Com dois rebaixamentos em um espaço de dois anos e sete meses, Diretoria Executiva comandada por Marco Antonio Eberlin colhe os frutos amargos de suas escolhas
O lateral Igor Inocêncio caiu de rendimento na reta final da Série B (Paulo Paiva-Sport Recife)
No dia 4 de novembro, a Ponte Preta perdeu de virada para o Paysandu por 2 a 1 e entrou na zona de rebaixamento no segundo turno. Escalado para entrevista coletiva, o auxiliar técnico Nenê Santana não apareceu. Veio o presidente da Diretoria Executiva, Marco Antonio Eberlin. Em um pronunciamento, sem direito a perguntas dos jornalistas, Eberlin cravou: “A Ponte Preta não vai cair”. Desde então, os fatos trataram de desmentir o discurso. Derrota de virada para o Vila Nova, goleada sofrida para o Sport anteontem e tudo ficou na base do imponderável.
Era torcer para o Santos diante do CRB e que a Chapecoense fosse derrotada pelo Coritiba. Deu tudo errado. O time alagoano venceu por 2 a 0 na Vila Belmiro, a Chape ganhou de virada, por 2 a 1, na Arena Condá, e a Ponte Preta caiu. Está na Série C de 2025. Tem 38 pontos e não pode alcançar mais ninguém. Morreu abraçada com Ituano, Brusque e Guarani. É um rebaixamento que não representa apenas o fracasso de jogadores limitados e sem inspiração, a queda da Ponte Preta é, antes de tudo, a derrota de uma visão e de uma maneira de administrar o futebol profissional no século 21.
Quando o ano começou, parecia que o presidente Marco Antonio Eberlin faria a necessária delegação de poder. Deixou nas mãos do então técnico João Brigatti a montagem do elenco para o Campeonato Paulista, com o auxílio do observador Ivo Secchi. A largada deu esperança. Ficou no Grupo B, ao lado de Palmeiras, Água Santa e do rival Guarani. Fez 17 pontos, terminou na vice-liderança e obteve classificação para as quartas de final. Ali foi emitido o primeiro sinal de que algo não estava em sintonia. A equipe foi goleada pelo Palmeiras por 5 a 1, em Barueri, em uma atuação sem qualquer resistência. Como o rival local passou sufoco para conseguir a manutenção de divisão, o discurso positivo prevaleceu.
Veio a Série B e em sete rodadas a Macaca oscilou, teve apenas uma vitória contra o Amazonas. No dia 26 de maio o primeiro baque: a derrota para o Ituano por 2 a 0 decretou a saída de João Brigatti.
Sem Executivo de Futebol ou métodos de gestão presentes em outras agremiações, o presidente Marco Eberlin tomou para si boa parte da definição do substituto e abriu as portas para Nelsinho Baptista. Eberlin atendia ao desejo do ex-presidente e ex-diretor de futebol, Pedro Antonio Chaib, o Peri, fã do trabalho do treinador.
A aposta parecia certeira. A fragilidade como visitante não foi suficiente para apagar o ótimo desempenho como mandante. A Alvinegra venceu na sequência, em casa, as equipes do CRB, Novorizontino, Ceará, Mirassol, Vila Nova e Avaí. O cartel obtido foi suficiente para terminar o turno com 26 pontos, a seis do Operário, que ficou na quarta colocação.
Pelas características da Série B, seria o momento do arranque final e das contratações que pudessem incrementar o elenco, mas nesse momento a Macaca mudou a rota. Em diversas entrevistas coletivas, o técnico Nelsinho Baptista reiterou que o mercado estava difícil e que existiam poucas opções. A visão era de que se fosse para trazer alguém do mesmo nível técnico com quem já trabalhava, o ideal seria continuar com aqueles que estavam no Centro de Treinamento do Jardim Eulina. Chegaram apenas o lateral Heitor Roca, o lateral-direito Thomás Luciano, o volante Hudson e o meia Guilherme Portuga.
PERDA DE RUMO
Ao sofrer com lesões de jogadores importantes, como o centroavante Jeh, e a queda de rendimento técnico de alguns titulares, o segundo turno tornou-se um martírio. O marco inicial foi a sequência de derrotas em casa para Operário, Chapecoense, Ituano e América-MG. Dessas quatro derrotas, duas foram para uma equipe que acabou rebaixada -O Galo de Itu- e outra para a Chapecoense, que lutou o campeonato inteiro contra a degola.
O refresco proporcionado pelo triunfo diante do Botafogo pelo placar mínimo não fez o time perder de vista a necessidade de vencer o rival Guarani. Diante de mais de 17 mil torcedores, a Macaca foi incapaz de controlar os seus nervos. Perdeu o clássico e permitiu o rival quebrar um tabu de 15 anos sem vencer no Majestoso. Foi a senha para Nelsinho Baptista pedir demissão.
A recuperação veio diante do Brusque. A vitória por 2 a 0, em casa, não escondeu a nova faceta da Macaca: uma equipe insegura, instável emocionalmente e sem repertório. A partir daí, instalou-se um roteiro macabro: derrota para o Mirassol por 3 a 0 na condição de visitante, novo resultado negativo diante do Paysandu e o apelo para o retorno de João Brigatti, que não evitou as derrotas contra Vila Nova e Sport. O pior: em três jogos, quatro expulsões deixaram a Macaca no topo da indisciplina. E no rumo da Série C. Um final triste e amargo concluído ontem com as vitórias de CRB e Chapecoense.
PASSADO E PRESENTE
Marco Antonio Eberlin teve passagem exitosa no futebol pontepretano como diretor de futebol de 1997 a 2006. Disputou a primeira divisão do Brasileiro. Revelou jogadores. Comandou o Departamento de Futebol de modo centralizado. Deu certo. Tanto que sempre recebe gratidão de treinadores e jogadores que atuaram com ele.
Eram tempos diferentes. Marco Antonio Eberlin e sua Diretoria Executiva não entenderam os novos tempos, as técnicas administrativas, a necessidade de contar com um Executivo de Futebol e com profissionais que no início do século 21 eram supérfluos. Hoje são essenciais.
Eberlin dobrou a aposta. Considerava que o modelo antigo de fazer futebol poderia vencer ou até se aliar ao moderno. O campo deu a primeira resposta em abril de 2022, quando a Ponte Preta foi rebaixada no Campeonato Paulista. Ele persistiu, insistiu e acreditou que suas ideias e métodos de gerir um time profissional seriam exitosos em 2024. O gramado deu a réplica, e a Ponte Preta está rebaixada. Cabe ao torcedor encontrar forças para levar o time ao lugar que ela merece e que nunca deveria ter saído.