Pacheco (à esquerda) ao lado das meninas do sub-15 campeãs invictas da Copa Vinhedo no último dia 11: combustível para prosseguir (Divulgação)
Ao ver as meninas que treinam levantarem a taça da Copa Vinhedo após a conquista do título de forma invicta no último dia 11, o professor Nelson José Pacheco novamente voltou atrás do seu plano de interromper um trabalho que já dura 27 anos. O cansaço e a busca constante por apoio têm levado esse caçador de talentos do vôlei campineiro a repensar frequentemente sobre o prosseguimento de sua missão. No entanto, a determinação de suas alunas sempre o reanima a continuar.
Mesmo com muito tempo de estrada no vôlei, Pacheco, aos 67 anos de idade, ainda consegue se emocionar quando vê os frutos da sua escolinha. O título da categoria sub-15 o levou a sair de sua costumeira discrição e a anunciar pelos quatro cantos o feito. Até mesmo em um programa de televisão regional ele foi parar ao lado das campeãs. A conquista veio depois de uma maratona, que começou em maio e envolveu oito equipes. Nas finais, disputadas no Ginásio Antônio Elias, em Vinhedo, a equipe superou o Clube Valinhense por 3 sets a 0 e, na decisão, fez 3 a 1 nas donas da casa.
A conquista é uma das muitas que o Projeto Vôlei Mania já obteve desde sua criação, ainda em meados dos anos de 1990, quando Pacheco fazia parte da comissão técnica do Olympikus de Campinas, time de ponta do vôlei brasileiro comandado pelo saudoso técnico Bebeto de Freitas. “Eu dava aulas na rede municipal e estadual de ensino e via, principalmente nas escolas da periferia, muitos talentos surgirem e depois não prosseguirem por falta de um espaço para poderem se desenvolver”, lembra Pacheco, referindo-se ao início do projeto. “A ideia foi dar oportunidade a essa meninada.”
As aulas começaram no Ginásio do Taquaral. A alta procura possibilitou a formação de equipes de base, que passaram a disputar competições. As atividades se estenderam ao Clube Cultura e ao Colégio Raphael Di Santo. Hoje, além dos times sub-14, sub-15 e sub-17, o projeto, basicamente voltado ao vôlei feminino, conta com 120 crianças, fora uma lista de espera com mais de 50. Por outro lado, Pacheco não viu o apoio crescer suficientemente para dar conta da demanda.
“Hoje, algumas empresas ajudam para podermos ter material e disputar competições. Mas sou eu e Deus na condução. Não há quem se prontifique a abrir mão dos finais de semana”, afirma, lembrando que as aulas acontecem aos sábados. Pacheco também lamenta a diminuição da frequência por parte das crianças da periferia. “Em uma época, eu havia conseguido passagem gratuita para o transporte dos alunos que moram longe. Depois, esse benefício foi cortado”, diz.
Ver atletas que passaram pelo projeto participando da Superliga e jogando em clubes de ponta anima Pacheco, que já busca um espaço para a atacante Alice Oliveira, de 13 anos, um dos principais destaques do time campeão em Vinhedo. “A Bruna Taverna, a Pietra Alves, a Alice Pacheco e a Isabella Mergulhano também foram muito importantes na campanha”, aponta o professor, que, por outro lado, ressalta o alto número de talentos desperdiçados. “Muitas passam da idade e, depois, não têm para onde ir e desistem.” O afeto que recebe dos alunos e de seus pais é um dos combustíveis para prosseguir. “Passando pra te agradecer por tudo que fez pelo Davi. Somos e seremos eternamente gratos”, é uma das mensagens que o professor guarda com carinho dos pais de um garoto que ajudou a encaminhar e hoje atua no time de Valinhos.
NOVA ESPERANÇA
Pacheco é daqueles que encara o trabalho de formação de atletas como uma missão. Por isso, sempre foi desafeito a buscar recursos por meio de formalizações que incluem elaboração documentada. No entanto, viu a necessidade de mudança. Com auxílio de profissionais, encaminhou recentemente ao governo federal projeto para captação de recursos por meio da Lei de Incentivo ao Esporte (LIE). E as últimas notícias são animadoras. “Recebemos a confirmação de que o projeto foi aprovado pelo governo”, diz o professor, que agora vive a expectativa de ver o Vôlei Mania seguir voos maiores. Para 2024, ele já anuncia a abertura de vagas para uma nova turma, que inclui as nascidas entre 2010 e 2013.
CONTATO
Para quem quiser participar ou apoiar o projeto Vôlei Mania, o contato do professor Pacheco é (19) 99741-5382.