ânimo.” 

Luta além do tatame

Para os integrantes da Associação Keumgang, crescer no taekwondo como atleta e ainda investir na busca por novos talentos é preciso muita luta que vai além do tatame. A participação em competições, por exemplo, depende muitas vezes de recursos provenientes de doações. “Buscamos parceiros”, resume Cardoso. “Às vezes, um empresário se sensibiliza e investe. Mas são recursos pontuais. Quando detectamos que precisamos de mais um pouco, cada atleta doa o que pode e também organizamos rifas, fazemos feijoada e pizzas para vender e assim vamos.”

A busca por parcerias se estende também para a manutenção dos projetos sociais. “Os professores são voluntários e buscamos parceiros, principalmente para investir nos alunos, pois muitos nem uniforme têm”, expõe o técnico da associação. Entre os colaboradores frequentes estão o Mahalo Saúde (fisioterapia), WellFit (musculação), Falco Moura (preparador físico), Mateus Benelli (nutricionista) e Karina Saraiva (psicóloga).

A expectativa da equipe é que a Associação Keumgang Sports Campinas comece a concorrer a partir do próximo ano ao Fundo de Investimentos Esportivos de Campinas (Fiec). A entidade ainda está em fase de implantação na área jurídica e vai em busca do recurso da Prefeitura como forma de apoio para a manutenção da tradição do taekwondo na cidade.

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