O roteiro de Robson Barbosa começou a mudar há dois anos .Especialista nas provas de 1.500 metros e de 5.000, Robson Barbosa passou a competir na categoria T12, que concede opção de utilizar um atleta guia e com apoio (Divulgação)
O esporte tem a capacidade de traduzir em forma de gente algumas expressões e palavras. O conceito pode ser aplicado em Robson Barbosa, que com apenas dois anos de atividades no atletismo paralimpico já viabilizou resultados positivos e é uma das esperanças da equipe de atletismo da Associação Paraolimpica de Campinas (APC).
Aos 43 anos, Robson Barbosa não tem o lamento em seu dicionário. Sua história é um livro vivo de como transformar uma conjuntura adversa em sucesso.
Praticante de esportes desde os seis anos de idade, logo cedo teve que começar a se preparar para perder a visão devido a um diagnóstico de Glaucoma e que já tinha vitimado o seu pai. Robson não queria desistir. E nem voltar atrás. Queria viver uma vida plena e com sentido.
O roteiro começou a mudar há dois anos. Ele compareceu a uma festa de um amigo, também portador de deficiência visual e que estava integrado a equipe de atletismo da APC. Foi convidado a fazer um teste para verificar se tinha aptidão para entrar no mundo das modalidades paralimpicas. Foi aprovado e não parou mais de treinar e competir.
Especialista nas provas de 1.500 metros e de 5.000, Robson Barbosa passou a competir na categoria T12, que concede opção de utilizar um atleta guia e com apoio. Está um nivel acima do T11, que obriga a utilização de um atleta guia e é diferente da categoria. T13, que não permite a utilização de atleta atleta-guia e nem de ser auxiliado por um apoio em caso de participação de uma prova de salto. Apesar de encontrar-se na categoria T12, Robson Barbosa não utiliza guia e nem tem apoio.
Mas isso não lhe traz dissabores. Pelo contrário. Para evitar contratempos, Robson Barbosa utiliza técnicas e estratégias. Uma delas é utilizar a faixa branca das pistas de atletismo como referência para percorrer as distâncias. “No início eu tive bastante dificuldade por causa do equilibrio e da localização. Com treinamentos e atividades educativas a gente conseguiu se adaptar e competir”, afirmou Robson Barbosa.
A conjuntura não impede que Robson Barbosa seja submetido a uma pesada rotina de treinamentos. As atividades são realizadas de segunda a sábado. Ás terças e quintas, Robson Barbosa bate ponto no Centro de Treinamento de Alto Rendimento, localizado no bairro Swiss Park, em Campinas. Nos outros dias da semana, a ordem é acordar as 04h e utilizar um estacionamento próximo da sua residência para fazer a carga de treinamentos determinada pelo seu técnico João Geovani. ”Como tenho senso de localização e conheço bem o local, não tem problema. E nesse horário (04h) não tem nenhum movimento”, disse Robson Barbosa. As atividades podem durar de 40 minutos a 01 hora e 20 minutos.
Em pouco tempo de atividade no atletismo paralimpico, Robson Barbosa já colocase entre os cinco primeiros localizados no ranking da modalidade. No Campeonato Brasileiro realizado neste ano, o atleta sediado em Campinas ficou em terceiro lugar nos 1500 metros e repetiu a colocação nos 5000 metros.
Robson Barbosa tem esperança de dias e resultados melhores. Especialmente pelo espirito democrático do movimento paralimpico, em que cabem atletas e sonhos de todas as idades. “Tem gente competindo com 45, 46 anos. Quem treina mais consegue competir”, completou o atleta.
Robson Barbosa é mais um fruto do trabalho desenvolvido pela Associação Paraolimpica de Campinas, APC. Fundada em 2007, a entidade nasceu com a meta de trazer oportunidades de prática esportiva para pessoas com deficiência. Os responsáveis pela entidade afirmam que tal preceito tem o objetivo de gerar inclusão e cidadania com os participantes, que podem atuar no instituto desde a formação esportiva até o alto rendimento.
Neste contexto, além de pessoas com deficiência visual, como Robson Barbosa, a APC trabalha com pessoas com deficiência visual e pessoas com deficiência intelectual. “Desenvolvemos o atletismo e a natação. Iniciamos o atendimento de crianças desde os 08 anos até os adultos maduros”, afirmou o gerente de projetos Luiz Marcelo.
Os treinamentos do atletismo são realizados no Centro Esportivo de Alto Rendimento, no bairro Swiss Park enquanto que as aulas e treinamentos de natação são realizadas na unidade do SESI próxima a rodovia Santos Dummont e na Faculdade de Educação Física da Puc-Campinas. A equipe de alto rendimento, por sua vez, conta com 15 atletas em cada uma das modalidades assistidas pela APC.
Para sustentar toda essa estrutura, Luiz Marcelo afirma que a entidade tem duas fontes de financiamento. A primeira é o Fundo de Investimento do Esporte de Campinas (FIEC) , vinculado a Secretaria Municipal de Esportes. Outra parte de recursos são obtidas pela Lei Federal de Incentivo ao Esporte. “Dependemos da iniciativa privada apoiar esses projetos pela lei federal, em que o governo abre mão de uma parte dos impostos e repassa a entidade”, explicou Luiz Marcelo.
No entanto, algumas urgências precisam ser viabilizadas. A primeira seria de recursos não incentivados, doações e patrocinios para auxiliar na manutenção da entidade. “Mas temos necessidades de doações financeiras ou de materiais para a reforma de algumas casas que temos dentro do Swiss Park, e que é utilizada para moradia dos atletas”, disse Luiz Marcelo.
Apesar destes obstáculos, o gerente de projetos da APC considera que a entidade atinge de maneira plena os seus objetivos, especialmente na construção da cidadania. “A principal caracteristica do esporte é resgatar a autoestima. É algo positivo, porque aquela pessoa que se vê em uma determinada deficiência, o esporte lhe dá a chance de compreender que existem outros potenciais que podem ser desenvolvidos e que vão além de qualquer deficiência”, arrematou.